Nas redes sociais, teorias conspiratórias sem nenhum vínculo com a realidade alimentam a propagação de falsas alegações sobre a segurança e os efeitos das vacinas. Antes restritos a certos nichos, os rumores sobre o tema ganharam impulso no Brasil graças à estratégia bolsonarista de politizar o debate em torno da pandemia da covid-19.
Desde que o novo coronavírus chegou ao País, o Estadão Verifica, núcleo de checagem de fatos do Estadão, já publicou desmentidos sobre 27 boatos infundados sobre o tema - parte desse trabalho foi feito em parceria com o projeto Comprova, coalizão de veículos de mídia que combate a desinformação nas redes sociais.
O monitoramento das redes, uma das etapas do trabalho de checagem, aponta um salto no volume de publicações antivacina depois da declaração do presidente Jair Bolsonaro de que ninguém será obrigado a se imunizar contra covid-19.
O universo das campanhas de desinformação contra as vacinas é multifacetado. Nele estão desde grupos que celebram a "medicina alternativa" e encaram com desconfiança tudo o que vem da indústria farmacêutica até movimentos claramente alinhados a grupos políticos.
Em março, perfis de redes sociais alinhados à esquerda espalharam a informação falsa de que Cuba teria inventado uma vacina contra covid-19. Foi uma forma de usar a pandemia para fazer propaganda ideológica do regime comunista adotado pela ilha caribenha. Do lado direito do espectro político, os rumores são mais numerosos e variados, mas quase sempre com traços em comum: discurso "antissistema" e desprezo à ciência.
Xenofobia
O bilionário Bill Gates é alvo frequente da ala mais à direita. No início de agosto, circulou no Facebook uma postagem que relacionava o fundador da Microsoft a um projeto para "alterar o DNA" das pessoas com vacinas, com o objetivo de "escravizar a humanidade".
Simpatizantes de Bolsonaro costumam associar a pandemia a uma estratégia chinesa de dominação mundial. Esses grupos também impulsionam boatos e teorias falsas sobre as vacinas que a China busca produzir contra a doença.
Na segunda semana de agosto, um dos boatos desmentidos pelo Estadão Verifica afirmava que a "vacina chinesa" contém nanochips que serão injetados na corrente sanguínea das pessoas para monitorar sua localização por meio da tecnologia de conexão móvel 5G.
A chamada vacina de Oxford, feita na Inglaterra, não escapou dos ataques. Um deles procurou estabelecer um elo entre o combate à pandemia e a prática do aborto - tema que costuma inflamar grupos religiosos. No fim de julho, um texto enganoso espalhado principalmente pelo Twitter insinuava que a produção do medicamento incluía células de fetos abortados.