Condenados 14 por morte de agricultor em Pernambuco

Após cinco dias de julgamento, acusados foram condenados a 18 anos de prisão; um foi absolvido

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Cinco policiais militares e nove vigilantes e funcionários da Usina Santa Tereza, de propriedade do Grupo João Santos, foram condenados, por unanimidade - sete votos a zero - a 18 anos de prisão pelo homicídio do agricultor Luiz Carlos da Silva e por tentativa de homicídio contra outros 13 trabalhadores rurais, no dia 4 de novembro de 1998. A sentença foi dada na noite deste sábado, 29, pela juíza substituta da 1ª Vara do Júri, Marylúsia Feitosa, cinco dias depois do início do maior julgamento da história de Pernambuco, tanto em número de réus quanto em tempo de duração.   Apenas um dos 15 réus foi absolvido, a pedido do Ministério Público de Pernambuco - o administrador da usina, José Soares. Os advogados dos condenados apelaram da sentença e entrarão com recurso no Tribunal de Justiça de Pernambuco.   "Foi uma vitória da sociedade, da cidadania, contra a violência do latifúndio", afirmou o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco (Fetape), Aristides Santos. "A decisão mostra que é possível se combater a impunidade".   Na sua avaliação, as condenações representam um recado para o "empresariado atrasado do campo", onde "o caminho é o diálogo e não a força", e para a Polícia Militar, para mostrar que "o papel da PM é o da segurança pública e não o de se confundir com as milícias privadas como ocorre no interior pernambucano".   Para o promotor André Rabelo, o resultado foi "o melhor possível". "O júri acatou 100% dos pedidos do Ministério Público, conseguimos comprovar tecnicamente a participação dos réus em todos os crimes".   O crime que originou o júri ocorreu durante uma greve de canavieiros na Zona da Mata pernambucana. Grevistas ligados aos sindicatos rurais de Goiana e Condado - município vizinho - foram a pé ao engenho Terra Rica, da Usina Santa Tereza, para convencer os trabalhadores a suspender os trabalhos. No caminho foram surpreendidos por um bloqueio montado na estrada por PMs e vigilantes armados. Houve tiroteio e Luiz Carlos da Silva, então com 27 anos, foi morto com um tiro na nuca. Outros 13 ficaram feridos.   Marcelo Renato da Silva, capitão - depois promovido a major - da PM, e o chefe de segurança da Usina, Sylvio Claudio Coutinho Frota, foram condenados por terem planejado o bloqueio e fornecido as armas aos demais réus, que foram condenados, por sua vez, por terem efetuado disparos. José Soares foi absolvido porque não portava arma e apenas pegava uma carona com os outros réus no momento do incidente.   Marcelo Renato da Silva cumprirá pena em um batalhão da PM. Os soldados foram levados para o Centro de Reabilitação Educacional e Disciplina da Polícia Militar (Creed) e os outros nove réus foram levados para o Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), na região metropolitana.

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