Saiba o que é pré-eclâmpsia, que causou internação de Lexa

Condição eleva a pressão arterial durante a gravidez e pode provocar complicações como a falência dos rins e do fígado

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Por Layla Shasta
Atualização:

A cantora Lexa, de 29 anos, foi internada em São Paulo devido a um quadro de pré-eclâmpsia, condição em que há o aumento da pressão arterial em gestantes. A artista está grávida de 6 meses de sua primeira filha.

Se não tratado rapidamente, o quadro pode levar a gestante a ter uma série de convulsões, condição chamada de eclâmpsia, e acometer órgãos como rins e fígado.

Pré-eclâmpsia costuma se instalar a partir da 20ª semana de gestação Foto: Igor Borodin/Adobe Stock

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os distúrbios hipertensivos da gravidez, grupo ao qual a doença pertence, afetam cerca de 10% das gestantes globalmente. Entre eles, diz a entidade, a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia se destacam como principais causas de mortalidade materna e neonatal no mundo.

O que é e por que acontece?

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A causa da pré-eclâmpsia ainda não é completamente compreendida, mas os pesquisadores sabem que há relação com alterações na formação dos vasos sanguíneos da placenta. Lorenna Belladonna, ginecologista e obstetra do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), explica que os vasos ficam mais estreitos e isso diminui a capacidade do sangue fluir de maneira adequada, aumentando a pressão arterial.

Por isso, segundo Eduardo Cordioli, diretor técnico de obstetrícia do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista, o conceito mais moderno de pré-eclâmpsia define-a como uma síndrome de má adaptação placentária que implica em doença vascular materna.

“Quando o embrião está se fixando ao útero da mãe, as suas células formam a placenta. Mas, em alguns casos, isso não acontece corretamente e eles não conseguem se ajustar de forma profunda. Essa falta de adesão entre as células da placenta e o útero provoca reações inflamatórias”, explica. A inflamação, por sua vez, pode afetar diversos órgãos, provocando lesões.

“A placenta libera substâncias no organismo da mãe, o que pode causar lesões no rim, fígado, cérebro e até mesmo no bebê, além de subir a pressão dela”, completa Flavia Do Vale, coordenadora de obstetrícia perinatal da Rede D’Or.

Os motivos para essa complicação são multifatoriais. Questões imunológicas, genéticas e inflamatórias parecem estar envolvidas. “A pré-eclâmpsia pode ser causada por diversas situações, como problemas genéticos, onde o organismo da mãe não aceita o DNA do feto, ou por situações de complicações na gestação, como uma ameaça de aborto ou uma infecção”, diz Cordioli.

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Sintomas

Geralmente, a pré-eclâmpsia se instala a partir da 20ª semana de gestação e ocorre especialmente no 3° trimestre.

A pressão superior a 140 mmHg por 90 mmHg é o principal indicador, mas não é só isso. Um aumento de 25% nos níveis de pressão pré-gravidez também é considerado um sinal. “Por exemplo, se uma mulher tinha pressão 10 por 6 durante o pré-natal, um aumento para 12 por 8 já indica alteração, pois ela deveria ter uma pressão de 10 por 6″, explica Cordioli.

Além disso, outros sinais importantes são:

  • Quantidade excessiva de proteína na urina (proteinúria) causada por disfunções renais
  • Inchaço nas mãos, rosto, pernas ou pés. Embora isso seja comum na gravidez, o inchaço repentino e significativo pode ser um sinal de pré-eclâmpsia
  • Disfunção cerebral, como dores de cabeça persistentes ou convulsões, em casos mais graves
  • Dor abdominal no lado direito superior, que pode indicar danos ao fígado
  • Alterações visuais como escotomas (perda temporária da visão)
  • Restrição de crescimento fetal
  • Náuseas intensas, especialmente se ocorrem após ter sido superado o período de enjoos do primeiro trimestre

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Fatores de risco

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Segundo Anne Pereira, ginecologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, existem diversos fatores de risco que podem ser sinal de alerta para o quadro, como:

  • Primeira gestação
  • Gestações múltiplas
  • Hipertensão
  • Diabetes pré-existentes
  • Histórico familiar de pré-eclâmpsia
  • Obesidade
  • Idade materna avançada ou muito baixa
  • Condições como lúpus ou síndrome antifosfolípide

Complicações

O diagnóstico é feito pela detecção de pressão arterial elevada, geralmente acima de 140 mmHg por 90 mmHg, associada à proteinúria confirmada em exames de urina.

Também são realizados exames de sangue e ultrassonografias para avaliar a saúde materna e fetal e monitorar possíveis complicações.

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As complicações incluem insuficiência renal e falência hepática – mas a pré-eclâmpsia pode afetar qualquer órgão. Assim, também podem acontecer complicações cardíacas, como o infarto, e edema pulmonar.

Outra possível alteração é a chamada síndrome HELLP, em que há hemólise, aumento das enzimas hepáticas e baixa contagem de plaquetas – com isso, há o risco de hemorragias prolongadas e difíceis de controlar.

Para o bebê, além da restrição do crescimento, pode acontecer o deslocamento prematuro da placenta, capaz de levar à morte fetal ou hemorragia interna grave, explica Edson Vieira da Cunha Filho, chefe de serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Moinhos de Ventos.

Segundo o médico – que é membro fundador da Rede Brasileira de Estudos sobre Hipertensão na Gestação –, também há a possibilidade de comprometimento da circulação sanguínea do feto.

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A mãe pode ainda ter eclâmpsia, um estágio mais grave e avançado da doença, que pode causar convulsão e Acidente Vascular Cerebral (AVC), explica Belladonna.

“O principal risco da pré-eclâmpsia é único: a morte”, alerta Cordioli.

Tratamento

O tratamento depende da gravidade e da idade gestacional. Em casos leves, o acompanhamento rigoroso com controle da pressão e exames frequentes pode ser suficiente.

Nos casos graves, pode ser necessário hospitalizar a paciente e administrar medicamentos anti-hipertensivos.

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Eventualmente, segundo Fernanda Grossi, membro da Comissão de Gestação de Alto Risco da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), pode ser necessário induzir o parto, pois o único tratamento definitivo é o nascimento do bebê.

O parto é indicado assim que o diagnóstico é feito para gestações com mais de 37 semanas, explica Cunha Filho. No entanto, em casos em que o feto ainda é muito prematuro, a equipe médica deve tentar prolongar a gestação o máximo possível.

“Isso geralmente exige internação hospitalar para monitoramento contínuo, com avaliações laboratoriais frequentes e exames fetais regulares”, diz o médico.

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