Um dos segredos do tom amistoso adotado na transição dos governos Gilberto Kassab (PSD) e Fernando Haddad (PT) está nos cofres da Prefeitura: são R$ 6 bilhões em caixa, dos quais R$ 3 bilhões estão empenhados com obras de reurbanização de favelas e na construção de um novo túnel até a Rodovia dos Imigrantes, ambas com ordens de serviço iniciadas nos últimos dois meses por Kassab - e serão mantidas pelo prefeito eleito. O prefeito eleito herda uma situação totalmente incomum em São Paulo. Assim que assumiu em 2000, após oito anos das gestões Paulo Maluf e Celso Pitta, a então prefeita Marta Suplicy (PT) declarava que “um bando de gafanhotos” havia passado pelo governo - na época a petista encontrou R$ 366 milhões negativos em caixa e uma Secretaria de Saúde que contava com apenas 1 ambulância própria. Quatro anos depois, foi Marta quem virou alvo do então prefeito eleito José Serra (PSDB), no fim de 2004. O tucano acusava Marta de ter deixado apenas R$ 16 mil no caixa e de ter assinado contratos milionários de lixo às vésperas de sair da Prefeitura. Marta argumentava que tinha deixado R$ 368 milhões nos cofres e acusava Serra de tentar “desconstruir” seu governo. Os contratos do lixo tiveram os valores reduzidos por Serra assim que ele chegou à Prefeitura. Na atual mudança de prefeitos, as farpas deram lugar a trocas de elogios constantes. “Foi uma transição bastante civilizada. A democracia brasileira amadureceu, é reflexo disso. Foram disponibilizados todos os dados que a gente pediu. Queria agradecer o prefeito Kassab por toda essa postura”, afirmou o futuro secretário de Governo, Antonio Donato (PT), na sexta-feira. O atual governo diz não ter definido ainda como serão usados os recursos acumulados na atual gestão. Dos R$ 3 bilhões que podem ser usados em novos investimentos, R$ 1,8 bilhão deve ser aplicado nas áreas onde estão em vigor as quatro operações urbanas - Água Branca, na zona oeste, Água Espraiada e Faria Lima, na zona sul, e Centro.
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