O tenente Fernando Genauro da Silva, preso em janeiro e agora indiciado por dirigir o carro usado na execução do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) Antônio Vinicius Gritzbach, comprou um carro da marca Audi, modelo g3, e tirou uma foto segurando um malote de dinheiro no volante do veículo poucos dias após o crime, conforme o Ministério Público de São Paulo (MPSP).
A informação foi divulgada em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 17. O MPSP acusa Genauro e mais cinco pela morte do delator, em 8 de novembro de 2024, no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. A defesa do tenente e dos outros cinco indiciados não foram encontradas pela reportagem.

“Isso (a comprovação sobre a compra do carro e a foto tirada pelo tenente) só é mais um elemento que comprova o motivo torpe em relação a ele”, afirmou Vania Caceres Stefanoni, promotora de justiça da comarca de Guarulhos.
“Em relação aos policiais militares, o motivo é torpe porque eles então praticaram o crime mediante a promessa de recompensa.”
O Estadão já havia apontado que Genauro era amigo de Gritzbach, frequentava a sua casa e conhecia o filho do delator. Para o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), o tenente traiu a confiança do empresário que lavava dinheiro para o PCC.
O tenente foi identificado com base em dados de geolocalização, que o colocaram na cena do crime após a polícia receber uma denúncia contra ele. Ele é suspeito de dirigir o carro que levou o cabo Denis Antônio Martins e o soldado Ruan Silva Rodrigues, ambos supostos atiradores, até o aeroporto na data do crime.
Os policiais militares teriam sido contratados pelos traficantes do PCC Emílio Carlos Gongorra Castilho, vulgo Cigarreira, e Diego dos Santos Amaral, conhecido como Didi, que visavam vingança contra Gritzbach. Os dois homens estão foragidos e possivelmente se escondendo dentro de comunidades no Rio de Janeiro.
Quem era o delator do PCC
Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, de 38 anos, estava no centro de uma das maiores investigações feitas até hoje sobre a lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo, envolvendo os negócios da facção na região do Tatuapé, zona leste paulistana.
Sua trajetória está associada à chegada do dinheiro do tráfico internacional de drogas ao PCC. Ele fechara acordo de delação premiada em abril do ano passado. Em reação, a facção pôs um prêmio de R$ 3 milhões pela sua cabeça.
Gritzbach era um jovem corretor de imóveis da construtora Porte Engenharia quando conheceu o grupo de traficantes de drogas de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta. Vinícius Gritzbach foi demitido pela empresa em 2018. A empresa informa que “jamais teve conhecimento acerca dessas relações até que as investigações viessem a público”.

Foi a acusação de ter mandado matar Cara Preta, em 2021, que motivou a primeira sentença de morte contra ele, decretada pela facção. Para a polícia, Gritzbach havia sido responsável por desfalque em Cara Preta de R$ 100 milhões em criptomoedas e, quando se viu cobrado pelo traficante, decidira matá-lo. O empresário teria contratado Noé Alves Schaum para matar o traficante.
O crime foi em 27 de dezembro de 2021. Além de Cara Preta, o atirador matou Antonio Corona Neto, o Sem Sangue, segurança do traficante. Conforme as investigações, Schaum foi capturado pelo PCC em janeiro de 2022, julgado pelo tribunal do crime e esquartejado por um criminoso conhecido como Klaus Barbie, referência ao oficial nazista que atuou na França ocupada na 2ª Guerra, onde se tornou o Carniceiro de Lyon.