John Kerry reafirma compromisso dos EUA em financiar proteção da Amazônia, mas não detalha valores

Enviado dos Estados Unidos para questões do Clima, John Kerry disse que governo Biden vai, agora, travar “luta legislativa” para liberar recursos: “a preservação dessa floresta é crítica e essencial ao mundo”

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Por André Borges

BRASÍLIA - O assessor especial dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, disse nesta terça-feira, 28, que os americanos vão participar do financiamento de programas ambientais previstos no Fundo Amazônia, entre outros acordos de proteção à região. O valor exato do repasse dos americanos para a iniciativa, porém, ainda não foi divulgado.

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Kerry sinalizou que, apesar da vontade do governo americano, é preciso que o assunto passe, antes, pelo crivo do Congresso dos EUA. ““Teremos uma luta legislativa para aprovação da transferência para o Fundo Amazônia”, afirmou.

Em encontro com a ministra do Meio Ambiente e Mudança no Clima (MMA), Marina Silva, John Kerry elogiou a condução do assunto pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva e disse que o presidente Joe Biden trata do tema como pauta central de sua gestão.

“A preservação da floresta é crítica e essencial. O presidente Joe Biden está profundamente envolvido com essa questão. Temos compromissos de trabalhar com Fundo Amazônia, com outras entidades, novas possibilidades”, comentou Kerry.

O assessor do governo americano disse que pretende voltar ao Brasil nos próximos meses, para fazer uma visita in loco à Amazônia, ao lado de Marina Silva. Kerry destacou o papel de protagonismo do Brasil sobre a preservação ambiental e disse que o País “estará à frente da definição dessa jornada”, uma vez que a manutenção da Amazônia “é o teste de toda a humanidade”.

Reunião de cúpula do Meio Ambiente com o representante do Clima nos EUA, John Kerry Foto: Ministério do Meio Ambiente

Ao lado de Kerry, Marina Silva destacou o papel de parceria entre o Brasil e os EUA. “Há uma compreensão dos nossos países, naquilo que foi manifestado pelo presidente Lula e o presidente Biden. Temos um grande desafio para resolver, um grave problema da humanidade, que é o problema da mudança climática. A questão é como combater as consequências, os efeitos negativos dessa mudança do clima, sem que a gente venha a criar prejuízos, em termos de ganhos econômicos sociais que melhorem a vida das pessoas”, disse Marina.

A ministra do MMA afirmou que um grupo de trabalho de alto escalão vai trabalhar nas pautas bilaterais sobre o assunto. Marina disse que EUA vão se mobilizar para prover seus recursos, mas que o país tem a “complexidade deles”.

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Segundo Marina, além da questão financeira, os Estados Unidos têm um peso político a desempenhar sobre o assunto. “Estamos todos muito agradecidos com o empenho do governo americano em dar consequência a essa agenda. Discutirmos um tema que, para nós, é muito importante e que já foi anunciado pelo presidente Lula e o presidente Biden, em relação aos Estados Unidos fazerem parte do Fundo Amazônia. Essa é uma cooperação que já vem acontecendo em relação a Noruega a Alemanha, e que conta com a filantropia global. Celebramos que os Estados Unidos também esteja imbuído desse propósito.”

Nesta terça-feira, 28, as delegações dos dois países fazem reuniões de trabalho no MMA. Ontem, Geraldo Alckmin afirmou que os Estados Unidos não fixaram valor para doação ao Fundo Amazônia, mas se comprometeram a enviar “recursos vultosos” à iniciativa que visa a preservar e combater o desmatamento do bioma. Alckmin se reuniu com o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, em Brasília.

“O enviado John Kerry não definiu valor, mas colocou que vai se empenhar junto ao governo, ao Congresso americano e junto à iniciativa privada para termos recursos vultosos, não só no Fundo da Amazônia, mas como também em outras cooperações”, disse o vice-presidente a jornalistas após o encontro ocorrido no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores.

O presidente Lula esteve em Washington (EUA) neste mês e, após o encontro com o presidente Joe Biden, o governo americano anunciou a intenção de contribuir com o Fundo Amazônia. O valor, no entanto, ainda não foi divulgado.

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Alckmin afirmou que os Estados Unidos não exigiram contrapartida do Brasil para anunciar os recursos e destacou que os americanos entendem o compromisso do atual governo com a questão climática. “O compromisso do Brasil já ficou claro na presença do presidente Lula no encontro com o presidente Joe Biden. O compromisso do Brasil de ser protagonista no combate às mudanças climáticas. É uma questão grave, e esse é o momento. Não podemos deixar passar esse momento”, defendeu.

O Fundo Amazônia ficou parado entre 2019 e 2022, após países suspenderem os repasses por contrariedade com a política ambiental conduzida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. A iniciativa foi reativada em janeiro deste ano por determinação do presidente Lula. Desde a retomada do Fundo, Noruega e Alemanha - principais doadores - anunciaram a liberação de recursos. A União Europeia também já informou que pretende fazer repasses.

Preocupação com o desmatamento. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, apontam que os alertas de desmatamento na Amazônia Legal identificados entre os dias 1 e 17 de fevereiro já representam o pior índice para mês desde o início da série histórica, iniciada em 2015.

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Segundo as informações do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), o volume de desmatamento chegou a 209 km² no período, ante 199 km² verificados no mês de fevereiro do ano passado. O volume é quase do dobro da área desmatada em fevereiro de 2015, por exemplo, quando o sistema captou 115 km² de devastação.

Em janeiro, o número do desmatamento tinha registrado forte queda em relação ao mesmo mês dos anos anteriores. Foram 167 km² em janeiro de 2023, diante de 430 km² em janeiro de 2022. Os especialistas apontam que fatores como forte incidência de chuvas podem ter influência nos dados, além das ofensivas contra os crimes que assolam as florestas. Especialistas apontaram a necessidade de pelo menos quatro meses para avaliar o efeito das ações anunciadas pelo governo nas taxas de devastação florestal.

Os alertas do sistema Deter servem como bússola para a questão do desmatamento, apontando áreas mais devastadas e orientando ações de órgãos como o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).

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