Tem vírus nas minhas roupas? Meus calçados? Meus cabelos? Meu jornal?

Especialistas em doenças infecciosas, cientistas e microbiologistas respondem às perguntas dos leitores sobre os riscos de entrar em contato com o vírus

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Por Tara Parker-Pope
Atualização:

Quando pedimos aos leitores que enviassem suas perguntas sobre o coronavírus, surgiu um tema comum: muitas pessoas estão com medo de trazer o vírus para dentro de casa nas roupas, calçados, correspondências e até mesmo jornais.

Pessoas usam máscaras para se proteger do coronavírus no aeroporto JFK, em Nova York Foto: Stephanie Keith/The New York Times

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Conversamos com especialistas em doenças infecciosas, cientistas e microbiologistas para responder às perguntas dos leitores sobre os riscos de entrar em contato com o vírus durante saídas essenciais e nas entregas em domicílio. Ainda precisamos tomar muitas precauções, mas suas respostas foram tranquilizadoras.

Preciso trocar de roupa e tomar banho quando voltar do supermercado?

Para a maioria de nós que estamos em distanciamento social e saímos apenas para ir ao supermercado ou à farmácia, os especialistas concordam que não é necessário trocar de roupa ou tomar banho na volta para casa. Mas é preciso lavar as mãos, sempre. Embora seja verdade que um espirro ou tosse de uma pessoa infectada possa jogar gotículas virais e partículas menores pelo ar, a maioria delas cairá no chão.

Estudos mostram que algumas pequenas partículas virais podem flutuar no ar por cerca de meia hora, mas não se aglomeram feito mosquitos e é improvável que colidam com suas roupas.

“É improvável que uma gota pequena o suficiente para flutuar no ar por algum tempo acabe se depositando nas roupas, por causa da aerodinâmica”, disse Linsey Marr, cientista de aerossóis da Virginia Tech. “As gotículas são pequenas o suficiente para se espalharem no ar ao redor do nosso corpo”.

Mas por que pequenas gotículas e partículas virais dificilmente pousam nas nossas roupas?

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Pedi a Marr que explicasse melhor, já que todos nós estamos assistindo a uma miniaula de aerodinâmica.

“A melhor maneira de descrever isso é dizer que elas flutuam por linhas de fluxo, fluxos de ar, em torno das pessoas, porque nos movemos relativamente devagar. São como os pequenos insetos e partículas de poeira: eles flutuam pelas linhas de fluxo ao redor de um carro em velocidade baixa, mas podem atingir o para-brisa se o carro estiver indo mais rápido”, explicou Marr.

“Os humanos geralmente não se movem rápido o bastante para que isso aconteça”, continuou. “À medida que avançamos, empurramos o ar para fora do caminho, e a maioria das gotículas e partículas também é empurrada para longe. Alguém teria de borrifar grandes gotas durante uma conversa – aquelas pessoas que falam cuspindo – ou numa tosse ou espirro para que essas partículas pousassem nas nossas roupas. As gotículas precisam ser grandes o suficiente para não seguir as linhas de fluxo”.

Então, se você estiver fazendo compras e alguém espirrar em você, o melhor a fazer é ir para casa, trocar de roupa e tomar banho. Mas, fora isso, pense que seu corpo lento está empurrando o ar e as partículas virais para longe de suas roupas, graças a uma física bem simples.

Existe o risco de o vírus ficar no meu cabelo ou barba?

Por todas as razões descritas acima, você não precisa se preocupar com a contaminação viral de seus cabelos ou barba, se estiver fazendo distanciamento social. Mesmo se alguém espirrasse na parte de trás da sua cabeça, qualquer gota que caísse no seu cabelo seria uma fonte improvável de infecção.

“É só pensar no processo necessário para alguém se infectar”, disse Andrew Janowski, professor de doenças infecciosas pediátricas do Hospital Infantil St. Louis da Escola de Medicina da Universidade de Washington. “Alguém precisa espirrar e esse espirro precisa ter uma quantidade X de vírus, para que uma certa quantidade de gotas caia em você”.

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“Aí você precisa tocar na parte do cabelo ou da roupa que está com essas gotículas, que já têm uma redução significativa nas partículas virais”, disse Janowski. “Depois você precisa tocar nessa parte e em seguida em qualquer parte do seu rosto para se infectar. Quando você passa pela sequência de eventos, vê que é bem grande o número de coisas que precisam acontecer da maneira certa. Isso deixa o risco muito baixo”.

Preciso me preocupar em lavar e separar as roupas?

A resposta depende de você estar lavando roupas de rotina ou de uma pessoa doente.

As roupas de rotina não devem ser motivo de preocupação. Lave-as como faria normalmente. Embora alguns tipos de vírus, como o norovírus, possam ser difíceis de lavar, o novo coronavírus, assim como o vírus da gripe, tem uma membrana gordurosa que é vulnerável ao sabão. Lavar suas roupas com sabão comum, seguindo as instruções do tecido, será mais do que suficiente para remover o vírus – isto se tiver vírus nas roupas.

“Sabemos que os vírus podem se depositar na roupa (por causa das gotículas) e depois se soltarem para o ar com movimento, mas seriam necessários muitos vírus para que isto fosse algo preocupante, muito mais do que uma pessoa comum encontraria andando ao ar livre ou indo ao supermercado”, afirmou Marr.

A exceção é se você estiver em contato próximo com uma pessoa doente. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças recomendam que você use luvas ao limpar o ambiente onde está o doente e tome cuidado para não sacudir suas roupas e lençóis. Use a configuração de água mais quente possível na sua máquina de lavar e seque completamente as roupas. Você pode misturar as roupas da pessoa doente com o restante das roupas da casa. Mas é bom deixar a roupa descansando por um tempo, para reduzir o risco, porque o vírus seca e se deteriora.

“Sabemos que esses tipos de vírus tendem a decair mais rapidamente no tecido do que em superfícies sólidas e duras, como o aço ou o plástico”, comparou Marr.

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Por quanto tempo o vírus consegue permanecer viável no tecido e em outras superfícies?

A maior parte do que sabemos sobre quanto tempo esse novo coronavírus consegue sobreviver em superfícies vem de um importante estudo publicado no The New England Journal of Medicine em março. O estudo descobriu que o vírus sobrevive por até três dias em superfícies de metal duro e plástico e até 24 horas em papelão.

Mas o estudo não analisou sua sobrevivência nos tecidos. Ainda assim, a maioria dos especialistas em vírus acredita que a pesquisa sobre o papelão dá algumas pistas sobre como o vírus provavelmente se comporta nos tecidos. As fibras naturais absorventes do papelão parecem fazer com que o vírus seque mais rápido do que em superfícies duras. As fibras do tecido provavelmente têm um efeito semelhante.

Um estudo de 2005 sobre o vírus que causa a Síndrome Respiratória Aguda Grave, outra forma de coronavírus, fornece dados tranquilizadores. Nesse estudo, os pesquisadores testaram quantidades cada vez maiores de amostras virais em papel e num vestido de algodão. Dependendo da concentração viral, foram necessários 5 minutos, 3 horas ou 24 horas para os vírus ficarem inativos.

“Mesmo com uma carga de vírus relativamente alta na gotícula, foi observada rápida perda de capacidade de infecção em papel e algodão”, concluíram os pesquisadores.

Preciso me preocupar com as correspondências, as entregas e o jornal?

O risco de ficar doente ao lidar com correspondências e entregas é extremamente baixo e, por enquanto, apenas teórico. Não há casos documentados de alguém que tenha adoecido ao abrir um pacote ou ler um jornal.

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Mas isso não significa que você não deva tomar precauções. Após manusear correspondência e entregas ou ler o jornal, descarte a embalagem e lave as mãos. Se você ainda estiver especialmente preocupado com isso, siga as orientações do estudo do New England Journal e deixe as correspondências e pacotes descansarem por 24 horas antes de manipulá-los.

Quanto devo me preocupar com a contaminação quando saio para passear com o cachorro ou fazer exercícios?

Suas chances de pegar o vírus quando sai ao ar livre são extremamente baixas, desde que você mantenha uma distância segura das outras pessoas.

“Ambientes ao ar livre são seguros e certamente não há nuvens de gotículas carregadas de vírus”, disse Lidia Morawska, professora e diretora do Laboratório Internacional de Saúde e Qualidade do Ar na Universidade de Tecnologia de Queensland, em Brisbane, na Austrália.

“Em primeiro lugar, qualquer gota infecciosa exalada seria rapidamente diluída pelo ar externo, de modo que suas concentrações logo cairiam a níveis insignificantes”, disse Morawska. “Além disso, a estabilidade do vírus ao ar livre é significativamente menor do que em ambientes fechados. Portanto, o ar livre não é um problema, a menos que estejamos num local muito movimentado – o que, de toda maneira, está proibido agora. Pode dar um passeio e correr sem se preocupar com o vírus no ar, e não há necessidade de lavar imediatamente as roupas”.

Li que, quando chego em casa, preciso tirar os calçados e limpá-los. Tenho mesmo que desperdiçar meus preciosos lenços desinfetantes nas solas dos sapatos?

Os calçados podem abrigar bactérias e vírus, mas isso não significa que eles sejam uma fonte comum de infecção. Um estudo de 2008 encomendado pela Rockport Shoes encontrou muitas coisas nojentas – entre elas bactérias fecais – nas solas dos nossos calçados. Um estudo recente da China descobriu que metade dos profissionais de saúde tinha coronavírus em seus calçados, o que não é de surpreender, pois eles estavam trabalhando em hospitais cheios de pacientes infectados.

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Então, o que devemos fazer com os calçados? Se eles são laváveis, você pode lavá-los. Alguns leitores perguntaram se podem limpar as solas com lenços desinfetantes. Isto não é recomendado. Não apenas porque desperdiça bons materiais de limpeza (que estão em falta), como também traz os germes que permaneceriam na sola ou no chão diretamente para as mãos.

Você pode fazer duas coisas: tentar não pensar no que está escondido nos seus calçados, ou conversar com seus familiares sobre a possibilidade de se tornarem uma família sem calçados dentro de casa. Se você tem um filho que engatinha ou brinca no chão, um parente com alergias ou mora com alguém que tem um sistema imunológico comprometido, uma casa sem calçados pode ser uma boa ideia para a higiene geral.

Janowski disse que os calçados não são uma grande preocupação para a infecção por coronavírus, mas seu estômago pode revirar só de pensar sobre onde eles estiveram.

“Se você quer falar sobre bactérias, tudo que precisa saber é que elas gostam de viver nos calçados”, disse Janowski. “Você nunca sabe no que seus calçados andaram pisando por aí”. / Tradução de Renato Prelorentzou. 

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