Na época em que Elis Regina fazia sua primeira apresentação em São Paulo, em uma boate na Praça Roosevelt, nos anos 1960, Rita Lee caminhava pelo Viaduto do Chá para chegar ao consultório do pai, o dentista Charles Jones. Anos depois, o bairro da Pompeia, onde Rita formou Os Mutantes, também foi onde os Titãs fizeram o primeiro show nos anos 80.
Palco da música brasileira, São Paulo é também casa de muitos artistas. Já imaginou conhecer os lugares que fizeram (ou fazem) parte da vida de seus cantores favoritos? Ver as paisagens que os inspiraram?
No aniversário de 471 anos da cidade, o Estadão lança “São Paulo pelos olhos de...”. A nova série traz, em vídeos, um roteiro de endereços para quem deseja passear pela capital sob a perspectiva dos artistas que passaram ou ainda vivem nela.
Do samba ao emo, do rock ao hip-hop, percorremos ruas, casas, galerias, bares e outros locais por onde passaram grandes ícones como Elis Regina, Rita Lee, Gilberto Gil, Di Ferrero e Titãs. Confira abaixo:
Caminhos do rock nos anos 80 com os Titãs
Uma banda nacional formada por nove paulistanos: foi assim que os Titãs começaram sua trajetória em 1982. Eles se conheceram no Colégio Equipe, em Higienópolis, região central de São Paulo, numa época em que bandas de rock surgiam a todo momento na cidade.
Ao Estadão, Tony Bellotto, Branco Mello e Sérgio Britto falaram sobre a conexão da cidade com a banda, que tem mais de 40 anos de estrada e hoje também conta com os músicos Mario Fabre e Beto Lee. “Tem isso do espírito da coisa, da urgência urbana, do barulho da cidade. Isso está na nossa música”, reflete Britto.
Branco Mello relembra uma das primeiras matérias sobre a banda, publicada no Jornal da Tarde em 1983. Com fotos de Antonio Lúcio, a reportagem trazia o título ‘Titãs: música para dançar com raízes paulistas’. Na época, a banda era descrita como uma “juventude urbanal transfunkcionada”.
Segundo Bellotto, eles era reonhecidos nacionalmente como uma banda paulistana. “As pessoas têm essa expectativa, com uma atitude meio de São Paulo, progressista, diferente, com referências misturadas”, diz.

Do primeiro show no Sesc Pompeia aos encontros no Clube Madame Satã, o Estadão preparou um roteiro especial para quem quer mergulhar na São Paulo roqueira dos anos 80 e reviver a história da banda.
- Biblioteca Mário de Andrade: Rua da Consolação, 94 - República
- Sesc Pompeia: Rua Clélia, 93 - Água Branca
- Praça Benedito Calixto - Pinheiros
- Madame Underground Club: Rua Conselheiro Ramalho, 873 - Bela Vista
Uma São Paulo hardcore por Di Ferrero
Franja, roupas pretas e muito sons de guitarra. Esse era um retrato comum da juventude em São Paulo no início dos anos 2000, época da ascensão do emo. A todo momento novas bandas surgiam. Uma delas é o NX Zero, banda formada por Di Ferrero, Gee Rocha, Daniel Weksler, Caco Grandino e Filipe Ricardo.
“Era um turbilhão de coisas rolando no rock em São Paulo”, conta Di Ferrero. Depois de mais de 10 anos na banda, Di iniciou a carreira solo em 2017 e lançou seu primeiro álbum solo Uma bad uma farra em 2022. De Campo Grande, o cantor mora desde os 14 anos em São Paulo e pôde testemunhar o crescimento das bandas hardcore na capital, entre encontros na Galeria do Rock, gravações no estúdio NiMBUS e shows no Hangar 110.
Mas ele não apenas vive a cidade, Di se inspira nela - principalmente à noite. “As músicas que fiz em São Paulo também são as mais obscuras, de certa forma”, diz. E acrescenta: “as músicas mais rock’n’roll do NX e minhas são daqui”.
Confira a São Paulo hardcore de Di Ferrero:
- Blue Note: Av. Paulista, 2073 - Bela Vista
- Galeria do Rock: Av. São João, 439 - República
- NiMBUS BAR & STUDiOS: R. Duílio, 35 - Lapa
- Hangar 110: R. Rodolfo Miranda, 110 - Bom Retiro

São Paulo pelos olhos de Elis Regina
Natural de Porto Alegre, a cantora Elis Regina morou por mais de dez anos em São Paulo. Foi nos anos 1960, antes de ir para o Rio de Janeiro, que ela fez suas primeiras apresentações na cidade, na boate Djalma’s, onde hoje fica o Bar Papo, Pinga e Petisco. À época, Elis tinha 19 anos e passou uma temporada cantando no local.
“Ela encontrou em São Paulo um lugar que a acolheu profissionalmente”, diz João Marcello Bôscoli, produtor e filho mais velho de Elis. Responsável pela preservação da memória da mãe, ele conta que, apesar da vida pública, Elis gostava das atividades domésticas, como fazer compras no Mercado Municipal.

“Havia um misto de ser tratada como igual, que era como ela se sentia, mas em certo momento descobriam que era a Elis Regina, a figura pública”, relembra. “Eu me lembro de uma vez ela ir para trás do balcão e começar a ajudar a pessoa a vender.”
A “pimentinha” vivia a metrópole em sua intensidade, tanto que seu espetáculo Transversal do Tempo, de 1978, trazia toda a atmosfera caótica da cidade grande. A inspiração veio quando ficou presa em um engarrafamento durante um protesto e decidiu contar sobre a solidão na rotina paulistana. Ela morou na capital até a morte, em 1982.
Gravações no Teatro Renault, compras no Mercado Municipal, passeios com Adoniran Barbosa no Bixiga: o Estadão mostra um roteiro para conhecer São Paulo pela ótica da artista:
- Teatro Renault: Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411 - República, São Paulo
- Bar Papo, Pinga e Petisco: Praça Franklin D. Roosevelt 118
- Vila Itororó: Rua Maestro Cardim 60
- Mercadão: R. da Cantareira, 306 - Centro Histórico de São Paulo, São Paulo
- Placa da Elis: Doutor Melo Alves, 668, Jardins
- Praça Elis Regina no Butantã: R. Pereira do Lago, 100
São Paulo pelos olhos de Rita Lee
A roqueira Rita Lee Jones de Carvalho tornou-se um símbolo da cidade. Nascida e criada em São Paulo, foi na capital paulista que ela cresceu, brincando nas ruas da Vila Mariana, na zona sul, e indo a piqueniques com a família no Parque Ibirapuera.
Na Pompeia, zona oeste, Rita Lee conheceu os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias e, em 1966, formaram a banda Os Mutantes, marco para o rock brasileiro. Foi também em Sampa, como chamava a cidade, que viveu os tempos sombrios da ditadura militar, como sua prisão em 1976.

Em Rita Lee: uma autobiografia, lançada em 2016 pela Globo Livros, a rainha do rock narrou essas memórias de vários cantos. ‘Conhecia Sampa de ponta a ponta, do Museu do Ipiranga à Galeria Metrópole, da Augusta a Interlagos, do Bixiga à Praça da Sé’, escreveu a cantora. No primeiro roteiro da série, mostramos os lugares da infância, da juventude e da vida de muito rock de Rita Lee, que morreu em 8 de maio de 2023.
O Ibirapuera, um de seus tantos pontos preferidos, foi onde ocorreu seu velório. Para homenagear a cantora, a Prefeitura sancionou o projeto de Lei que deu o nome dela à Praça da Paz, que fica no parque.
Conheça lugares marcantes da cantora por meio desse roteiro:
- O Casarão: Rua Joaquim Távora, 670, Vila Mariana
- Casa dos Mutantes: Rua Venâncio Aires, 408, na Pompeia
- Viaduto do Chá, no centro
- Consultório do pai: Rua Xavier de Toledo, 98, República
- Encontros com Caetano Veloso e Gilberto Gil: Avenida São Luís
- Piqueniques com a família: Parque Ibirapuera