Operação prende policiais por suspeita de elo com o PCC

Ação conjunta da PF e do MP-SP, realizada nesta terça, 17, mira organização criminosa envolvida em corrupção policial e lavagem de dinheiro. Delegado citado por delator morto é um dos alvos

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Foto do author Renata Okumura
Foto do author Ítalo Lo Re
Atualização:

Uma operação policial da Polícia Federal e do Ministério Público prendeu um delegado e três policiais civis de São Paulo suspeitos de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Um policial segue foragido. Foram apreendidos ainda dinheiro, joias e armas nos endereços dos alvos.

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O Estadão apurou que entre os presos está o delegado Fábio Baena, além dos investigadores Eduardo Lopes Monteiro, Marcelo Ruggieri e Marcelo Bombom. O policial Rogério de Almeida Felício, também alvo, está foragido. Além deles, a operação ainda prendeu quatro pessoas apontadas como responsáveis pela lavagem de dinheiro da facção, incluindo o advogado Ahmed Hassan Saleh, vulgo Mude.

A defesa de Baena e Lopes Monteiro afirmou, em nota, que a prisão dos dois se constitui em “arbitrariedade flagrante”. Já a defesa de Saleh disse que está tomando as medidas judiciais cabíveis para revogar prisão temporária. O advogado Anderson Minichillo, que representa Ruggieri, disse que a defesa ainda não teve acesso aos autos e aos motivos da decretação da prisão (leia mais abaixo).

Conforme o Ministério Público do Estado de São Paulo, o objetivo da ação desta terça-feira é desarticular uma organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro e crimes contra a administração pública (corrupção passiva e ativa). A ação é resultado do cruzamento de diversas investigações sobre o PCC e consequência da delação de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, executado no começo de novembro em plena luz do dia no Aeroporto de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo.

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Armamento apreendido pela PF em operação contra o PCC Foto: Divulgação/Polícia Federa

Baena e Lopes Monteiro atuaram no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. Eles foram responsáveis por investigar Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, delator do PCC. Ambos são citados na delação dele ao Ministério Público.

Áudio revelado pelo Estadão pouco após a execução traz a conversa entre o delator e dois homens identificados como agentes do DHPP, que seriam justamente Baena e Lopes Monteiro. A gravação teria sido feita por Gritzbach enquanto ele era investigado pelo assassinato do traficante Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, e seu segurança Antonio Corona Neto, o Sem Sangue.

No meio do áudio, uma pessoa identificada como Baena promete ajudar o delator do PCC: “Na audiência, eu já falei, se precisar de mim, a gente vai conversar com o advogado. Eu te ajudo lá, fica tranquilo.” Para a defesa do acusado, o áudio era um indício de que os policiais sabiam que estavam acusando Gritzbach injustamente, a fim de proteger os verdadeiros culpados pela execução.

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Ao todo, 130 policiais federais cumprem oito mandados de prisão e 13 de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Bragança Paulista, Igaratá e Ubatuba. A operação conta com apoio da Corregedoria da Polícia Civil do Estado de São Paulo.

“A investigação partiu da análise de provas que foram obtidas em diversas investigações policiais que envolveram movimentações financeiras, colaboração premiada e depoimentos. Tais elementos revelaram o modo complexo que os investigados se estruturaram para exigir propina e lavar dinheiro para suprir os interesses da organização criminosa”, acrescenta a Polícia Federal.

Segundo o MP, a denominação da operação (Tacitus) vem do significado, em latim, para silencioso ou não dito. É uma alusão à suposta forma de atuar da organização criminosa.

Os investigados, de acordo com suas condutas, podem responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e ocultação de capitais, cujas penas somadas podem alcançar 30 anos de reclusão.

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À frente da defesa de Baena e Lopes Monteiro, o escritório Bialski Advogados Associados afirmou, em nota, que a prisão dos dois se constitui em “arbitrariedade flagrante”. “Ambos compareceram espontaneamente para serem ouvidos e jamais causaram qualquer embaraço às repetidas investigações”, disse.

O advogado Anderson Minichillo, que representa Ruggieri, disse que a defesa ainda não teve acesso aos autos e aos motivos da decretação da prisão. “Tão logo a defesa tenha acesso aos fundamentos da prisão, irá se manifestar. Mas, de antemão, acha prematuro o decreto de prisão”, afirmou ao Estadão. A reportagem tenta contato com a defesa dos outros alvos da operação.

Já a defesa de Saleh disse que está tomando as medidas judiciais cabíveis para revogar prisão temporária. “Ao mesmo tempo em que, de um lado, buscam criminalizar a pessoa do advogado por fatos supostamente praticados por seus clientes, de outro, insistem em trazer como ‘novos’ fatos que já foram apurados e esclarecidos pela Justiça, ou seguem em apuração”, disse, em nota enviada à reportagem.

COMBO: Dinheiro e joias apreendidas em operação da PF contra policiais suspeitos de envolvimento com o PCC Fotógrafo/criador Divulgação/Polícia Federal Foto: Divulgação/Polícia Federal