Kefir: O que é e quais os benefícios? Conheça a bebida com potencial probiótico

Líquido tem propriedades antioxidantes, antimicrobianas e anti-inflamatórias; veja como preparar

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Por Layla Shasta

Há quem diga que os grãos de kefir foram um presente divino dado aos caucasianos – povos que vivem em uma região de fronteira entre a Europa e a Ásia – pelo profeta Maomé, que por sua vez os recebeu de Alá. Não à toa, ele também é chamado de “milho do profeta”.

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O motivo para a crença talvez seja o fato de, historicamente, a bebida produzida a partir desse aglomerado de micro-organismos ser empregada pela sabedoria popular no tratamento de diversas doenças. “Kefir”, inclusive, vem do turco e significa “bem-estar”.

De fato, muitos o consideram uma substância que faz bem – e a ciência tem somado evidências nesse sentido. Conheça a seguir os benefícios do líquido e como produzi-lo.

Versão mais famosa do kefir é produzida a partir do leite Foto: SewcreamStudio/Adobe Stock

O que é?

Kefir é o nome dado a uma bebida fermentada rica em leveduras e bactérias como lactobacilos.

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Na versão mais conhecida, a fermentação dos grãos ocorre no leite. A presença dos aglomerados de micro-organismos dá à mistura a aparência de uma coalhada e, após os grãos serem coados, o resultado é uma espécie de “super iogurte.

Há ainda o kefir feito na água com açúcar mascavo. Ele também vem dos grãos, mas a bebida fica com a aparência semelhante à de um chá após o conjunto ser coado.

De onde vem?

A história do kefir remonta às montanhas do Cáucaso. Acredita-se que povos da região descobriram que o leite guardado em bolsas de couro poderia ocasionalmente fermentar, virando uma bebida leve e borbulhante.

É o que explica o grupo de pesquisa ‘Kefir do Recôncavo’, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Das terras montanhosas, os grãozinhos e suas bebidas se espalharam pelo mundo, chegando até o Brasil.

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Quais os benefícios?

Estudos têm mostrado que o kefir tem o potencial de ajudar na digestão, na redução do colesterol e no controle da pressão e do diabetes. Ele também auxiliaria no fortalecimento do sistema imunológico e na diminuição do risco de alguns tipos de câncer.

Essas informações estão descritas em estudos como a revisão publicada no periódico Foods. A associação à ação positiva vem dos micro-organismos, mas também de sua composição rica em antioxidantes, proteínas e vitaminas como tiamina, ácido fólico e vitamina K, explica a professora Mônica Roberta Mazalli, da Universidade de São Paulo (USP).

Resumidamente, essas e outras substâncias do kefir são descritas como potentes antioxidantes, antimicrobianos e anti-inflamatórios.

Mas a maioria das pesquisas é experimental, com testes apenas em animais ou análises físicas e químicas. “Ainda é muito cedo para transpor esses dados para humanos”, afirma a bióloga Ágata Gava, docente e pesquisadora do Departamento de Ciências Fisiológicas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

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No laboratório

Ágata é uma das autoras de um estudo que analisou os possíveis benefícios do kefir para os rins. No estudo, animais foram induzidos à insuficiência renal aguda. Mas, antes disso, alguns foram alimentados com o produto uma vez por dia, durante 60 dias.

Os resultados demonstraram que aqueles que consumiram kefir tiveram a sua função renal preservada e uma menor produção de radicais livres, moléculas instáveis que podem causar envelhecimento precoce e morte das células.

“Acreditamos que esse seja o mecanismo pelo qual o rim foi protegido da perda de função”, diz Ágata. Parte disso pode estar ligada ao efeito antioxidante do produto, que combate a ação dessas moléculas.

  • Intestino

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Além dos rins, no últimos anos, foram realizados estudos sobre os efeitos do kefir no intestino. “Muitas das bactérias do kefir passam pelo trato gastrointestinal. Assim, o consumo diário desse alimento melhora a população microbiana benéfica do intestino e, com isso, evita questões de diarreia e problemas intestinais”, diz a microbiologista Rosane Schwan, coordenadora do Núcleo de Estudos em Fermentações (Nefer) da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

  • Pressão arterial

Outras pesquisas têm mostrado que as espécies presentes no kefir podem criar moléculas capazes de levar à inibição da produção de aldosterona, um hormônio que promove o aumento da concentração de sódio no sangue, elevando a pressão arterial. Elas também teriam efeito sobre uma substância com ação vasodilatadora (bradicinina), mais um fator para a diminuição da pressão.

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  • Glicemia

Em um dos estudos, camundongos alimentados com kefir por 30 dias demonstraram uma forte tendência de redução nos níveis de açúcar no sangue, em comparação com o grupo controle.

Queijo com kefir: menos lactose

O kefir também tem sido considerado como ingrediente em receitas lácteas mais saudáveis. É o caso de um estudo realizado na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP.

Em um trabalho conduzido pela nutricionista e mestranda Denise Rossi, sob orientação da professora Mônica Mazalli, foi elaborado um cream cheese rico em lactobacilos, probiótico e com uma taxa menor de lactose do que o produto tradicional. Os benefícios vieram com a adição de 50 gramas de grãos de kefir ao leite usado para fabricar o queijo.

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“A lactose e outros nutrientes presentes no leite são utilizados para o crescimento dos micro-organismos no kefir. Desse modo, a lactose originalmente presente no leite sofre o processo de fermentação pelo kefir em ácido láctico, fazendo com que sua concentração se torna menor no creme de queijo”, explica Mônica.

Comparado ao cream cheese comercial, o produto das pesquisadoras apresenta maior concentração de ácidos graxos, principalmente o butírico, importante para a saúde gastrointestinal, além de ômega-3 e ômega-9, associados à redução do risco de doenças cardiovasculares.

Há também versão feita com água e açúcar mascavo Foto: MarianneHydalsvik/Adobe Stock

O kefir é probiótico?

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), probióticos são micro-organismos vivos que, em certa quantidade, fazem bem à saúde.

Como o kefir apresenta micro-organismos com essas características, ele seria um probiótico, certo? Não é bem assim. “Há controvérsias”, diz Rosane.

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É que esse alimento normalmente é fabricado em casa e as suas características são muito diferentes entre si. “Vai depender do leite, de quantos dias de fermentação, entre outras questões. Então, é quase uma composição única a cada vez que você prepara”, explica a microbiologista.

“O fato é que ele é um alimento considerado funcional; que é bom para o seu bem-estar”, afirma Rosane.

Como conseguir kefir?

Para se produzir kefir, é necessário primeiro adquirir os “grãos de kefir”. Tradicionalmente, eles são passados de pessoa para pessoa, por meio de doação – e quem segue a tradição garante que só os grãos obtidos assim são “verdadeiros”.

Não é raro encontrar doadores. “Quando você coloca ele no leite ou na água, ele se prolifera. A cada fermentação sempre há mais kefir. Por isso, é fácil a doação. Sempre há grãos disponíveis”, diz Ágata.

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Mas há também opções disponíveis no mercado. Uma vantagem delas é que, nesses casos, a bebida é feita segundo um protocolo padronizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que ajuda a ter certeza de que a versão consumida é probiótica, segundo Rosane.

Como fazer kefir?

  • De leite

Para cultivar os grãos, basta adicioná-los ao leite integral, deixando fermentar em temperatura ambiente por 18 a 24 horas. Use uma colher de sopa de grãos para cada 300 mililitros de leite.

Recomenda-se utilizar um pote de vidro esterilizado, tampar com um pano limpo e prender com um elástico, chacoalhando o pote suavemente uma ou duas vezes durante o tempo de fermentação.

Após esse período, a bebida estará pronta e os grãos estarão no fundo. Basta coar a mistura com o auxílio de uma peneira de plástico e reservar os grãos, que podem ser reutilizados em novas fermentações.

“É indicado separar utensílios exclusivamente para o preparo do kefir, que devem sempre ser lavados após o preparo e antes de cada uso para reduzir os riscos de contaminação. O leite utilizado deve ser fresco e estar em temperatura ambiente”, detalha a bióloga.

  • De água

Coloque os grãos de kefir em um litro de água e adicione açúcar mascavo. Depois, basta seguir o mesmo processo de fermentação. Uma vez separado o líquido, ele pode ser incrementado com suco de limão ou frutas.

Como consumir?

Ele pode ser ingerido como bebida, misturado com frutas ou como molho para saladas. Estudos demonstram que o consumo de cerca de 200 a 250 ml, uma ou duas vezes por dia, por um período mínimo de quatro semanas, já proporciona efeitos benéficos, afirma Ágata.

“Os produtos lácteos fermentados com kefir geralmente apresentam atividade β-galactosidase e teor reduzido de lactose em comparação ao leite, tornando-os ideais para quem sofre de intolerância à lactose”, acrescenta Mônica.