A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) afirmou nesta quinta-feira, 25, que grande parte das unidades particulares do País tem estoque só para mais três ou quatro dias de medicamentos usados no atendimento de pacientes da covid-19. Segundo a entidade, a requisição dos remédios pelo governo federal desorganizou a cadeia de suprimentos e têm sido feitos esforços para importar os produtos.
Também nesta quinta, a Federação Brasileira de Hospitais (FBH) manifestou enorme preocupação com o quadro. Diante da explosão de internações pela covid-19, entidades têm alertado para o colapso do sistema de saúde e cobram providências do governo federal.
A Anahp, que agrega unidades de referência, como o Albert Einstein e o Sírio-Libanês, cita em comunicado o risco de "muitos hospitais privados perderem, em prazo de três a quatro dias, as condições de atendimento à covid-19". O prazo é uma média dos estoques dos hospitais em levantamento feito pela própria entidade.
Além da "desorganização da cadeia de suprimentos, causada pela recente requisição de estoques de produtos anestésicos, essenciais para o tratamento da covid-19", a Anahp diz que os associados fizeram um esforço emergencial para importações extraordinárias dos produtos que estão faltando, com o apoio da Anvisa.
"Ainda assim, o tempo mínimo necessário para que os produtos cheguem ao Brasil exige outra providência que precisa ser imediata: a colaboração do Ministério da Saúde para uma urgente distribuição de estoques decorrentes da requisição que realizou" e espera que a "decisão seja tomada rapidamente e o problema de curtíssimo prazo seja resolvido, até que a situação volte a se normalizar."
Segundo Marco Aurélio Ferreira, diretor de Relações Governamentais da Anahp, a maior parte dos hospitais não têm capacidade financeira de manter um grande estoque. "Houve o aumento de internações, e soma-se isso à falta de medicamentos, aí o estoque vai ficando menor. Não tem como repor a tempo", disse ao Estadão.
Ele explica que estão sendo importados medicamentos, mas eles só vão chegar ao Brasil a médio prazo, algo em torno de 20 dias. Por isso, a grande preocupação é no curto prazo. "Precisamos que o novo ministro da Saúde resolva esse problema. Precisamos restabelecer as entregas para a rede privada", afirma.
Ferreira conta que informações recebidas da indústria farmacêutica garantem que o governo levou produção equivalente a 10 dias. Ele lembra ainda que hospitais filantrópicos receberam parte dos medicamentos. Sem ter a quem recorrer, ele espera o bom senso do Ministério da Saúde para redistribuir insumos também aos hospitais privados. "Vamos avaliar também a possibilidade de compra de estoques em outros países da América Latina."
Adelvânio Francisco Morato, presidente da FBH, faz um alerta. "É uma situação muito crítica. Há semanas que estamos discutindo isso, enviamos ofício para o Ministério da Saúde e até agora não obtivemos resposta. A falta de abastecimento dessas drogas, como anestésicos e relaxantes musculares, que servem para fazer intubação, é preocupante."
Ao Estadão, ele explicou que todos os hospitais costumam ter uma reserva, mas com a nova variante do coronavírus, todas as expectativas foram superadas e os estoques diminuíram sensivelmente. Para piorar, se algum hospital encontra os produtos no mercado, os preços são muito acima do que vinham sendo praticados. "O estoque está caindo e não estamos tendo uma reposição suficiente", continua.
A FBH representa mais de 4.200 hospitais particulares em todo o Brasil. E como a rede privada tem recebido pacientes direcionados pelo SUS, o impacto acaba sendo maior, e não apenas para pacientes de covid-19. Em caso de acidente, por exemplo, nos atendimentos de emergência, a vítima recebe os mesmos medicamentos.
"Vai ter um colapso nos hospitais por falta de medicamentos. É capaz de sobrar leito e respirador, mas faltar insumos, pois para intubar o paciente precisa desses medicamentos", diz. "O colapso está chegando se não tomarmos alguma providência". O deputado federal Pedro Westphalen (PP-RS) confirmou a gravidade do problema no Sul do País. "Na minha cidade de Cruz Alta fecharam quatro leitos de UTI por falta de anestésico. Isso é inaceitável, inconcebível", disse durante Reunião Deliberativa Extraordinária da Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 da Câmara dos Deputados na terça-feira, 23.
"Chegou um momento de esgotamento. Não tem medicamento para intubar os pacientes", lamentou. Adelvânio cita exemplos mais críticos em alguns Estados. "Tenho hospitais no Rio em que o estoque dá para apenas um dia; em Santa Catarina, para um ou dois dias; em Goiás para dois ou três. Há a mesma situação do Ceará. E em alguns Estados alguns hospitais têm estoque para 15 ou 20 dias", revela.
O presidente da FBH teme pela sobrecarga ainda maior sobre os profissionais de saúde. "Imagina: eles já estão cansados, saturados, fazendo trabalho de herói. Faltar esse tipo de droga, que dá um pouco mais de conforto para os pacientes, é muito complicado. Alguma providência precisa ser tomada", conclui.
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