Como é a tecnologia de construção do túnel entre Santos e Guarujá

Conexão é demanda da população há 100 anos. Método construtivo escolhido é inédito no Brasil e não envolve perfuração. Edital de licitação será lançado nesta quinta, 27, pelo presidente Lula e o governador Tarcísio de Freitas

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Foto do author Giovanna Castro
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Nesta quinta-feira, 27, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), participam juntos do evento de lançamento do edital de licitação para a concessão da obra e futura operação do túnel Santos-Guarujá, o primeiro submerso no Brasil. O leilão está previsto para 1º de agosto e a entrega do túnel, idealizado há cerca de 100 anos, para 2031.

A obra é estimada em R$ 6 bilhões e utilizará um método construtivo em que as peças de concreto serão feitas para flutuar pelo estuário de Santos, afundar no local exato do túnel, e então serem aterradas (veja no infográfico mais abaixo). Os recursos são provenientes do Estado, do setor privado e da União, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O ponto de conexão entre as duas cidades na Baixada Santista é uma demanda recorrente da população local, de turistas e transportadoras. A gestão Tarcísio de Freitas preferiu construir o túnel, descartando a segunda alternativa, que seria uma ponte. O transporte de pessoas é o principal objetivo da construção, mas também será possível a passagem de caminhões de carga, atendendo à demanda do porto de Santos.

Trânsito de carros, pedestres e ciclistas é intenso entre Guarujá e Santos, no litoral paulista. Há, ainda, fluxo logístico ligado ao porto de Santos. Foto: Felipe Rau/Estadão

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“O local de travessia foi o apontado pelos estudos de demanda, que caracteriza as viagens de desejo entre as duas margens, tanto para o atendimento do tráfego urbano, quanto para veículos comerciais. Nesse ponto ideal, a gente não pode fazer ponte, porque tem restrição de gabarito mínimo para passagem de navios”, explica Raquel Carneiro, diretora do projeto do túnel pela Companhia Paulista de Parcerias (CPP), em entrevista ao Estadão.

O túnel deve começar no bairro do Macuco, entre as ruas José do Patrocínio e Conselheiro Rodrigues Alves, em Santos, e chegar em Vicente de Carvalho, na região da rua Guilherme Guinle, no Guarujá. Nas duas extremidades, haverá pedágio e um prédio para acesso de pedestres, ciclistas e passageiros do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que também passará pelo túnel (veja mais abaixo como será a composição).

“O critério de julgamento da licitação será o maior desconto sobre a contraprestação pública máxima (inicialmente fixada em R$ 269,7 milhões ao ano), garantindo maior eficiência e benefício à população”, afirma a Secretaria de Parcerias em Investimentos do Estado (SPI).

A concessionária será remunerada por meio da tarifa de pedágio, contraprestação pública, aporte público e receitas acessórias, conforme a SPI. A concessão terá prazo de 30 anos, incluindo a construção, operação e manutenção do sistema.

A diretora do projeto ainda afirma que no primeiro ano de concessão (2026) devem ser retiradas as devidas licenças ambientais e cumpridas outras exigências técnicas. Os quatro seguintes são para a construção do túnel e, assim, a conclusão e o início da operação fica para 2031.

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Como será o túnel Santos-Guarujá?

O túnel terá 1,5 quilômetros de extensão, sendo 870 metros submersos a uma profundidade de 21 metros. Dentro dele, serão três segmentos: dois para carros, vans, motocicletas, ônibus e caminhões - um em cada sentido - e um exclusivo para Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), pedestres e ciclistas.

A expectativa é de que a travessia possa ser feita em poucos minutos - dois, se desconsiderados congestionamentos. Hoje, mais de 21 mil veículos, 7,7 mil ciclistas e 7,6 mil pedestres cruzam diariamente as margens entre Santos e Guarujá utilizando balsas e catraias, conforme o governo do Estado. Por esses meios, a travessia leva entre 18 e 60 minutos, a depender da quantidade de carros.

O pedágio para utilizar o acesso custará R$ 6,15 para automóveis de categoria B (carros e caminhonetes) e terá dois pontos de cobrança, um em cada extremidade do túnel. Por balsa, o trajeto custa R$ 12,30 para automóveis categoria B. A população continuará tendo a balsa como alternativa de transporte.

Método construtivo

De acordo com Raquel, as características do solo subaquático de Santos dificultam a construção de túnel por perfuração, o que levou o governo do Estado a escolher um método emergente, no qual as peças do túnel são imersas. A tecnologia é inédita no Brasil, mas já utilizada na Holanda, Alemanha, Dinamarca, Estados Unidos, entre outros países.

“Santos tem um solo bastante mole e, por isso, para ter estabilidade suficiente (pelo método de escavação), nós teríamos que fazer um túnel a pelo menos 80 metros de profundidade do fundo do estuário. Isso faria com que o túnel fosse muito maior, com um impacto muito maior tanto em Santos quanto no Guarujá, em termos de desapropriações e aumento do trajeto”, explica a diretora do projeto.

Sem demandar perfuração, no método escolhido, os engenheiros escavam uma vala ao fundo do estuário onde ficará o túnel. Paralelamente, constroem peças de concreto com bolsas internas cheias de ar, totalizando uma densidade menor que a da água do estuário. Essas peças conseguem, então, flutuar até o local do túnel.

Após posicionar o fragmento de túnel sob a vala, a equipe de engenharia injeta água nas bolsas internas e, com o aumento do peso, as peças afundam até o fundo do estuário. Depois, são conectadas e aterradas. Por cima, a atividade de navios permanece a mesma.

São Paulo foi o primeiro a anunciar e aprovar a construção de um túnel submerso no País. Mas o método também deverá ser aplicado por Santa Catarina no projeto de mega túnel de ligação de 11 municípios. Conforme mostrou o Estadão, a proposta catarinense teve os estudos técnicos concluídos e estão sendo elaborados os projetos básicos.

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Correções

O valor da tarifa de pedágio prevista para o túnel é de R$ 6,15 e não R$ 6,25, como foi escrito na primeira versão do texto.

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