PORTO - Com 800 quilômetros de atrações de norte a sul, estradas que incomodam pela perfeição e indicadores de segurança invejáveis até para os vizinhos ricos,
é uma espécie de campo minado das atrações turísticas do hemisfério norte ocidental. Essa “Disneylândia” da história do povo europeu também é um desbunde para o estômago e para o fígado, mas como tudo que é bom na vida, reserva um desafio: o planejamento da viagem.
Tem quem ame o trabalho de produção de viagem, com a escolha de onde estar e dormir, os detalhes das atrações para visitar e a arte sutil que envolve organizar, desorganizar e voltar a arrumar as malas para sempre seguir em frente – sem deixar para trás um pé de chinelo, um carregador de celular e outras quinquilharias que a gente adora (e nem sempre precisa) levar pelo caminho. Eu odeio esse processo.
Em meio a essa adversidade, surgiu a ideia de alugar um motorhome, um trailer ou, como eles dizem por lá, uma autocaravana. E foi imaginando a liberdade de passar a noite onde quiser, como e com quem quiser e até cozinhar debaixo de um ponto turístico bacana que vi despertar um lado selvagem cosmopolita novo, numa ideia que de pronto pareceu tão genial a ponto de sumir com todas as demais opções de minha mente.
O primeiro caminho, claro, foi sondar o preço dessa aventura. Pesquisei veículos, campings e, para um mínimo de preparação, consegui uns desses livros de viagem com os passeios e as dicas dos profissionais versados em Portugal.
PRIMEIROS PASSOS
A primeira surpresa agradável foi que um motorhome, para sete dias, sairia mais ou menos o mesmo que o valor de um hotel mediano para quatro estadias: em torno de 1,5 mil euros (R$ 6.600). A segunda novidade, arrebatadora, viria com os pontos de pernoite. Portugal, como quase toda a Europa ocidental, tem parques gratuitos para o estacionamento dos veículos, com toda a estrutura para higienizar e recarregar o veículo com água tratada. Existem, imagine só, até aplicativos que se integram ao GPS do celular e fornecem a localização desses estacionamentos ao longo do percurso, ao estilo do Waze ou do Google Maps. Sucesso.
Uma vez que o mercado de motorhomes na Europa é um ramo economicamente pujante, criou-se por lá um ecossistema complexo de empreendimentos e, para o consumidor, um nicho com serviços estruturados. Dito isso, é fácil localizar algumas dezenas de sites para locação de veículos no buscador do Google. A maior parte é de empresas que se assemelham às tradicionais locadoras de carros que temos por aí, com modelos para muitos bolsos, gostos e, aparentemente, uma frota robusta no estoque durante as quatro estações do ano.
A regrinha básica da economia é que a demanda alta gera a oferta vasta. Em Portugal, a oferta é tão abundante que chega a confundir um viajante não versado no tema, como eu. Encontrei certa complexidade em avaliar naquele oceano de oportunidades aquela que seria adequada para o propósito estabelecido. Como não tinha tempo a perder, abandonei o caminho da especialização, fui até o site do
e digitei: autocaravana + Portugal. Bingo.
O AirBnb já há algum tempo tem buscado diversificar seu modelo de negócios e, para além dos imóveis tradicionais, aposta no que denomina “experiências” para o viajante. Nesse contexto, hoje oferece barcos, iates, passeios de balão e, como supunha, motorhomes.
Depois de me certificar cuidadosamente de que a minha
habilitação de motorista tipo B
, a mais simples para carros, era suficiente para tocar o bruto pela geografia sinuosa lusitana, peguei os livros de viagens e, em pouco mais de uma hora, defini o esboço do passeio. Isso me custou caro, literalmente: os pontos não planejados quase me fizeram estourar o orçamento.
PLANO DE VIAGEM
O plano da viagem: sair do norte do país e ir o máximo possível para o sul, reservando um dia para retornar. Se sobrasse tempo, daria seta para o leste e atravessaria a fronteira para encarar um cozido de carnes variadas acompanhado por sangria na Praça de Touros Monumental de Las Ventas, em Madri, capital espanhola. Por isso, refinei a busca e acrescentei a cidade de Porto, preservando as cercanias onde nasceu o escritor Eça de Queiroz como começo e fim da aventura.
Autocaravana alugada, a própria dona do veículo se encarregou de fazer uma apólice de seguro para eventuais acidentes – o que custou 100 euros (R$ 440). Com a passagem para o Porto em mãos, peguei uma mala grande, coloquei dentro todas a quinquilharias que gosto e não preciso e atravessei o Oceano Atlântico por 10 horas, sentindo-me como uma espécie de bandeirante do avesso, um paulista desbravando Portugal, com todos os avanços tecnológicos que esses 500 e poucos anos produziram para aventureiros de apartamento. O resultado está nas próximas páginas, no diário de bordo.
SAIBA MAIS Estrada:
as vias principais têm pedágios (portagens). Em alguns, é preciso pegar o papel em uma cabine para pagar depois, de acordo com a distância percorrida. O site
ajuda a fazer o cálculo de gastos com pedágios e combustível.
Úteis:
o app
, reúne lugares para parar o motorhome na Europa. O site
também tem boas informações.