
A Corregedoria da Polícia Militar prendeu nesta quinta-feira, 16, quinze policiais militares por suspeita de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Um deles é suspeito de executar o delator da facção, Antonio Vinicius Gritzbach, no Aeroporto de Guarulhos, em novembro de 2024. Os demais são apontados como parte de um esquema irregular de escolta do delator.
Para o especialista em segurança pública Rafael Alcadipani da Silveira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as revelações são preocupantes. “É mais um sinal de que a sociedade não acordou para o grau de infiltração do crime organizado. Tanto nas instituições do Estado quanto na sociedade”, disse ao Estadão.

Ele elogia a iniciativa da corporação de fazer essa investigação interna, mas defende aprofundar as investigações, rastreando o dinheiro do crime por meio de evoluções patrimoniais suspeitas. “São coisas que estão acontecendo há muito tempo e a gente está deixando isso acontecer”, alerta Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Leia os principais trechos da entrevista:
Como o senhor avalia a revelação de um elo da PM de São Paulo com o crime organizado?
É extremamente preocupante. É mais um sinal de que a sociedade não acordou para o grau de infiltração do crime organizado. Tanto nas instituições do Estado quanto na sociedade. Imaginar que uma pessoa é morta no maior aeroporto da América do Sul, à luz do dia, e o executor disso é um agente da força de segurança. Isso é preocupante, mais ainda quando se tem por trás uma organização criminosa. Por outro lado, é muito bom que a Polícia Militar esteja fazendo uma depuração interna.
Policiais militares servindo a uma organização criminosa é um fato novo na polícia paulista?
Não dá para dizer que isso acontece em toda a instituição. Não pode jogar o bebê com a água do banho. O fato de o delator ter sido morto no aeroporto chamou a atenção e fez com que a polícia tivesse de agir. Mas essas coisas não acontecem da noite para o dia. São coisas que estão acontecendo há muito tempo e a estamos deixando isso acontecer. O outro lado da história é a baixa remuneração dos policiais e suas péssimas condições de trabalho. Isso torna o policial presa fácil para o crime organizado.
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Quais são os riscos dessa cooptação e o que precisa ser feito para coibir a infiltração do crime organizado na polícia?
É um risco imenso para a segurança pública. Precisamos de medidas mais completas e profundas para que a gente comece a enfrentar o PCC e outras organizações criminosas, sobretudo dentro das forças de segurança. Precisamos de uma articulação nacional, pois não é coisa só de São Paulo. Além de uma troca de informações mais ágil entre as polícias estaduais, a Polícia Federal e as Forças Armadas, que agem sobretudo nas fronteiras, é preciso pensar em uma legislação específica para combater o crime organizado.
É preciso investigar o patrimônio dessas pessoas que não têm como comprovar a origem, bloquear esses bens e inverter o ônus da prova. A pessoa tem de provar a origem. O sujeito ganha R$ 10 mil por mês, tem patrimônio de R$ 20 milhões e está numa força de segurança, num serviço da Justiça. Esse patrimônio é incompatível.