Após 6 anos, Araras deixa de mandar esgoto sem tratar para o rio Mojiguaçu

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Por José Tomazela

Depois de seis anos mandando esgotos para o rio Mojiguaçu, um dos mais belos mananciais do interior paulista, a prefeitura de Araras conseguiu um importante avanço no saneamento básico do município. Exames realizados esta semana nos efluentes tratados mostraram eficiência de 81,73% na redução na demanda bioquímica de oxigênio (DBO), principal indicativo da poluição por esgotos. O valor está acima dos 80% exigidos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cesteb).

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Desde julho de 2021, a cidade adota um sistema alternativo de tratamento que utiliza micro organismos autóctones (produzidos na própria Estação de Tratamento de Esgoto) para decompor a matéria orgânica. O sistema é eficiente e de custo menor. Os testes mostraram que o tratamento começa a refletir na qualidade das águas do ribeirão Arary, que recebe o esgoto tratado e deságua no Mojiguaçu. O córrego voltou a registrar a presença de peixes. Consequentemente, o ribeirão deixou de contribuir para a poluição do rio. Estão sendo tratados 350 litros de esgoto por segundo, volume equivalente ao de mil caminhões-pipa por dia.

PROTESTO - O tratamento de esgotos de Araras tem um histórico de problemas. Em 2010, a antiga estação já apresentava deficiências. Dois anos depois, foi realizada licitação para reformar e ampliar a estação, mas em 2014 a empresa vencedora desistiu da obra. Em 2015, o desmoronamento dos reatores parou totalmente o tratamento e também inviabilizou a recuperação da ETE. Foi, então, iniciado processo para construção de uma nova estação. Em 2018, por exigência do órgão financiador, o projeto foi readequado. Com a pandemia, a obra sofreu novo atraso. Em 2020, o município optou por executar um sistema alternativo paralelamente às obras da nova estação.

No segundo semestre do ano passado, o Serviço de Água e Esgoto do Município de Araras (Saema) chegou a ficar sob intervenção judicial por descumprir um acordo celebrado com o Ministério Público em 2010, pelo qual se obrigava a melhorar o tratamento do esgoto produzido pela cidade.

Lagoa de tratamento de esgoto em Araras. Foto Prefeitura de Araras/Divulgação.  

A medida foi tomada após um protesto dos moradores de Leme, cidade vizinha, inconformados com a poluição causada no Mojiguaçu pelos esgotos de Araras. Em Leme, os esgotos são tratados. Conforme a organização social SOS Mogi, que organizou a manifestação, várias mortandades de peixes foram registradas abaixo da foz do Ribeirão Arary, ponto de lançamento do esgoto. Na época, a Cetesb aplicou multas de R$ 410 mil ao município pelo lançamento de esgotos in natura no manancial.

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Estado com os melhores indicadores de saneamento básico do país, São Paulo tem 98,6% da população com atendimento de água, 91,7% com afastamento de esgoto, mas apenas 64,6% do esgoto produzido é tratado. O grande volume de dejetos sem tratamento acaba indo poluir rios e outros mananciais. Em 2021, o governo de São Paulo aprovou a criação de unidades regionais de saneamento básico no estado para atingir a meta de universalizar os serviços de água e esgoto, inclusive o tratamento, até 2033.

CACHOEIRA - O Rio Mojiguaçu, também grafado como Mogi-Guaçu, nasce no lado mineiro da Serra da Mantiqueira, em Bom Repouso, e banha a região central e nordeste do estado de São Paulo, até desaguar no Rio Pardo, afluente do Rio Grande, um dos formadores do Rio Paraná. O rio atravessa as zonas urbanas de Mogi Guaçu, Porto Ferreira, Pirassununga e Leme, banhando ainda os municípios de Santa Rita do Passa Quatro, Descalvado, São Carlos, Guatapará e Barrinha. Em Pontal, já com 350 m de largura, ele se junta Pardo. Em Pirassununga, o Mojiguaçu forma a Cachoeira das Emas, importante atração turística, no distrito do mesmo nome.

Cachoeira das Emas, atração do Mojiguaçu. Foto Prefeitura de Pirassununga/Divulgação.  
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