Você sabe fazer e manter amizades? Confira aqui

Para construir amizades mais próximas, os especialistas comentam que é importante dizer a seus amigos como eles são apreciados, ser vulnerável e “replantar” o relacionamento

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Por Teddy Amenabar (The Washington Post)

Faz 23 anos que Chris Michaud reúne dezenas de amigos no seu apartamento no Brooklyn para uma reunião de fim de ano – que ele agora chama de “Dia da Tortinha”, porque os pratos servidos são sempre pequenininhos.

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Michaud, de 47 anos, conta que a tradição começou na época em que seu grupo de amigos se encontrava o tempo todo para assistir a filmes ou jogar Dungeons and Dragons. Agora, eles estão muito ocupados para essas coisas. Restou só o Dia da Tortinha.

“É a única coisa que todos nós ainda fazemos”, comenta Michaud, que dirige uma agência de viagens que planeja férias na Disney. “Não vamos para as festas de aniversário dos amigos porque todo mundo está muito ocupado planejando as festas de aniversário dos filhos”.

As pessoas geralmente pensam que as amizades próximas se formam organicamente. Mas os pesquisadores que estudam relacionamentos afirmam que, na verdade, as pessoas que têm as melhores amizades são as que se dedicam a essas relações. O “Dia da Tortinha” é o tipo de reunião que fortalece esses laços.

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“Se quisermos viver uma vida plena e saudável, precisaremos descobrir um jeito de priorizar os amigos”, diz Marc Schulz, professor de psicologia da Bryn Mawr e diretor associado do Estudo de Harvard sobre o Desenvolvimento de Adultos.

Pesquisas mostram que relacionamentos próximos são essenciais para uma vida saudável. As pessoas que podem contar com uma rede de relacionamentos íntimos e solidários têm mais condições de enfrentar crises de ansiedade e depressão. A teoria é que as amizades próximas nos ajudam a regular o estresse durante momentos desafiadores, explica Robert Waldinger, professor de psiquiatria da Harvard Medical School e diretor do Estudo de Harvard sobre o Desenvolvimento de Adultos.

Amigos próximos oferecem apoio, alívio ou simplesmente breves momentos de leveza uns aos outros. Mas os norte-americanos estão passando menos tempo com seus amigos, e o cirurgião-geral dos Estados Unidos alertou que a solidão – a percepção de isolamento social – agora é uma ameaça à saúde pública tanto quanto o tabagismo. Ela pode até aumentar o risco de demência.

Cultivar amigos é fundamental para ter uma vida plena e saudável. Foto: deagreez/Adobe Stock

Então, como você pode investir nas amizades?

As amizades crescem quando duas pessoas se veem regularmente (de preferência, porque moram perto uma da outra), quando se unem por interesses comuns e quando começam a confidenciar coisas uma à outra, dizem os pesquisadores.

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Uma das partes mais desafiadoras da conexão social é encontrar tempo fora do trabalho e da família para investir nos amigos.

“Nós temos amigos. Entendemos o valor dos amigos”, diz Jeffrey Hall, professor de estudos de comunicação da Universidade do Kansas. Mas “é muito difícil priorizar o tempo necessário para realmente desfrutar das nossas amizades”.

Em um estudo sobre novas amizades publicado em 2019, Hall determinou que, em geral, são necessárias mais de 200 horas juntos para que um conhecido se torne um amigo próximo. Mas a maneira como você passa o tempo com alguém e os assuntos sobre os quais conversam podem acelerar o processo.

“Não basta passar muito tempo juntos no trabalho”, avisa Hall. “Geralmente precisamos de uma mudança de contexto”.

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  • “Replante” o relacionamento

Mude o cenário e varie os lugares onde vocês socializam. Replantar uma amizade ajuda as pessoas a mostrarem lados diferentes de si mesmas, o que aprofunda os vínculos, avalia Marisa G. Franco, professora da Universidade de Maryland e autora de Platonic: How to Make and Keep Friends As An Adult [algo como “Platônico: Como fazer e manter amigos quando adulto”, em tradução direta] (O termo “replantar” foi usado pela primeira vez em um relatório sobre amizades próximas).

Convide um colega de trabalho ou de classe para almoçar ou se juntar ao seu time de futebol, sugere Hall. Vocês vão começar a falar sobre o trabalho ou escola porque é um interesse comum, mas a conversa vai avançar para, digamos, times esportivos ou séries de TV favoritas. “Este é o processo de desenvolvimento da amizade”, afirma Hall. “É um processo de dizer: quero saber mais sobre você além daquilo que já compartilhamos”.

  • Seja vulnerável

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Conte a um amigo sobre seus problemas, aconselha Marisa. As pessoas se espelham umas nas outras nas conversas. Se você não se permitir ficar vulnerável, a outra pessoa também não vai dizer tudo. “Se você quiser aprofundar a relação, provavelmente vai ter que dar o primeiro passo”, acrescenta. “Vulnerabilidade gera vulnerabilidade”.

Fazer confidências é um bom jeito de construir um relacionamento próximo, observa Melanie Dirks, presidente do departamento de psicologia da Universidade McGill. Mas alguns amigos talvez não queiram falar sobre suas preocupações mais íntimas, pondera Waldinger. E tudo bem: amizades diferentes proporcionam benefícios diferentes.

  • Diga a seus amigos que eles são importantes

As pessoas muitas vezes escolhem relacionamentos de acordo com o risco de serem rejeitadas, nota Marisa. Quando dizemos a uma pessoa que ela é importante para nós e somos gratos por ela, estamos dizendo: “Não vou rejeitar você”.

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Três dicas para ser um amigo melhor

  • Faça pequenos gestos. Alguns exemplos são enviar mensagens de texto a três amigos todas as manhãs e reservar um tempo na agenda para encontros periódicos. Waldinger e Schulz chamam isso de “condicionamento social”, algo parecido com se exercitar regularmente. “Quando não exercitamos esses músculos sociais, nós os perdemos”, esclarece Schulz, que co-escreveu o livro The Good Life [”A boa vida”, em tradução livre] com Waldinger.
  • Esteja lá para seus amigos. Você não precisa dizer “sim” a todos os convites, mas é importante estar presente nos “momentos cruciais”, seja um noivado, uma promoção no emprego – ou talvez uma demissão ou divórcio, orienta Marisa. “A presença dos amigos nesses momentos de grande emoção pode realmente determinar como vemos a amizade em geral”, completa.
  • Saiba ouvir. É importante demonstrar interesse e atenção total ao que um amigo está dizendo, declara Rich Slatcher, professor de psicologia da Universidade da Geórgia. Quando uma pessoa precisa de ajuda, ela procura um amigo que seja receptivo. “É bem simples”, resume Schulz. “Queremos ser vistos, ouvidos e compreendidos”.

A quantidade de amigos próximos de que uma pessoa precisa para se sentir socialmente conectada é algo subjetivo, informa Waldinger.

Você pode se perguntar de quando em quando: tenho alguém para ligar quando estou com alguma preocupação? Tenho pessoas com quem me encontrar para meus hobbies ou outros interesses?

Um fato da vida é que a maioria dos relacionamentos tem altos e baixos, mas é por isso que é importante continuar construindo amizades com as pessoas de que você gosta, destaca Waldinger.

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As pessoas tendem a ter a rede social mais ampla aos 20 e poucos anos, quando ainda não estão formando família, diz Melanie. À medida que as pessoas envelhecem, elas costumam diminuir o círculo de amizades, mas ainda assim relatam a mesma satisfação com as conexões sociais.

É possível formar amizades próximas em qualquer idade. Mas à medida que a vida fica mais atarefada, talvez seja necessário se colocar em situações em que você possa conhecer novas pessoas. “Com as amizades, precisamos ser mais proativos e não deixar as coisas em segundo plano”, afirma Schulz. “Isso significa criar oportunidades e aproveitar o momento”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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