RIO - Quando, em 1990, o primeiro relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) foi lançado, poucos políticos e praticamente nenhum governante levou o documento muito a sério. O texto já alertava para as catastróficas consequências da elevação média das temperaturas no planeta.
Ondas de calor extremo, frentes frias congelantes, elevação dos níveis do mar. Tudo isso já estava previsto havia pelo menos trinta anos como consequência do acúmulo de CO2 na atmosfera. Por alguma razão, porém, a maioria preferiu encarar como algo longínquo. Só aconteceria em um futuro muito distante. Nenhum de nós estaria mais aqui para testemunhar. Se é que aconteceria mesmo. Muitos duvidavam da acurácia das ciências climáticas.
Agora, com os eventos climáticos extremos inclusive nos países ricos, o mundo parece, finalmente, se dar conta da realidade. Todos os alertas desde então eram reais e urgentes. Conforme a primeira parte do sexto relatório do IPCC, divulgado nesta segunda-feira, 9, algumas consequências das mudanças climáticas já são irreversíveis. Somente reduções drásticas nas emissões de CO2 ainda nesta década podem impedir que a temperatura média alcance níveis desastrosos.
O IPCC foi formado em 1988. Reúne alguns dos principais cientistas climáticos do mundo: foram 234 pesquisadores de 66 países, incluindo o Brasil. Sua missão é de preparar abrangentes relatórios com base no conhecimento acadêmico disponível sobre o clima para embasar ações políticas. Desde que foi formado, já estava claro para os especialistas que as crescentes emissões de CO2 precisariam ser reduzidas. A cada sete ou oito anos um novo relatório é publicado. Reúne trabalhos de centenas de cientistas e milhares de estudos.
Depois que o lançamento do sexto relatório estiver encerrado no ano que vem, o IPCC continuará trabalhando. Pesquisadores vão submeter estudos para revisão de pares e publicação em revistas científicas. Os especialistas do IPCC vão selecionar os estudos mais importantes para inclusão no sétimo relatório, cuja publicação deve acontecer no fim desta década.
Haverá pelo menos uma grande diferença entre este relatório divulgado nesta semana e o próximo. Este é o último documento publicado num momento em que ainda temos uma chance de evitar as piores consequências de um colapso climático.
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