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The Economist: A questão climática

A mudança climática afeta tudo o que essa publicação noticia. Deve ser abordada com urgência

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Por The Economist
Atualização:

De um ano para o outro, você não consegue sentir a diferença. À medida que as décadas se acumulam, a história se torna clara. As faixas em nossa capa representam a temperatura média do mundo todos os anos desde meados do século 19. Os anos azul-escuro são mais frios e os vermelhos, mais quentes que a média em 1971-2000. A mudança cumulativa dá um salto. O mundo está cerca de 1ºC mais quente do que quando esta publicação era jovem. 

A capa da edição de setembro de 2019 da revista The Economist 

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Representar esse período como um conjunto de faixas pode parecer reducionista. Foram anos com guerras mundiais, inovação tecnológica, comércio em escala sem precedentes e uma criação surpreendente de riqueza. Mas essas histórias complexas e as faixas simplificadoras compartilham uma causa comum. A mudança climática e o notável crescimento dos números e riquezas humanas surgem a partir da combustão de bilhões de toneladas de combustível fóssil para produzir energia industrial, eletricidade, transporte, aquecimento e, mais recentemente, computação. 

Que a mudança climática afeta tudo e todos deve ser óbvio – e os pobres têm mais a perder. Menos óbvio, mas de importância igual, é que, porque os processos que forçam as mudanças climáticas estão incorporados nos fundamentos da economia mundial e da geopolítica, as medidas devem ser igualmente abrangentes e inclusivas. Cortar emissões não é simples; requer revisão quase completa. Para alguns, incluindo muitos dos milhões de jovens que fizeram greve climática global, a reforma exige nada menos que castrar ou extirpar o capitalismo. O sistema cresceu com uso crescente de combustível fóssil. E a economia de mercado fez pouco para ajudar. Quase metade do CO2 extra foi lançada na atmosfera após a virada dos anos 1990, quando cientistas alertaram e governos prometeram agir. Concluir que a mudança climática significa agrilhoar o capitalismo é prejudicial. Economias de mercado criam a resposta necessária. Mercados competitivos adequadamente incentivados e políticos que atendam à sede popular por ação podem fazer mais do que qualquer outro sistema para limitar o aquecimento evitável e lidar com o que não se pode evitar. 

É importante entender tudo o que a mudança climática não é. Não é o fim do mundo. A humanidade não está à beira da extinção. O planeta não está em perigo. É antigo, resistente e sobreviverá. E, embora muito possa se perder, a maior parte da vida que torna a Terra única, até onde astrônomos podem dizer, persistirá. É uma ameaça terrível para inúmeras pessoas, de alcance planetário. Deslocará dezenas de milhões, no mínimo; perturbará fazendas das quais bilhões dependem; secará poços e tubulações; inundará áreas baixas – e, depois, as mais altas. É verdade que criará algumas oportunidades, ao menos no curto prazo. Mas quanto mais a humanidade demora para cortar emissões, maiores os perigos e mais escassos os benefícios – e mais risco de surpresas catastróficas.

Não é só um problema ambiental ao lado de todos os outros – e absolutamente não pode ser resolvido pelo autoflagelação. A mudança por parte dos mais alarmados não é suficiente. É uma questão para todo o governo. Não pode ser desviado para o ministro que ninguém conhece. Não pode ser adiado por algumas décadas. Está aqui e agora. Já torna eventos extremos, como o furacão Dorian, mais prováveis. Suas perdas já estão presentes – em paisagens monótonas onde geleiras morrem e em recifes desbotados. Um atraso significa que a humanidade sofrerá mais danos e enfrentará luta bem mais cara para compensar o tempo perdido.

Juntos. O que se deve fazer já está entendido. E uma tarefa vital é a especialidade do capitalismo: melhorar a vida das pessoas. A adaptação, incluindo defesas marítimas, usinas de dessalinização e culturas resistentes à seca, custa caro. Um problema em particular para países pobres, sob risco de ciclo vicioso em que impactos climáticos roubam a esperança de desenvolvimento. Acordos internacionais enfatizam a necessidade de apoio a países mais pobres nos esforços para se adaptar à mudança climática e enriquecer o suficiente para precisar de menos ajuda. Aqui o mundo rico se esquiva de deveres. 

Mesmo se os cumprisse, de modo algum todos os impactos serão resolvidos. Quanto mais a mudança climática avança, menos a adaptação é capaz de compensá-la. Isso leva à necessidade de cortar emissões. Com melhorias tecnológicas plausíveis e investimento, é possível criar redes de eletricidade sem centrais emissoras de CO2. O transporte rodoviário pode ser eletrificado, embora </DC>seja mais difícil para viagens longas e aéreas. Processos industriais podem ser reequipados. Os esforços hoje, frouxos demais para evitar que o mundo esquente de 2°C ou até 3°C, podem ser aprimorados. Forçar empresas a revelar vulnerabilidades na questão climática ajudará investidores a alocar capital. Um preço robusto para o carbono poderia incentivar inovações. Mas, por mais poderosa que seja essa ferramenta, o corte em emissões que ela traz precisará ser acelerada por regulamentos bem direcionados. O problema com essas políticas é que o clima responde ao nível geral de CO2 na atmosfera, e não à contribuição de um país. Se um governo reduz drasticamente suas emissões, sem que os outros o façam, não verá danos diminuídos.

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O dano depende da resposta humana nas próximas décadas. Se o espírito empresarial que primeiro usou o poder de combustíveis fósseis na Revolução Industrial sobreviver, os países onde ele mais prosperou devem estar dispostos a transformar o maquinário da economia sem renunciar aos valores a partir dos quais a economia nasceu. Alguns dizem que o amor do capitalismo pelo crescimento inevitavelmente o põe contra um clima estável. Esta publicação acredita que estão errados. Mas a mudança climática pode, apesar de tudo, ser a sentença de morte para a liberdade econômica. Se o capitalismo quiser manter seu lugar, deve estar preparado para isso. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

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