Medidas de Doria contra o avanço da pandemia são brandas e confusas, apontam especialistas

Governo de São Paulo anunciou novas restrições nesta quarta-feira, como um 'toque de restrição' durante o fim da noite e madrugada. 'Horário que as pessoas não estão circulando', diz pesquisador

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Por João Prata
Atualização:

Especialistas ouvidos pelo Estadão consideraram branda e confusa a nova medida tomada pelo governo de São Paulo para tentar conter a pandemia. Nesta quarta-feira, 24, a gestão João Doria (PSDB) limitou a circulação de pessoas entre as 23 horas e as 5 horas em todos os municípios paulistas a partir desta sexta-feira, 26, até o dia 14 de março.

O médico Marcio Sommer Bittencourt, mestre em saúde pública pela Universidade de Harvard e médico pesquisador da USP, disse não ter entendido a nova ação. "Difícil de avaliar impacto. Atualmente todo comércio já fecha às 22h. Não sei o que muda em termos de contato interpessoal, que é o que importa. Temos uma pandemia que se dá pelo contato interpessoal. E o contato acontece durante o dia. Não tenho capacidade para prever as coisas. Mas não consegui entender essa medida em um horário que as pessoas não estão circulando."

João Doria, governador de São Paulo Foto: Governo do Estado de SP

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O médico Gerson Salvador, especialista em infectologia e saúde pública, citou como exemplo as medidas tomadas por Israel e Reino Unido nas últimas semanas que foram mais efetivas. "Eles controlaram a alta com imunização e medida de distanciamento, inclusive com lockdown. As medidas de São Paulo mesmo na fase vermelha são muito brandas se comparadas a esses países."

Para ele, o governador João Doria teria de ser mais duro no atual momento da pandemia. "O governo se equivoca em tomar medidas discretas permitindo abertura das atividades econômicas, como bares e restaurantes entre outras atividades de lazer que provocam aglomerações. Na minha opinião não deveriam reabrir essas atividades até que grande contingente da nossa população esteja vacinado e a gente observe declínio sustentável do número de casos."

Na opinião de Bittencourt, o Brasil em nenhum momento tentou colocar em prática medidas que poderiam ajudar a conter a doença. "Aparentemente vamos passar a pandemia sofrendo sem trabalhar como deveria ser trabalhado."

Para ele, a discussão não pode ficar apenas entre fazer lockdown ou não. Segundo o médico, antes disso, deveria ser feita ampla testagem na população, com isolamento de casos sintomáticos e monitoramento de seus contatos.

"Precisávamos incluir um isolamento amplo e intenso. Todo caso sintomático tinha que ficar isolado, sozinho, por no mínimo dez dias irrestritamente. Deveria existir apoio financeiro para essas pessoas. Deveria haver espaço público para isolar essas pessoas. Não criamos espaço público para fazer isolamento. Nunca nem se investiu em marketing para divulgar essas ações."

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A média diária de novas internações em UTI é de 1.678 na atual semana epidemiológica, que segue até o sábado, 27. Essa média teve aumento mais acelerado nos últimos 10 dias, que somou 660 hospitalizações em terapia intensiva a mais nesse período do que no anterior, chegando a 6.657 pacientes internados em leitos de UTI.

"Fizemos muito pouco ou quase nada de medidas de bloqueio. Sempre preferiram dizer que é muito difícil fazer do que pelo menos tentar fazer. Nunca foi feito nem essa campanha de marketing. A população até hoje não foi avisada de que o mais importante é não passar para ninguém. Nunca investiu em testar e isolar positivo. Não vi nada disso. E falo isso desde abril do ano passado."

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