As mudanças climáticas estão no centro dos debates mundo afora. No final de abril, lideranças de 40 países se reuniram em evento organizado pelo presidente norte-americano Joe Biden para discutir as ações de enfrentamento à crise causada pelo aquecimento global. Representantes governamentais apresentaram suas metas para redução do desmatamento e das emissões de poluentes e gás carbônico.
Se, por um lado, os órgãos públicos começam a se movimentar para garantir uma maior sustentabilidade em suas nações, por outro, é fundamental que o setor privado também endosse compromissos contra o aquecimento global. E o agronegócio tem papel crucial nesse processo, conforme avalia Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP).
“É importante que a iniciativa privada assuma o compromisso de zerar o balanço das emissões”, diz Nobre. Vale destacar que, de acordo com o último relatório do Sistema de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, realizado pelo Observatório do Clima, a emissão desses gases aumentou 9,6% em 2019, último dado disponível, na comparação com o ano anterior.
Apesar do aumento na emissão de gases causadores do efeito estufa, o setor privado tem se movimentado para mudar essa tendência. Investimentos em inovação e tecnologia podem ser a saída para reverter o quadro atual. “O desafio é grande. Ao mesmo tempo em que temos de reduzir as emissões, temos de aumentar a produção de alimentos, já que a população mundial está crescendo, e a estimativa é que atinja cerca de 10 bilhões de pessoas até 2050. Com a tecnologia, é possível produzir mais em menores áreas. O principal desafio, no entanto, é fazer isso em escala”, diz Nobre.
Ações pela solução climática global
“Estamos vivendo uma pandemia com consequências gravíssimas para todos. Ao mesmo tempo, há uma grande crise que se desenrola, que são as mudanças climáticas que afetam a vida em nosso planeta. No caso da pandemia, felizmente encontramos a vacina. Quanto ao aquecimento global, temos que agir com urgência para combater os seus efeitos antes que seja tarde demais”, diz Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS. “Ficamos na intersecção entre o consumidor e o produtor. Temos a responsabilidade de promover a transformação dos mercados agropecuários e torná-los mais produtivos, mais sustentáveis e parte dessa solução climática global”, enfatiza o executivo.
O primeiro passo dessa jornada foi dado com a JBS assumindo o compromisso de ser Net Zero até 2040. Significa dizer que a empresa vai zerar o balançode emissões de gases de efeito estufa. O executivo explica que a meta é reduzir emissões diretas e indiretas, e isso inclui todas as operações globais da empresa, da cadeia de valor e de fornecedores dos fornecedores.
Para isso, a empresa desenvolverá metas de redução de emissões de gases de efeito estufa em suas operações globais e cadeias de valor na América do Sul, na América do Norte, na Europa, no Reino Unido, na Austrália e na Nova Zelândia. Como próximo passo, a JBS apresentará um plano com base científica para chegar ao Net Zero, de acordo com os critérios estabelecidos pela iniciativa Science Based Targets (SBT). A companhia fornecerá, ainda, atualizações anuais sobre seu progresso para garantir a transparência, além de passar a divulgar seus riscos financeiros ligados à mudança do clima, em linha com a iniciativa Task Force on Climate-Related Financial Disclosure (TCFD).
A JBS vai investir US$ 1 bilhão na próxima década em soluções que visam reduzir as emissões de carbono em suas operações, engajando colaboradores e financiando projetos. Entre os compromissos da companhia está a diminuição em, pelo menos, 30% das emissões de escopos 1 (emissões sobre as quais a empresa tem responsabilidade direta) e 2 (fontes que provocam emissões indiretamente, por consumirem energia elétrica ou térmica), em comparação com as do ano de 2019. O Net Zero 2040 da JBS compreende ainda as emissões de escopo 3 (que engloba toda a sua cadeia de valor, incluindo fornecedores de fornecedores).
Tolerância zero com o desmatamento ilegal
Para manter o aquecimento abaixo de 1,5oC, meta do acordo de Paris, as emissões de CO² teriam que diminuir cerca de 45% até 2030, e as emissões líquidas de gases de efeito estufa deveriam ser zeradas até 2050. “Combater o desmatamento é parte fundamental para o mundo atingir esse objetivo. Mais de 90% do desmatamento da Amazônia é ilegal”, diz Carlos Nobre, ao afirmar que é necessário diversificar o modelo de produção de alimentos e atuar no combate ao desmatamento ilegal.
“Temos uma política de tolerância zero para o desmatamento ilegal e, há mais de dez anos, monitoramos todos os nossos fornecedores diretos para garantir o cumprimento de critérios socioambientais. Agora, por meio de tecnologia blockchain, vamos estender esse mesmo monitoramento para os fornecedores de nossos fornecedores, assegurando o fim do desmatamento ilegal em toda a nossa cadeia produtiva na Amazônia até 2025”, diz Márcio Nappo, diretor de Sustentabilidade da JBS.
Além disso, a JBS também passou a integrar em 2020 a Tropical Forest Alliance (TFA), iniciativa ligada ao Fórum Econômico Mundial que estimula e promove ações voltadas ao fim do desmatamento no mundo. A Companhia compõe, ainda, o Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) e o Global Roundtable for Sustainable Beef (GRSB), iniciativas que estimulam ações pelo fim do desmatamento e contribuem para melhorar a sustentabilidade ao longo da cadeia de valor.
JBS cria fundo para apoiar bioeconomia na Amazônia
A floresta e o desenvolvimento podem caminhar juntos e de maneira harmoniosa. É neste contexto que o Fundo JBS pela Amazônia foi criado. O objetivo é incentivar e financiar projetos que visam ao desenvolvimento sustentável do bioma amazônico, promovendo a conservação e o uso sustentável da floresta, a melhoria da qualidade de vida da população local e o desenvolvimento com uso de tecnologia e ciência aplicada.
As ações apoiadas pelo fundo se dividem em três frentes: conservação e restauração da floresta – com a implementação de sistemas agroecológicos e aumento da produtividade das áreas já exploradas; desenvolvimento socioeconômico das comunidades – que visa buscar ações para melhorar a vida das comunidades amazônicas; e desenvolvimento científico e tecnológico – que vai atuar em novas maneiras, práticas e sistemas de produção, combinando geração de riqueza com o ambiente.
A presidente do fundo, Joanita Maestri Karoleski, explica que os três pilares foram definidos de maneira separada, mas estão totalmente conectados. “Ou seja, não dá para fazer bioeconomia sem ciência e tecnologia e sem pensar que é preciso preservar”, diz.
De acordo com a empresa, a missão do fundo é financiar o desenvolvimento sustentável das comunidades locais e das entidades que atuam no bioma amazônico. Iniciativas que desenvolvam a bioeconomia, o reflorestamento e o desenvolvimento tecnológico na região serão as prioridades do fundo. A companhia se comprometeu a aportar R$ 250 milhões nos primeiros cinco anos. Além disso, a JBS vai atrair parceiros para investir e ainda dobrar o que cada um deles disponibilizar de recursos. Com isso, espera totalizar R$ 1 bilhão até 2030. Agora em maio serão anunciados os primeiros projetos apoiados.
Ficamos na intersecção entre o consumidor e o produtor. Temos a responsabilidade de promover a transformação dos mercados agropecuários e torná-los mais produtivos, mais sustentáveis e parte dessa solução climática global
Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS
O desafio é grande. Ao mesmo tempo em que temos de reduzir as emissões, temos de aumentar a produção de alimentos, já que a população mundial está crescendo, e a estimativa é que atinja cerca de 10 bilhões de pessoas até 2050
Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP
Assista o vídeo da Campanha Net Zero da JBS
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