Histórias de São Paulo

No Masp, um paulistano do Cambuci chamado Volpi

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Outro dia, quando a covid ainda estava mais maneira, estive na exposição do Volpi no Masp. Belo passeio. Que ainda  é possível fazer, mas somente até o final deste mês de férias.

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Para quem gosta de São Paulo, da vida nos bairros, das travessas, das praças, das avenidas, das caminhadas, Alfredo Volpi é personagem que não pode ser ignorado. Viveu no Cambuci. Volpi acompanhou a transformação da cidade ao longo do século passado. Do seu ofício de jovem marceneiro à evolução artística como um operário da pintura.

Alfredo Volpi nasceu na Itália, em 1896, veio para o Brasil com a família quando ainda era pouco mais do que um bebê, foi operário, pintou fachadas - e criou uma obra festejada pelo mundo. Morreu em 1988. Deixou nas telas o casario que observou pela cidade e paisagens do litoral paulista, Itanhaém. Imortalizou momentos íntimos da própria família, como a imagem da mulher, Benedita da Conceição, a Judith, que está na mostra.

Volpi Popular, no Museu de Artes de São Paulo, tem 96 telas. Como escreveu Antonio Gonçalves Filho, no Estadão, o curador, Tomás Toledo, conta que Volpi era ateu! Curioso. Boa parte das telas é de santos e santas.

A exposição tem toques comoventes. Revela a ousadia do artista do subúrbio paulistano em obras com personagens negros, inclusive a própria Judith! Uma beleza! E aquela "Madona com o Menino", Maria e Jesus, negros, uma têmpera de 1947?

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Volpi fazia as próprias tintas, misturava pós venenosos com água e clara de ovo, media e serrava as molduras, informações que ele deu faz anos em programa especial da TV Cultura.

Por fim, há na mostra outros detalhes que chamam a atenção. Os tons de azul e verde, das famosas bandeirolas juninas e na sereia de rabo verde, por exemplo. Os azuis profundos. Há na obra de Volpi, entre tantos traços retos, da fase concretista, certas linhas curvas, como numa obra sem título, da Pinacoteca. Ou nesta, abaixo,

 

que até lembra outro gênio que curtia o lugar onde vivia, longe daqui, em Barcelona: Joan Miró.

 

 

 

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