À frente da próxima Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30) junto ao embaixador André Corrêa do Lago, que preside a conferência, a secretária nacional de Mudança do Clima Ana Toni disse que o debate sobre transição energética “chegou atrasado para a sociedade brasileira” em relação ao contexto internacional. O evento ambiental da ONU será realizado em novembro em Belém - é a primeira vez que a sede será na Amazônia.

Segundo Ana Toni, esse atraso se deve ao fato de o Brasil ter uma matriz elétrica e energética “mais limpa” do que outros países do mundo, como Estados Unidos, África do Sul e nações da Europa, que discutem o tema há mais tempo.
“Cada país tem a sua peculiaridade, as suas necessidades e o mais importante no tema de energia é adensar (a discussão) e ter um debate de como essa transição vai acontecer no Brasil”, disse em entrevista à Rádio Eldorado, do Grupo Estado.
Recentemente, o tema da exploração de petróleo na região da Margem Equatorial da Foz do Rio Amazonas tem colocado de lados opostos ambientalistas e defensores da exploração da fonte fóssil, defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O plano de exploração de petróleo na região, a 175 quilômetros do litoral do Amapá, tem causado divisões até mesmo dentro do governo federal - a ala ambiental, cuja ministra é Marina Silva, não é favorável ao projeto. Lula chegou a critica o “lenga lenga” do Ibama, órgão ligada à pasta de Marina, na discussão sobre a proposta.
Como o presidente tem apontado a agenda climática como uma das prioridades da sua gestão, o tema promete ser uma dor de cabeça ao longo do ano. A emissão de gases de efeito estufa resultante da queima de combustíveis fósseis é considerada uma das principais causas do aquecimento global.
Na conversa com Ana Toni, o secretário executivo do Observatório do Clima e colunista da Eldorado, Márcio Astrini, perguntou se vai ser possível avançar sobre o tema dos combustíveis fósseis na conferência no Brasil. Astrini estreou uma coluna no Jornal Eldorado nesta segunda-feira, 17, para tratar dos temas mais relevantes da COP-30.
Segundo ela, a decisão sobre o que sai como resolução da conferência é definida pelos participantes e “parte de um processo muito mais longo”, mas a intenção do Brasil é “avançar na implementação do que já foi acordado”, o que inclui o tema da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.
Em 2023, o documento final da COP-28, de Dubai, representou um consenso histórico sobre a transição dos combustíveis fósseis para fontes renováveis. “A pergunta é o que fazer para implementar isso”, disse Ana.
Segundo ela, há expectativa de muitos países de que o tema seja abordado em novembro, detalhando pontos negociados, como a meta de triplicar a geração de energia renovável, melhorar eficiência energética e o acordo de que os países ricos ajudem a financiar a transição dos países pobres.
“Muitas coisas foram acordadas e a intenção da presidência da COP é balancear todas essas agendas que foram acordadas, e que seja visto como um momento para avançar”, acrescentou.
Ouça a entrevista na íntegra abaixo.