
Para provar que as praias do Guarujá estavam limpas, o prefeito Farid Madi (Podemos) bebeu a água do mar em Pitangueiras, no dia 12. A cena teve repercussão após o surto de virose que se espalhou por várias cidades do litoral paulista desde o réveillon, provocando filas nas unidades de saúde, escassez de remédios e cancelamento de reservas em hotéis. E foi criticada por epidemiologistas.
“Foi um ato de amor pela cidade”, disse o prefeito em entrevista exclusiva ao Estadão. “Não faço isso para estimular ninguém a repetir o que fiz. Se alguém que tiver de correr esse risco, que seja eu, como prefeito. A situação já está controlada”, afirmou, após mais de 2 mil atendimentos médicos em dezembro na cidade.

Além do surto de virose, Farid iniciou seu segundo mandato - ele já havia sido prefeito entre 2005 e 2008 - enfrentando também os efeitos de uma onda de crimes na Baixada Santista e Litoral Norte.
Embora os números de roubos tenham caído, a violência de alguns episódios assustou moradores e visitantes. Dois turistas foram baleados na orla nas últimas semanas – um deles morreu atingido na cabeça na Praia da Enseada - e um assalto coletivo, onde pelo menos oito criminosos cercaram um homem, foi filmado e publicado nas redes sociais.
O prefeito aposta no reforço do patrulhamento - são 3 mil policiais militares em todo o litoral, segundo a Secretaria de Segurança Pública -, e na instalação de 100 câmeras de monitoramento para diminuir a percepção de insegurança. “O turista pode viajar tranquilo para o Guarujá. Temos guardas à paisana na orla e câmeras funcionando nas ruas”, diz ele.
Veja os principais trechos da entrevista:
Nas últimas semanas, nós encontramos turistas que estavam levando álcool em gel para a areia, com receio de contaminação. A virose está controlada?
Sim. No ano passado, tivemos número maior de casos que este ano. Tivemos uma repercussão grande agora porque atingiu outras regiões, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro. Mas não é nada relacionado com a água. Laudos da Cetesb e do Instituto Adolfo Lutz constataram que não há risco para o banhista na água. Podem vir tranquilos para o Guarujá.
O senhor acredita que correu algum risco de contaminação ao beber água do mar?
Não faço isso para estimular ninguém nem para repetir o que fiz. Não recomendo para ninguém. Foi um ato de defesa da minha cidade. Como prefeito, tenho de sempre lutar para defender minha cidade. Se alguém que tiver de correr esse risco, que seja eu. Foi um ato de amor pela minha cidade.

Quais providências a prefeitura adota em relação a esgotos clandestinos, uma das possíveis causas do surto?
Estamos fazendo a operação “Caça esgoto” em parceria com a Sabesp. Muita gente liga sua rede de esgoto à rede de águas pluviais. Já existe um trabalho grande com foco nisso. Não chega esgoto da Sabesp na praia. Não existe essa possibilidade.
Nós vimos águas muito escuras nas areias...
Existe uma explicação para isso. Durante o ano, as folhas das árvores caem e entram na tubulação. Elas ficam paradas ali. Na alta temporada, com maior uso da rede de água, essas folhagens vão para a rede de água, que sai com coloração escura.
Aliás, quero informar, em primeira mão, que a Sabesp vai fazer a rede de esgoto em todas as comunidades, mesmo as não regularizadas. É uma demanda nossa. Temos 50% de residências que precisam de esgoto. Serão mais de 100 mil pessoas atendidas.
Hoje quais são as praias impróprias em Guarujá? O que a prefeitura está fazendo?
A praia do Perequê, que não é frequentada por banhistas, e um pequeno trecho da praia da Enseada. Já estamos buscando resolver. Pode ser que alguém tenha feito ligação clandestina, mas acho que no próximo laudo da Cetesb esse trecho não deverá mais constar como impróprio.
Turistas e moradores relatam sensação de insegurança depois de imagens de arrastões compartilhadas nas redes sociais? O senhor percebe essa insegurança?
Pode ser que existisse antes de assumirmos. Nós religamos todas as câmeras de monitoramento. É super importante. São mais de 100 câmeras da prefeitura e queremos chegar a 2 mil câmeras ao longo do nosso mandato. Fizemos parceria com programa Muralha Paulista, do governo paulista, para monitorar as imagens externas dos condomínios e comércios. É um trabalho conjunto para monitorar não só a orla, mas todas as ruas da cidade.
Por quê?
A grande maioria dos assaltos acontece na orla, por menores de idade da periferia, desassistidos socialmente. Esse é um dos grandes problemas que temos de enfrentar. É preciso resgatar e dar uma oportunidade para esse jovem. Para voltar a ser uma cidade mais justa, mais igual e de oportunidades.
Alguns moradores falam que o policiamento se concentra principalmente na orla...
Assim que assumi, mudamos a forma de atuação da Guarda Municipal. Hoje temos guardas caminhando em Vicente de Carvalho, um distrito comercial com bastante população, além da volta das câmeras. Temos bicicletas, quadriciclos, guardas à paisana no meio dos turistas. Temos um efetivo grande de policiais militares em parceria com o governo estadual.
Quais os próximos planos?
O governo estadual vai criar um pelotão de motocicletas, e uma parte vai ficar fixo no Guarujá. Vamos criar uma guarda própria, fixa para a orla da praia, e outra para o comércio, de todo o centro. Mas o que podemos fazer de melhor e de mais efetivo para melhorar a questão da violência é a política pública de inclusão social. E vou dar um conselho, também como empresário. Compre um imóvel no Guarujá. Agora é hora de comprar porque vai valorizar.
Esse policiamento vai continuar após a Operação Verão?
Uma parte sim, não toda. O Guarujá tem 320 mil habitantes. Na temporada, passamos de um milhão. É natural que haja aumento do policiamento. Mas teremos um número maior de policiais fixos. Não tivemos ocorrência de arrastão no Guarujá. Dados da PM não apontam arrastões no Guarujá. Tivemos dois jovens que tentaram um roubo no réveillon, e as pessoas correram. Não foi um arrastão, segundo a polícia. Ficou a imagem.
Tivemos outra imagem impressionante de um assalto coletivo em Pitangueiras....
Mas não foi um arrastão. Foi uma imagem chocante, mas eram jovens menores, desassistidos socialmente. Vamos enfrentar isso de forma assertiva, investindo em política pública de inclusão social. Depois que religamos as câmeras, não tivemos mais esse tipo de ocorrência. Além disso, o efetivo da polícia foi aumentado.
E essa violência não tem relação com o crime organizado. São ocorrências pontuais. Falta interagir e voltar a ter presença física na comunidade, com equipamentos públicos. A gente precisa abraçar o jovem para que ele possa escapar da marginalidade por falta de oportunidade.