Fake news de coronavírus incluem arma biológica e uísque de prevenção; veja as mais comuns

Ministério da Saúde analisou mais de 8 mil mensagens que circulam nas redes sociais, a maioria falsa; junto com o avanço do surto pelo planeta, especialistas alertam para os riscos da 'infodemia'

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Foto do author Roberta Jansen

RIO - Na primeira epidemia global da era da hiperconectividade, a informação se alastra com mais rapidez do que o novo coronavírus. Misturadas às notícias verdadeiras s bombardeando a população mundial todo o tempo, surgem também as “fake news” ou, neste caso, “fake science” – informações falsas, algumas com alegada (e inexistente) base científica. Em um mês e meio, um grupo especializado em fake news do Ministério da Saúde analisou mais de 8 mil mensagens sobre a doença que circulam nas redes sociais – e a maioria é falsa.

Com medo do coronavírus, passageiros usam máscaras no Metrô de São Paulo Foto: REUTERS/Rahel Patrasso

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“Não estamos lutando só contra uma epidemia. Combatemos também uma infodemia”, diagnosticou este mês o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, em conferência na Alemanha.

As redes sociais estão na origem do fenômeno. Em 2003, no surto da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês), não havia nenhuma das mais importantes redes sociais de hoje. Em 2009, na última grande epidemia global, a da gripe H1N1, elas ainda iniciavam a expansão global. O Facebook tinha 500 milhões de usuários, ante 2,3 bilhões agora. O Twitter tinha menos de 100 milhões de usuários e hoje tem mais de 300 milhões. O Whatsapp foi criado naquele ano – e hoje tem 2,2 bilhões de usuários.

Logo após declarar o covid-19 “emergência de saúde pública internacional”,Ghebreyesus criou um grupo especial dentro da OMS para lidar com a epidemia de informação e fake news. “Sabemos que toda epidemia é acompanhada de um tsunami de informação e, junto, vêm desinformação e rumores. Isso acontece desde a Idade Média”, disse a diretora do Programa de Emergências em Saúde da OMS, Sylvie Briand, responsável por conter a infodemia. “A diferença, com as redes sociais, é que o fenômeno é amplificado; viaja mais rápido e mais longe, como os vírus que acompanham as pessoas.”

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O aplicativo americano NewsGuard, que avalia o grau de credibilidade de notícias veiculadas em mais de quatro mil sites (96% do engajamento online), atesta: pelo menos um em cada dez deles compartilha fake news de saúde. O app criou um monitor para acompanhar especificamente notícias sobre o vírus. Já identificou 93 sites que publicaram informações erradas ou falsas nos Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Alemanha e França.

O problema é grave, porque as publicações desses sites são muito mais compartilhadas do que as das páginas que veiculam informações corretas. O Mind Unleashed conseguiu o engajamento de 14,9 milhões de usuários com a divulgação de uma notícia falsa. Segundo essa narrativa, o coronavírus teria sido criado pelos chineses, em um laboratório da cidade de Wuhan, como arma biológica. A mesma teoria conspiratória foi repetida por outros sites em diferentes países. No mesmo período, o site da OMS sobre o covid-19 teve só 25 mil engajamentos.

No Brasil, o serviço criado pelo Ministério da Saúde para avaliar fake news incentiva a população a tirar suas dúvidas diretamente com as autoridades. O número de telefone para envio do material suspeito é (61)9 9289-4640. Entre 22 de janeiro e 5 de março, foram recebidas e analisadas nove mil mensagens – 90% delas sobre o novo coronavírus. Após confirmar o primeiro caso no Brasil, “as mensagens aumentaram significativamente”, informou a pasta, em nota. Só entre 28 de fevereiro e 1º de março, o canal recebeu 4 mil mensagens – 85% falsas.

Entre elas, a teoria conspiratória sobre o vírus criado em laboratório, a vinda do coronavírus ao Brasil por produtos importados da China e o chá de abacate (e até o uísque) para prevenir a infecção. O resultado é o pânico e uma corrida por máscaras. Elas, aliás, devem ser usadas apenas por pacientes.

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Veja algumas das mentiras mais comuns sobre o novo coronavírus que circulam nas redes sociais:

  • O novo coronavírus foi desenvolvido em laboratório por cientistas chineses que pretendiam usar o vírus como uma arma biológica
  • O novo coronavírus teria sido manipulado geneticamente e teria uma estrutura similar ao do vírus HIV, que causa a Aids.
  • Chá de abacate, hibisco, lança perfume e uísque seriam algumas das substâncias capazes de prevenir a infecção
  • Produtos importados da China estariam trazendo o vírus para o Brasil.
  • O papa Francisco está com coronavírus (há registro de um infectado no Vaticano, mas o pontífice foi testado, com resultado negativo, para a doença)

“Toda nova epidemia mobiliza emoções, especialmente por conta do medo do desconhecido”, diz Igor Sacramento, pesquisador do Laboratório de Comunicação e Saúde da Fiocruz, que tem monitorado as notícias falsas sobre o coronavírus. “Mas esse pânico desmedido não tem lastro na realidade.”

Sendo um vírus novo, para o qual ninguém tem ainda imunidade, é natural que a OMS e as autoridades acompanhem sua disseminação. Mas, segundo os especialistas, o covid-19 gera uma doença parecida com um resfriado comum – na grande maioria dos casos.

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Só uma minoria dos pacientes desenvolve sintomas mais graves. A taxa de letalidade da doença é de 3,4%, segundo a OMS, muito abaixo da Sars (de 10%) ou da Mers, outro tipo de coronavírus (que chega a 35%). “A maior parte das pessoas vai ficar curada; só algumas vão desenvolver forma mais grave de infecção”, <IP>diz o virologista Benedito Lopes da Fonseca, da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. 

Dicas para identificar as fake news:

  • ​Muitos sites de fake news têm nomes parecidos com sites de notícias. Avalie o endereço e verifique se a fonte é confiável
  • Sites de fake news costumam apresentar erros de português e uso exagerado de pontuação
  • Leia toda a notícia. Nem sempre o título condiz com as informações do texto
  • Duvide se você receber uma notícia bombástica que não está em outros sites de notícia
  • Recebeu algum  conteúdo suspeito pelo Whatsapp? Envie para o número do Estadão Verifica: (11) 99263-7900

Para o coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo, Fábio Gouveia, o desafio de combater a infodemia tende a crescer. “O que temos é a disseminação de pânico característica desse modelo de comunicação marcado pela velocidade, pelo volume, pela ansiedade do compartilhamento. Vamos ter de aprender a lidar com uma sociedade que quer consumir informações de forma muito rápida sem checar a fonte dessas informações; é um processo educacional.”

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Gigante de Zuckerberg quer trocar anúncios falsos por informações educativas. Foto: Stephen Lam/ Reuters

    Empresas de redes sociais dizem priorizar informações oficiais e banem anúncios de falsa cura

    As empresas de redes sociais afirmam que atuam para combater a disseminação de mentiras na internet. Em nota, o Facebook disse que, "quando as pessoas procuram por informações relacionadas ao vírus no Facebook (e no Instagram), esão direcionadas no topo da busca a resultados que levam a informações oficiais, como as da Organização Mundial da Saúde (OMS)". O recurso, segundo a companhia, foi lançado nas últimas semanas globalmente e em todos os idiomas no Facebook.

    Após recente reunião entre gigantes de tecnologia e a OMS, a empresa de Mark Zuckerberg afirmou se concentrar nos supostos antídotos altamente prejudiciais à saúde vendidos online. "Isso inclui alegações relacionadas a curas falsas ou métodos de prevenção - como 'beber alvejante cura o coronavírus' -, e demais informações que possam causar confusão sobre os recursos de saúde disponíveis", disse Kang-Xing Jin, chefe da área de saúde do Facebook. "Também vamos bloquear ou restringir as hashtags usadas para espalhar informações errôneas no Instagram, e iremos realizar varreduras diárias para encontrar e remover o máximo possível desse conteúdo."

    Já o Whatsapp informou que as recentes mudanças em sua plataforma, com o objetivo de conter o avanço de informações falsas, "incluem a redução do número de pessoas para as quais você pode encaminhar uma mensagem para apenas cinco bate-papos ao mesmo tempo e a introdução de 'encaminhada' e 'altamente encaminhada' para destacar quando algo foi compartilhado várias vezes. A empresa disse também incentivar seus usuários a checarem a veracidade das mensagens antes do compartilhamento. 

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    O Twitter informou que continua a expandir o "recurso dedicado de prompt de pesquisa para garantir que, quando você for ao serviço para obter informações sobre o covid-19, encontre conteúdo confiável e oficial no topo da sua experiência de pesquisa". Em cada país em  a iniciativa foi lançada, houve parceria “com a agência nacional de saúde pública ou a Organização Mundial de Saúde.”

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