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Um concurso de Miss Brasil bem infantil

Qualquer uma pode ser candidata, mas tem de pagar a inscrição e trazer dezenas de lembrancinhas para todas as concorrentes e jurados

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Por Paulo Sampaio
Atualização:

O elevador do Hotel Parnaso tem capacidade para seis pessoas, mas, no momento, sobe com 5 e uma mala das grandes - quase do tamanho de uma participante do concurso Miss Brasil Infantil, cuja 13.ª edição foi disputada no sábado, em um auditório de Balneário Camboriú, litoral norte de Santa Catarina. O Centro de Convenções Itália, onde as garotas concorreram, fica a menos de 100 metros. A mala é da maranhense Jarcilene Bogéa, de 37 anos, mãe da candidata Bruna, de 7. Ela conta que leva ali dentro mais de 100 lembrancinhas. Lembrancinhas? "Sim, as candidatas têm de trazer algo típico de sua terra para dar a cada uma das concorrentes e também aos jurados", explica. Durante pelo menos dois dias, Jarcilene foi vista entre o hotel e o auditório, pelas calçadas, carregando estoicamente o malão vermelho. Graças ao patrocínio do pai de Bruna, Sérgio Bogéa, que é prefeito pelo PMDB de Primeira Cruz, na região de Lençóis Maranhenses, a menina teve a companhia também de sua cabeleireira, do estilista, da prima e da tia - a irmã de Jarcilene, Jardilene. Os nomes, no concurso, são um parágrafo à parte. Jhenifer, uma das misses, é irmã do príncipe Jhonatan, que apresenta as candidatas. Tem também Vivyen, Layná, Kathren. Em determinado momento, pouco antes do começo da cerimônia, anunciam pelo alto falante que a mãe de Nicolas Nicolau o procura. Coordenador de miss. O concurso é dividido em três categorias - mini, infantil e pré-teen; por sua vez, elas se ramificam em outras tantas, como miss fotogenia, simpatia, elegância, etc. Nos bastidores do centro de convenções, o "coordenador de miss" Júlio César de Souza, que acompanha as candidatas de Mato Grosso, parece animado. "Um passo à frente, gente, atenção", grita ele, óculos escuros na cabeça, cabelos mechados, camisa coloridona, jeans desbotados e sapatos bico fino de crocodilo.Meninas de 5 a 13 anos ajeitam no corpo "trajes típicos" cheios de pedrarias. Com as palmas das mãos juntas e os dedos entrelaçados, piscando os olhinhos maquiados, Amanda Kozan, de 9, avisa: "Quero continuar nessa carreira e me tornar cantora." Ao perceber a presença da reportagem, os coordenadores de miss se dedicam a uma espécie de levante. Ivaldo Ximenes, do Rio, diz: "Tudo aqui é pago, querido, pela gente. Até aquelas bolas de encher cor-de-rosa da decoração." De acordo com Ximenez, o Miss Brasil Infantil não é exatamente um concurso, "porque qualquer um que pague pode participar". "Pagou os R$ 800 de inscrição (que pode custar R$ 1 mil, se a candidata deixar para a última hora), entra até a filha do Chuck. Olha aquela (garota) gorda!"O maquiador Maxwell Ribeiro, de 30, que veio de Minas para acompanhar uma cliente mini, acrescenta. "Você já viu um concurso em que existem 18 concorrentes de um só Estado?"20 franquias. O empresário Danilo D"Avila, dono do evento, diz que desde 1977 lida com misses Brasil - criou o infantil em 98. Naturalmente, afirma que o dele foi o primeiro. Lamenta não ter podido patentear o nome, explicando que a palavra Brasil é "impatenteável". "Represento 20 franquias, entre elas os Miss Universo Infantil, Mundo Infantil, Planet, Globo, Galaxy", diz ele. Os jurados começam a chegar. Atrás das cadeiras deles, há uma fileira de assentos repleta de bugigangas em saquinhos amarrados com fitas coloridas - as lembrancinhas. Entre os jurados está a mulher do prefeito de Balneário Camboriú e a do vice, apresentadas orgulhosamente por Danilo. Está lá também a empresária Irene Valenga, de 55, que discorda veementemente que concursos de miss podem não ser saudáveis para criancinhas de 5 anos. "A mãe está sempre com a criança, não há estresse", diz, esquecendo-se de que a mãe da miss mini por vezes é menos madura que a filha de 6 anos. Irene participa do júri porque para ela "é interessante em termos de parceria". Ela estende um cartão de sua escola para o repórter e sugere que ele leia o que está escrito no verso: "Você acaba de ganhar uma foto 14x21. Ligue e agende sua foto."Enquanto isso, no palco, a multi miss Beatriz Petrentchuk (foto ao lado), de 7, que acumulou 11 títulos (Cinderela do Brasil, Princesa do Mar, Miss Fashion...), ensaia com a mãe, a fotógrafa Adriana Petrentchuk, de 36, a música Borboletas (Luciana Mello). Deve apresentá-la entre o anúncio de um resultado e outro. Adriana explica que investiu mais incisivamente na carreira da filha quando a pegou tentando quebrar a tela da TV para entrar dentro. Preferiu, em vez de puxá-la para fora, encorajá-la a entrar. "Expliquei o que era ser atriz, que era preciso estudar, percorrer um caminho." Ao tentar confirmar o nome de Adriana, a reportagem ouviu dela: "Lembra da Adriane Galisteu." A trilha do concurso vai de Rihanna, que recentemente revelou que gosta de apanhar na cama, até Gonzaguinha. "Viver, e não ter a vergonha de ser feliz..."Conforme as finalistas vão sendo anunciadas, a felicidade da maioria das mini candidatas - que não levam nada - transforma-se em choro. Os coordenadores voltam a carga. Diz Ximenes: "Minhas candidatas passam por psicólogo antes de concorrer, não choram. A produção do concurso deveria premiar as meninas com ursinhos de pelúcia, por exemplo, para todas se sentiram vencedoras, entende?"Já Júlio César, do sapato de crocodilo, acredita que "o concurso é bom porque trabalha o psicológico da criança". O psicólogo potiguar Leonardo Nogueira, de 45, ele mesmo pai de uma concorrente, afirma que a preparou para "vivenciar a frustração". "LindaaaAAAAA!", grita ele para o palco, enquanto teoriza.Vitória. Os pais e tios, primos, enfim, vários parentes da vencedora mini, a paulista Ana Clara dos Santos, de 7, choram a vitória da menina. "Sua irmã é miss, cara, não chora não", diz a mãe da menina, Luciana, de 33, ao irmão dela. Já que o concurso não dá um tostão às primeiras colocadas, elas estão orientadas a dizer que o maior ganho são as amizades e a experiência.

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