Como efeito dos encontros das festas de final de ano, o Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo, está há quatro dias com a taxa de ocupação da UTI em 100%. A alta de internação continua e por isso o tratamento feito a pacientes em estado grave acontece na enfermaria, que não possui estrutura adequada.
Um médico que trabalha no local e preferiu não se identificar informou que não há falta de respiradores por enquanto, pois existe um backup desses aparelhos. Ele relata que houve um aumento muito grande de internações desde o último final de semana e o pronto-socorro não está dando conta do fluxo. "Coincide com o período de festas de Natal e ano-novo. A tendência é que siga em alta", disse.
A Santa Casa abriu uma nova ala de UTI no final do ano passado e atualmente conta com 20 leitos. A diretoria prometeu entregar mais dez na próxima semana. A taxa de ocupação bateu 100% no domingo, dia 10, quando a unidade central realizou 23 atendimentos a pessoas com doenças respiratórias. "Quatro pacientes estão na fila de espera. Os quatro estão entubados na enfermaria", revelou o médico.
O leito de enfermaria não possui equipamentos adequados para acompanhar um paciente com ventilador mecânico. A monitorização também não é a mesma de uma UTI. O manejo de um paciente grave é mais complexo do que outro com a doença mais leve. "Ficamos receoso que possam ser mal assistidos."
O mais provável é que esses pacientes sejam transferidos para outra unidade da rede pública. A Santa Casa é um hospital filantrópico apoiado pelo Sistema Único de Saúde e o governo do Estado de São Paulo. Por isso, está dentro da Cross (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde), sistema online que verifica vagas disponíveis em hospitais do SUS em SP, para as transferências.
Pior do que na 1ª onda
A diferença do começo da pandemia para agora é que antes a Santa Casa conseguia rapidamente remanejar pacientes com gravidade leve da doença para os hospitais de campanha e assim oferecer melhor estrutura para quem tinha problema de maior complexidade. Agora não, pois essas unidades foram desativadas. "Achamos que ainda vai piorar nas próximas semanas. Como vai ser? Não sei. Vamos trabalhando com o que tem."
A Santa Casa se pronunciou apenas por meio de nota e não confirmou a lotação. O Estadão teve acesso ao documento interno do hospital que informa a taxa de ocupação em 100% na unidade central. A assessoria de comunicação disse na quarta-feira que o hospital "vem percebendo um aumento progressivo no número de pacientes que procuram o hospital com quadro de doenças relacionadas à covid-19". E que "as estruturas estão sendo ampliadas para que a população atendida pela instituição receba todos os cuidados de acordo com os protocolos vigentes."
A Secretaria de Estado da Saúde, também por nota, disse que "a taxa de ocupação na Grande São Paulo é de 68,3% em UTI e 59,9% em enfermaria e, portanto, a rede hospitalar segue com plenas condições de assistir casos graves do novo coronavírus". O porcentual aumentou 5% em relação a semana passada.
A pasta diz ter repassado R$ 2,5 bilhões em convênios firmados com estas entidades filantrópicas e serviços que integram o SUS em 2020. "Somente para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo foram direcionados mais de R$ 160,6 milhões ao longo do ano passado".
O governo de São Paulo diz custear o funcionamento de 2 mil leitos de UTI no SUS de todo Estado exclusivamente dedicados à pandemia. "A Secretaria da Saúde solicitou ao Ministério a habilitação permanente desses leitos, visando garantir a continuidade da assistência aos casos de covid-19 e a perenidade da rede de terapia intensiva já ampliada também em 2021, assegurando consequentemente maior capacidade hospitalar para atendimento aos pacientes."
Hospitais particulares
A alta não é só na rede pública. Hospitais particulares também estão começando a trabalhar no limite. Levantamento realizado pelo SindHosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo) aponta que 72% dos hospitais estão com taxas de ocupação de leitos de UTI superiores a 71%. A pesquisa foi feita entre os dias 11 e 13 de janeiro em 76 hospitais privados.
Há casos também de locais que já estão trabalhando perto do limite, como os hospitais Albert Eintein e Sírio Libanês, com taxas de ocupação de UTI em 90%. O Einstein teve na quinta-feira recorde de internações. Foram 140 novos pacientes que deram entrada, superando o pico que houve em abril, quando 138 foram internados no mesmo dia.
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