SÃO PAULO - Um policial militar de folga atirou nesta quarta-feira, 4, em uma militante do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) durante passeata do grupo em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. Ele tentou furar o bloqueio dos manifestantes na Rodovia Armando Salles. Atingida na barriga, Edilma Aparecida Vieira dos Santos, de 36 anos, passou por cirurgia nesta quarta e seu estado de saúde era considerado estável. O PM, Robson Vieira do Nascimento, de 32 anos, foi preso em flagrante por tentativa de homicídio.
Edilma vive com a mãe e dois filhos na ocupação João Goulart, instalada há um mês no bairro Valo Velho. Nesta quarta, cerca de 500 pessoas, segundo o MTST, marchavam do acampamento até a prefeitura de Itapecerica da Serra, onde reivindicariam a permanência no terreno. O protesto seguia pela Rodovia Armando Salles e bloqueava um sentido da via. Na altura do Cemitério Parque dos Ipês, o grupo optou por tomar os dois sentidos da pista.
“Um carro apareceu e tentou furar o bloqueio. Fizemos um cordão humano para impedir o avanço do carro e pedimos calma ao motorista. Ele começou a gritar ‘sai, sai’ para nós e disse que iria nos matar. Então jogou o carro na manifestação e saiu pela contramão, em alta velocidade. Do carro, ele deu um tiro, que acertou a Edilma na barriga”, contou o militante do movimento Ricardo Justino dos Santos, que prestava apoio ao ato.
Os próprios manifestantes filmaram os instantes depois do tiro e conseguiram fazer imagens do carro. Assim, foi possível anotar a placa do automóvel, um Corsa preto. A informação foi passada pelos ativistas à Polícia Militar, que passou a fazer buscas na região. Cerca de dez minutos após o contato, o veículo foi localizado. Nele, estava o soldado Nascimento, que foi detido.
A arma usada pelo PM para, segundo a polícia, tentar matar a manifestante é sua pistola .40, fornecida pelo Estado. Ela foi apreendida e o soldado acabou levado à Delegacia de Polícia de Itapecerica. Em nota, a Secretaria de Estado da Segurança Pública informou que o policial estava de folga e seria transferido para o Presídio Romão Gomes, que abriga policiais militares.
Depois do disparo, a marcha se dividiu. Um pequeno grupo acompanhou Edilma até o Pronto-Socorro Municipal da cidade, onde passou por cirurgia para a retirada da bala. Outro grupo seguiu para a delegacia. A maior parte dos manifestantes, porém, foi na direção da prefeitura. No fim da tarde, cerca de 50 manifestantes também seguiram para a delegacia, onde clamaram por “justiça”, aos gritos.
‘Lamentável’. O coordenador do MTST, Guilherme Boulos, que também esteve na delegacia, classificou o episódio como “lamentável”. “Uma pessoa que exercia seu direito de livre manifestação foi agredida justamente por exercer esse direito”, disse.
O delegado Marcelo Santos Silva, que registrou o caso, afirmou que o policial militar declarou ter sido acuado pelos manifestantes durante uma confusão. Segundo o agente, o disparo teria acontecido de forma acidental.
