A Secretaria de Justiça e Cidadania (SJC), órgão que iniciou em setembro do ano passado o projeto de transferência do governo estadual para os Campos Elíseos, região central, adiou a mudança completa de seus servidores. O prazo passou de março para dezembro deste ano.
O motivo são “adequações nos sistemas elétrico, hidráulico e de climatização” que serão feitas no edifício histórico, localizado na Avenida Rio Branco e que abrigava o Museu das Favelas. A pasta evita usar o termo “reforma” para as intervenções, que estão em fase de licitação.

“Para assegurar o pleno funcionamento de todas as áreas, a SJC está promovendo adequações essenciais nos sistemas elétrico, hidráulico e de climatização do edifício. Essas intervenções não configuram uma reforma, mas ajustes necessários para atender às demandas operacionais do órgão”, diz a secretaria por meio de nota ao Estadão.
Desde setembro de 2024, a secretaria está instalada no palácio com cerca de 60 servidores. Entre as áreas estão os gabinetes do secretário, secretário executivo, chefia de gabinete, assessorias técnicas e coordenadorias. Os outros 140 servidores trabalham no prédio administrativo do Pátio do Colégio.
A mudança de endereço dos servidores da Justiça, pasta mais antiga do governo estadual, criada em 1892, foi o primeiro passo do projeto do Centro Administrativo dos Campos Elíseos, que reunirá todas as secretarias e diversos órgãos da administração estadual na mesma região da capital. A iniciativa é uma das principais promessas de campanha do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Com investimentos de R$ 4 bilhões, a ação pretende revitalizar o centro a partir do aumento do fluxo de pessoas e reduzir custos, de acordo com o poder estadual. A expectativa é que 22 mil funcionários passem a circular pela região.
Nos últimos anos, o centro vem vivendo um período de decadência, com o espalhamento dos usuários de drogas da Cracolândia e a recorrência de roubos e furtos. Além disso, a pandemia motivou o fechamento de lojas e restaurantes e a alta de moradores de rua, incluindo famílias inteiras.
Entre os urbanistas, parte vê a chance de revitalizar a região, com atração de mais comércio e escritórios, além da ocupação por meio da moradia. Outros especialistas veem risco de gentrificação, com alta do custo de vida e exclusão urbana.
Cronograma de mudança do governo não muda, diz secretaria
Conforme representantes da Secretaria da Justiça, o cronograma geral do centro administrativo segue inalterado, pois a “construção do novo Centro encontra-se em fase de elaboração de projetos que estão em curso para a licitação global”.
Parte do Programa de Parcerias de Investimentos do Estado, coordenado pelas secretarias de Projetos Estratégicos e de Parcerias em Investimentos, o projeto está na fase de estudos de viabilidade e modelagem para a futura concessão.
O edital da PPP será publicado ainda no 1º semestre, seguido por um leilão para escolher a concessionária responsável pela construção, manutenção e operação do complexo. A assinatura do contrato está prevista para o fim deste ano.
Projeto arquitetônico prevê esplanada e transferência do terminal de ônibus
O projeto arquitetônico foi escolhido após concorrência pública promovida pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB São Paulo). A ideia vencedora foi elaborada pelos arquitetos Pablo Chakur e Fernanda Ferreira, do escritório Ópera Quatro Arquiteto.
Chakur e Ferreira propuseram uma esplanada – área plana, larga e extensa – para abrigar órgãos que estão hoje no Palácio dos Bandeirantes e em dezenas de endereços pela cidade. Serão 450 mil m², com edifícios para 28 secretarias e 36 órgãos estaduais, além de áreas verdes, subsolos e áreas comuns na região da Praça Princesa Isabel.
As construções terão a fachada ativa, com o térreo compartilhado por comércios e serviços, para tentar movimentar o centro após o fim do expediente de trabalho. O projeto também prevê a transferência do Terminal Princesa Isabel para um endereço ainda não divulgado.
O projeto deve englobar o quadrilátero formado pela Av. Duque de Caxias, as alamedas Dino Bueno, Ribeiro da Silva e Barão de Limeira.
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Tarcísio terá dois gabinetes. O Palácio dos Bandeirantes será mantido como residência oficial do governador e sede do acervo artístico-cultural. Algumas secretarias mais próximas do governador, como Comunicação, Casa Militar e Casa Civil, permanecem no Morumbi.
O plano é de médio prazo. A fase de audiências públicas para discussão do projeto deve começar ainda este mês. A escolha da empresa que vai construir, administrar e explorar comercialmente o complexo de edifícios está prevista para o 2º semestre deste ano.
Projeto encontra desafios na área da habitação
A promessa de revitalizar os Campos Elíseos enfrenta desafios na área da habitação. Segundo o Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (LabCidade), o projeto pressupõe demolir edifícios em ao menos cinco quadras, ocupadas hoje por cerca de 800 pessoas, segundo dados do Censo do IBGE de 2022.
Basicamente, são as quadras do entorno do parque Princesa Isabel, que será a principal referência da esplanada.
“Não há no projeto nem no edital do concurso menção a respeito do destino destes moradores (do entorno do Parque Princesa Isabel)”, diz nota técnica do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (LabCidade).

De acordo com a União dos Movimentos de Moradia (UMM), o governo pretende retirar as famílias que vivem nas ocupações do centro, principalmente nas ruas Guaianases, Duque de Caxias, Moinho e não apresentou alternativa para famílias de baixa renda.
O governo, por sua vez, afirma que serão construídos 230 imóveis ao custo de R$ 500 milhões em indenizações ou projetos habitacionais. A proposta também prevê construir habitações de médio padrão e de interesse social no entorno do complexo administrativo.