SÃO PAULO - A Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu nesta quinta-feira que é "muito cedo" para declarar o surto de infecções pelo novo coronavírus chinês uma emergência de saúde pública de interesse internacional. A decisão, anunciada na tarde desta quinta-feira, 23, foi tomada pela direção da entidade após a consulta a um comitê formado por especialistas de todo o mundo.
O novo vírus já infectou mais de 600 vítimas na China, das quais 18 morreram. A maioria dos casos foi registrada na província de Hubei, onde se localiza a cidade de Wuhan, onde o surto começou.
De acordo com o presidente do comitê de emergência, Didier Houssin, o grupo ficou dividido, mas a visão que prevaleceu foi a de que "não é hora" de declarar emergência por causa do número limitado e localizado de casos e pelas medidas que já estão sendo tomadas para que o surto não se espalhe.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, acatou a recomendação do comitê de não declarar emergência e ressaltou, em entrevista coletiva, que dos 584 casos que já foram oficialmente informados à OMS, 575 foram identificados na China, o que mostra o caráter localizado do surto. "É uma emergência na China, mas ainda não se transformou numa emergência de saúde global", disse. A entidade afirmou que o comitê pode se reunir novamente quando necessário e que a decisão pode ser revista a medida que a situação epidemiológica for mudando.
O diretor destacou que, mesmo sem declarar emergência global, a entidade segue acompanhando de perto a situação e tomando medidas para impedir o avanço do surto para outros países. Ghebreyesus afirmou que a entidade não recomenda restrições de viagens, mas que incentiva triagens na saída de aeroportos internacionais chineses para identificar possíveis viajantes sintomáticos. A entidade também recomendou que os aeroportos domésticos, estações de trem e terminais de ônibus façam essa mesma triagem.
"Gostaria de reiterar que o fato de eu não declarar emergência em saúde pública de interesse internacional hoje não deve ser interpretado como se a OMS não achasse a situação séria ou não estivesse levando isso a sério. A OMS está acompanhando esse surto de novo coronavírus a cada minuto de cada dia no nível nacional, regional e global. Estamos completamente comprometidos em acabar com esse surto o mais rápido possível", disse o diretor-geral da organização.
O diretor afirmou que "é esperado" que surjam novos casos e novas mortes pelo vírus nos próximos dias, mas que as autoridades chinesas estão adotando uma série de medidas para evitar que o surto se espalhe para outras cidades. Dois municípios chineses foram isolados.
Segundo o Regulamento Sanitário Internacional da OMS, acordo legal que envolve 196 países, uma emergência de saúde pública de interesse internacional é definida como “um evento extraordinário determinado que constitui um risco de saúde pública para outros Estados por meio da disseminação internacional de doenças e por potencialmente exigir uma resposta internacional coordenada”.
Alerta global
Muitos países já adotaram medidas para controlar a expansão do vírus. As medidas incluem a criação de zonas especiais exclusivas para passageiros vindos da China, o uso de câmeras térmicas para identificar pessoas com alta temperatura corporal e, até mesmo, o fechamento de fronteiras.
No Brasil, o governo federal entrou em alerta para o risco de transmissão da doença. De acordo com o governo, o país entrou no nível de alerta é 1, que é inicial, em uma escala que vai de 1 a 3. O nível mais elevado é ativado quando são confirmados casos transmitidos em solo nacional. A pasta descartou, no entanto, a existência de casos suspeitos no País.
O ministério diz já ter notificado a área de portos, aeroportos e fronteiras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para as medidas de prevenção à entrada do coronavírus no País. A área de Vigilância Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde também foram notificadas para seguir as medidas recomendadas pela OMS.
Entre as orientações aos viajantes estão evitar contato próximo com pessoas que sofrem de infecções respiratórias agudas; realizar lavagem frequente das mãos, especialmente após contato direto com pessoas doentes ou com o meio ambiente; e evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas e criações.
De acordo com a Organização Panamericana da Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, os coronavírus (CoV) são uma grande família de vírus que causam doenças que variam do resfriado comum a doenças mais graves, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV).
O coronavírus identificado na China é uma nova cepa que ainda não havia sido identificada em humanos. Os coronavírus são zoonóticos, o que significa que são transmitidos entre animais e pessoas. O governo chinês divulgou nesta semana, no entanto, que o novo coronavírus também podem se transmitido entre pessoas.
Os sinais e sintomas da pneumonia indeterminada são principalmente febre, dor, dificuldade em respirar em alguns pacientes e infiltrado pulmonar bilateral.