Desafios do Brasil no século 21

Opinião | Precisamos apresentar COP 30 à Rio+20

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Por Equipe IDS

Por Marcos Woortmann, cientista político e diretor adjunto do Instituto Democracia e Sustentabilidade

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Em novembro o Brasil vai sediar a 30ª Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, evento crucial para o futuro de uma humanidade que já começa a sentir os efeitos das mudanças climáticas. A escolha do Brasil como sede da COP 30 reconhece a importância do país na agenda climática global, e é uma oportunidade para que o país lidere pelo exemplo, demonstrando que é possível avançar no diálogo sobre temas cruciais, como o financiamento e a adaptação climática, e o abandono gradual dos combustíveis fósseis. Esse exemplo, contudo, não deve se limitar ao avanço nas discussões, mas também pode se dar na realização de um evento de grande porte de forma sustentável, inclusiva e responsável. Mas nesse ponto, temos um grande ausente.

Para que a COP 30 seja um sucesso, não basta apenas discutir a sustentabilidade. É preciso que o próprio evento seja organizado de forma sustentável, desde a escolha dos locais até a gestão de recursos e inclusão das pessoas, a fim de evitar contradições e gerar um impacto negativo para o meio ambiente e para a sociedade. De nada adianta realizar um evento político sobre sustentabilidade em que as pessoas trabalhem em condições precarizadas, que contribua para o crescimento do lixão local, ou que não permita o acesso à comida de qualidade e em valor acessível para os participantes, como foi o caso em COPs anteriores. 

O Brasil já demonstrou sua capacidade de realizar grandes eventos políticos internacionais de forma sustentável, como durante a Conferência Rio+20, realizada em 2012. Naquele momento, adotou-se uma estratégia ampla: gestão de emissões de gases de efeito estufa do evento e viagens aéreas dos participantes; gestão de resíduos sólidos inclusiva com catadores como educadores ambientais; uso racional de água e energia com acompanhamento em tempo real; priorização de alimentos sustentáveis oferecidos aos participantes; oferta de infraestrutura e serviços para pessoas com deficiência, entre outras iniciativas. Tudo isso está documentado em português e inglês no Relatório de Sustentabilidade da Rio+20, disponível no site da Fundação Alexandre de Gusmão, do Itamaraty. Isso há mais de uma década! 

A COP 30 deve se inspirar no exemplo da Rio+20 e ir além, adotando medidas ainda mais ambiciosas para garantir a sustentabilidade na organização do evento, já que avançamos muito em conhecimento e tecnologia nesses 13 anos. Nesse sentido, desde 2015 o mundo tem um ótimo guia: os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Assim, torna-se inevitável perguntar: e se a COP 30 fosse um exemplo de aplicação prática dos 17 ODS, com ações e iniciativas de alto impacto positivo em cada um desses objetivos? Seria sonhar demais? Afinal, de que serve uma agenda global de desenvolvimento das Nações Unidas, se ela não orientar nem a realização de uma conferência da própria ONU?

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Pouco tem se falado sobre minimizar o impacto negativo da realização do evento e maximizar seu impacto positivo nas discussões preparatórias para a COP 30. Questões como reduzir ao máximo as emissões de gases de efeito estufa do evento, seu consumo de água e energia, a geração de resíduos e o uso de materiais não sustentáveis pouco parecem tomar as mentes dos organizadores da futura conferência em Belém do Pará, uma das cidades mais ameaçadas pelas mudanças climáticas em todo o mundo.

Também aguardamos os debates amplos e com metas claras para a inclusão social na organização do evento, garantindo, por exemplo, a acessibilidade para pessoas com deficiência, a participação e a geração de oportunidades de trabalho e renda para a população local, com destaque para a imensa riqueza natural, cultural e gastronômica da sociobiodiversidade amazônica. E aguardamos também, em sintonia com a revisão das NDCs, que pode e deve ser ambiciosa, a ousadia de traçar parâmetros mais sustentáveis para a realização das próximas COPs a partir do exemplo brasileiro. Experiência como país nós temos, já não mostramos antes ao mundo que é possível?

Ao sediar a COP 30, o Brasil tem a oportunidade de se consolidar como um líder na agenda climática global e demonstrar na prática que é possível conciliar desenvolvimento econômico, preservação ambiental e inclusão. Num evento onde se pensa globalmente e se deve agir localmente, a fala convence, mas o exemplo arrasta.

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