Estou monotemático neste fim de ano. Acho que é um fenômeno meio recorrente, pensando bem. Quando chega o período de Natal e ano-novo sou tomado pela urgência de passar uma mensagem. Algo que me faça crer que o mundo pode se tornar um lugar ligeiramente melhor no ano seguinte. Nada revolucionário. Se a escala de qualidade de vida, bem-estar, felicidade e paz subir um ponto por ano para meia dúzia de leitores, quem sabe no acumulado do tempo essas mensagens façam alguma diferença positiva.
Este mês percebi que estou o tempo todo falando sobre a felicidade. Não foi de propósito, mas é mais ou menos assim toda vez: não sou eu que escolho o tema, mas de algum jeito ele me domina. Suspeito fortemente que uma das causas da escolha atual foi o fato de as redações terem descoberto o tema da positividade tóxica em 2021. No livro O Lado Bom do Lado Ruim, que lancei às vésperas da pandemia, o capítulo dedicado aos problemas com a alegria já introduzia o assunto, mas este ano a pauta explodiu.

Meu incômodo com a felicidade obrigatória não é novo. Nos últimos vinte anos, desde que li A Euforia Perpétua, livro em que o filósofo Pascal Bruckner demonstra como nossa sociedade se tornou escrava de um discurso que defende uma felicidade contínua, levando-nos a considerar defeituosos os momentos em que não estamos plenamente satisfeitos, eu vinha sendo um arauto da desobrigação de ser feliz. Não me arrependo: é preciso lembrar às pessoas que não dá para estar sempre bem – e que estar chateado não é doença. Mesmo na noite de Natal. Mesmo com um filho recém-nascido. Mesmo com a pessoa da sua vida ao seu lado. É normal ficar triste.
Com o passar dos anos, contudo, fiz as pazes com a felicidade e entendi que abrir mão da sua obrigação não significa abrir mão da sua possibilidade. Sim, é possível ser feliz. A lógica da euforia perpétua nos estimula a pensar que se estamos tristes a alegria não tem vez. Acreditamos erroneamente que a felicidade é um estado tudo ou nada, que só existe na ausência de tristeza. Quando nos libertamos dessa cadeia finalmente compreendemos que mesmo com problemas, mesmo em meio ao luto, podemos nos alegrar. Fazemos isso ao ampliar o espaço de continência dos afetos, que passam então a acolher no mesmo lugar a tristeza pelos que se foram e alegria pelos que permaneceram, por exemplo.
Isso resgata a ideia da felicidade. Não é aquela que se quer perene, nem a que se recusa a dividir quarto com a tristeza. É a felicidade que, não sendo obrigatória, será sempre uma possibilidade.