No e-mail, Felipe compartilhava a primeira viagem que havia feito na vida - de Fortaleza a São Paulo para o show de uma banda que gostaria de ver. Descreveu cada momento, desde sua entrada no avião até o que sentiu ao conhecer o Ibirapuera ou andar pela Paulista. Felipe me contava detalhes de São Paulo que nem eu, que moro aqui, percebia mais que existiam. Era um olhar deslumbrado e de encantamento de um viajante. Aquela sensação que faz com que voltemos pra casa pensando na próxima viagem.
Assim que terminei de ler e responder o e-mail de Felipe, vejo a postagem de uma famosa blogueira de viagem americana, Kate McCulley do blog Adventurous Kate, anunciando que pararia de viajar por um tempo porque cansou. O stress e ansiedade apareceram e ela atribui isso à vida de viajante nômade que leva há cinco anos. "Eu venho lutando contra a ansiedade pela primeira vez. Tem sido difícil e mudou a minha personalidade. Tenho ficado irritada e me arrastado para fazer qualquer coisa que seja fora do normal. E isso afeta o meu trabalho duramente. Eu não conseguia nem escrever essa newsletter", disse Kate em um e-mail enviado aos seus leitores.
Eu não tenho uma vida nômade como a da Kate, mas já consigo entender a sua decisão. Não tem nada pior para um viajante do que cansar de viajar, perder o brilho nos olhos ao chegar num lugar novo ou o frio na barriga do pré-embarque. É como se a vida perdesse o próposito que ela tanto buscou. A sensação que dá quando Kate diz que vai parar por um tempo e voltar para sua cidade nos Estados Unidos, é de que ela precisa se recolher para resgatar sua vontade de viajar novamente. O que Kate mais quer agora é voltar a viajar como Felipe. Se encantar.
Esse não é o único caso que conheço. No mundo dos blogs e jornalistas de viagem é comum ouvir histórias parecidas e pouco divulgadas. Afinal, tem muita gente vendendo a ideia pronta (e ganhando dinheiro) de que feliz mesmo você será quando largar tudo e sair viajando. Muitos, de fato, são felizes; outros só vendem a ideia.
O que eu aprendi com as minhas viagens e as histórias que ouço por aí é que, nem sempre, quem viaja mais viaja melhor. Eu não me importo com quantos países eu conheço, não fico contando e não estou preocupada em riscá-los da lista. Até desisti da minha bucket list porque prefiro deixar a vida me levar para onde posso e tenho vontade naquele momento. Adoro a minha vida semi-nômade. Às vezes viajo, às vezes fico em casa. Também não tenho o menor problema em voltar para lugares que gostei para viver novas histórias.
Isso tudo são escolhas e vontades pessoais. E, nesse momento, prefiro estar no lugar do Felipe, que viajou para um lugar e se encantou, do que Kate, que viajou o mundo e se cansou.
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