‘Hipopótamos da cocaína’: animais importados por Pablo Escobar têm população maior que a estimada

Quatro animais foram levados ilegalmente pelo traficante para a Colômbia, mas agora eles já são mais de 200

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Foto do author Roberta Jansen
Atualização:

A população invasora de hipopótamos da Colômbia é ainda maior do que se imaginava, segundo o mais recente censo dos animais feito no país sul-americano. Cientistas já estavam preocupados com os hipopótamos, que ameaçam os animais e plantas nativos, e a contagem oficial só fez aumentar os temores, segundo mostra matéria publicada na revista científica Nature neste mês. Especialistas pedem medidas drásticas para a redução dessa população.

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Há alguns anos, pesquisadores fizeram uma projeção com base na velocidade de reprodução dos animais e estimaram que, em 2020, seriam 98 indivíduos vivendo ao longo das margens do Rio Magdalena e seus afluentes. Mas o novo estudo, que contou os animais pessoalmente e por meio de drones, estima que sejam de 180 a 215 indivíduos vivendo no país.

“O argumento que usavam para não termos de lidar com os hipopótamos era que nossa informação seria limitada e nossos argumentos teóricos”, afirmou à revista Nature o ecologista Rafael Moreno, que participou do estudo como membro do Instituto de Pesquisa e Recursos Biológicos Alexander von Humboldt, de Bogotá. “Mas conseguimos descartar esses argumentos. O novo estudo mostra que esse é um problema real e o Estado precisa agir urgentemente.”

A população invasora de hipopótamos da Colômbia é ainda maior do que se imaginava, segundo um censo dos animais divulgado esta semana Foto: REUTERS/Albeiro Lopera

Os “hipopótamos da cocaína”, como são conhecidos no país, são todos descendentes de três fêmeas e um macho importados ilegalmente para o país pelo traficante Pablo Escobar. Depois da morte de Escobar, em 1993, os hipopótamos fugiram do parque privado onde foram viviam e se instalaram ao longo do Rio Magdalena. Sem predadores naturais na região ou períodos de seca como os que costumam castigar a África, os herbívoros gigantes se reproduziram rapidamente, formando a maior população desses animais fora do continente africano.

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Autoridades colombianas vêm enfrentando dificuldades de lidar com os animais. Depois de terem autorizado o abate de um macho especialmente agressivo em 2009, uma foto dos soldados posando ao lado do animal morto causou polêmica. Atualmente, algumas comunidades dependem do turismo trazido pelos hipopótamos, enquanto que outras – em particular as de pescadores – vivem com medo dos animais, que são extremamente territorialistas e podem pesar até três toneladas.

Os hipopótamos da cocaína, como são conhecidos no país, são todos descendentes de três fêmeas e um macho importados ilegalmente para o país pelo traficante Pablo Escobar Foto: Acervo/Reuters

O Ministério do Meio Ambiente da Colômbia encomendou o censo para ter ideia mais acurada do tamanho do problema e sobre como lidar com a situação. Concluir o censo não foi tarefa simples. Apesar do tamanho dos animais, não é simples encontrá-los e contá-los adequadamente. São animais de hábitos noturnos e que passam até 16 horas por dia submersos na água.

Os cientistas do Instituto Humboldt, da Universidade Nacional da Colômbia e do Cornare, uma instituição ambiental que administra a área onde os animais vivem, fizeram várias viagens à região em 2021 e 2022 de carro, de barco e a pé para contar os hipopótamos.

Em locais onde os pesquisadores não teriam segurança, foram usados drones. O trabalho indicou que 37% dos animais são jovens, indicando que continuam se reproduzindo com rapidez. Uma hipótese para isso é que os hipopótamos estariam atingindo a idade reprodutiva antes do que ocorre na África por conta das condições ambientais mais propícias e da redução de conflitos por recursos e territórios.

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O trabalho mostrou também como os hipopótamos estão impactando o ecossistema local. Ao entrar e sair dos rios, por exemplo, seus corpos gigantes estão provocando erosão nas margens e criando longos caminhos de lama que estão dividindo a floresta. Além disso, eles estão roubando habitat e recursos alimentícios de outros animais nativos, como peixes boi, lontras e capivaras.

Já foram registrados ataques a humanos em 2020 e 2021 e um acidente de carro que levou à morte de um hipopótamo no mês passado, uma solução é urgente, dizem os cientistas. Uma estratégia que vem sendo tentada é a esterilização dos animais, mas a estratégia é lenta e custosa. Segundo uma estimativa, seriam necessários 45 anos para erradicar o grupo a um custo de pelo menos US$ 850 mil.

Outra estratégia seria capturar os animais, anestesiá-los e levá-los de helicóptero a algum local para serem castrados. O custo seria um pouco mais baixo, US$ 530 mil, mas seriam necessários 52 anos para a erradicação. Outra ideia é transportar os animais os animais para santuários no exterior, mas, mais uma vez, o custo seria muito alto: US$ 3,5 milhões. Muitos defendem a matança dos animais.

“Há um peso moral a ser levado em conta na decisão de matar os hipopótamos, mas o peso da inação é ainda maior”, afirmou Moreno à publicação científica. “Espero que os políticos consigam entender isso.”

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