Saiba qual é o modelo do avião de pequeno porte que caiu na Barra Funda, em SP

Acidente na Avenida Marquês de São Vicente matou duas pessoas e deixou seis feridos; queda ocorreu logo após decolagem no Aeroporto do Campo de Marte, na zona norte

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Foto do author Renata Okumura
Atualização:

O avião de pequeno porte que caiu na Avenida Marquês de São Vicente, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, na manhã desta sexta-feira, 7, era um modelo King Air F90 da fabricante Beech Aircraft, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As duas pessoas que estavam a bordo morreram no local. Outras seis pessoas que estavam na via ficaram feridas - as escoriações foram leves, segundo o Corpo de Bombeiros.

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A proprietária do avião é a Máxima Inteligência Operações Estruturadas e Empreendimentos Ltda, conforme consta no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB). A data de compra que aparece no documento é 11 de novembro de 2024.

A aeronave de matrícula PS-FEM tem situação regularizada para serviço aéreo privado, mas não é autorizada para serviço de transporte remunerado. O Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) tem validade até 9 de dezembro deste ano.

Fabricado em 1981, o modelo tem capacidade para oito pessoas. É um bimotor turboélice e tem cabine pressurizada, com peso máximo de decolagem de 4.967 kg. Esse avião é da família de bimotores de pequeno/médio porte de alta performance para uso executivo.

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Os motores são fabricados pela Pratt & Whitney, com velocidade máxima de 490 km/h. O King Air 190 foi incluído na linha de aeronaves da norte-americana Beechcraft em 1979.

A aeronave decolou do Aeroporto Campo de Marte, na zona norte, por volta das 7h15. Conforme informações iniciais, o avião caiu logo em seguida, quando o piloto tentava fazer um pouso forçado. O voo tinha como destino Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Um avião de pequeno porte caiu na Avenida Marquês de São Vicente, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, na manhã desta sexta-feira, 7. Foto: Werther Santana/Estadão

Após a queda, restos de combustível se espalharam e um ônibus que estava na via também pegou fogo.

Os dois mortos, que ficaram carbonizados, eram os ocupantes da aeronave. Um deles era o advogado Márcio Louzada Carpena, de 49 anos, de Porto Alegre. O piloto Gustavo Medeiros também não sobreviveu.

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Os cinco feridos, entre eles uma idosa, estavam no ponto de ônibus. Um motociclista que passava pelo local também se machucou — os seis tiveram ferimentos leves e foram atendidos.

Investigadores do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA IV), órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), em São Paulo, foram acionados para realizar o registro da ocorrência.

Processo de vistoria

A aeronave que se acidentou na Barra Funda passava por um processo de vistoria junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O trâmite foi realizado por um profissional credenciado pelo órgão e, depois, passou por revisão da agência que apontou três “não conformidades”, e confirmou que o avião estava apto a voar.

Na quinta-feira, 6, um dia antes da queda, a Gerência Técnica de Operadores Aéreos em Aeronavegabilidade Continuada (GTOA) notificou o profissional parceiro responsável pela vistoria feita na aeronave matrícula PS-FEM a respeito de necessidade de adequação de três pontos. Especialistas ouvidos pelo Estadão, no entanto, explicam que esses apontamentos não indicam falhas operacionais com relação com o acidente, mas sim parâmetros que devem ser adequados aos padrões previstos na aviação.

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A primeira não conformidade referia-se a informações divergentes entre Laudo de Vistoria e a tela da estação quanto ao equipamento ADC (computador de dados aéreos), que carrega informações sobre o voo. O laudo da vistoria apontou ainda ser “necessária verificação de não aplicabilidade de limpadores de parabrisas declarados como instalados”. A terceira não conformidade aponta a possível falta de instalação de modelos de descongeladores elétricos de hélice.

A vistoria técnica foi feita entre os dias 9 e 12 de dezembro e a análise dos documentos e processos seguiu até o dia 6 de fevereiro, quando foi feita a comunicação formal ao responsável pela vistoria. Foi dado prazo de cinco dias para a resposta, após o qual o avião ficaria sujeito a providências administrativas, inclusive a cassação da licença para voar. O Estadão tentou contato com o profissional, mas não obteve resposta.

De acordo com o especialista em aviação Maurício Pontes, a vistoria identifica as não conformidades – quesitos que não atendem às especificações para o modelo – e dá prazo para a correção. No caso do King Air acidentado, a Anac declarou que a aeronave estava “aeronavegável”, ou seja, sem pendências que implicassem em restrição ao uso do avião.

Em nota, a Anac informou que enviou na quinta-feira, 6, comunicado ao Profissional Credenciado em Aeronavegabilidade (PCA) responsável por atestar a conformidade do equipamento no momento de sua importação dos Estados Unidos, em 24/11/2024. “Esta vistoria, que é um procedimento de segurança, garante que determinada aeronave está de acordo com seu projeto original”, diz a agência.

Ainda segundo a Anac, de acordo com padrões internacionalmente aceitos para a aviação civil, o PCA é um profissional de notória especialização, para expedição de laudos, pareceres ou relatórios que demonstrem o cumprimento dos requisitos necessários à emissão de certificados ou atestados relativos às atividades de sua competência. “Coube a esse profissional enviar à Anac os documentos comprobatórios da vistoria para liberação do Certificado de Aeronavegabilidade (CA) no Brasil.” / COLABORARAM PAULA FERREIRA E JOSÉ MARIA TOMAZELA