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Descobertas recentes revolucionam conceitos e impressionam o mundo

Senhor de Sipán e Senhora de Cao lideraram cultura mochica e, agora, entram para rol de atrações turísticas

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Por Agencia Estado
Atualização:

Foram necessárias décadas de dedicação e determinação, com recursos escassos e apoio governamental limitado. Mas o esforço valeu a pena. A arqueologia peruana superou obstáculos e levou ao resto do mundo descobertas que revolucionaram os conceitos da história pré-colombiana e se tornaram marcos na busca pelo passado. Apesar de não faltarem atrações arqueológicas na costa do país, pelo menos dois casos merecem destaque: o Senhor de Sipán, cuja tumba foi descoberta em 1987, e a Senhora de Cao, que foi encontrada em 2005 e virou celebridade mundial com a divulgação, ocorrida há apenas alguns meses. Ambos foram batizados em homenagem aos locais onde foram encontrados e lideraram a cultura mochica em períodos diferentes. O primeiro, até por ter sido descoberto há mais tempo, já ganhou notoriedade. Trata-se da tumba de um líder espiritual e político, recheada de tesouros e artefatos que narram uma história de mais de 1.700 anos - a tumba é comparada, pelos peruanos, à do faraó egípcio Tutancâmon. São jóias, roupas, cerâmicas, utensílios domésticos e bélicos que ajudam a dar uma idéia da força ostentada por um dos impérios do antigo Peru que antecederam os incas. A prova de que se tratava de uma autoridade importantíssima para aquela civilização é que, junto do Senhor, foram enterrados outros oito corpos, de sua mulher, amantes, criados e guerreiros, que se sacrificaram para acompanhá-lo na vida eterna. Só o conteúdo da tumba preenche quase todo o Museo de las Tumbas Reales de Sipán (Av. Juan Pablo Viscaya y Gusman, s/nº; abre de terça a domingo, das 9 às 17 horas. Entradas a 10 soles ou R$ 6,30), inaugurado em 2002 e situado em Lambayeque, a 10 minutos de Chiclayo. O restante do acervo - uma parcela relativamente pequena - se refere ao conteúdo de outras tumbas encontradas no mesmo sítio arqueológico, como a de seu ancestral, o chamado Velho Senhor de Sipán, e a de um sacerdote do povo mochica. Algumas peças foram trazidas ao Brasil, no fim do ano passado, para uma exposição na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em Lambayeque está exposta também a ossada do Senhor de Sipán, cuidadosamente recuperada. Os restos foram esmagados depois que o imenso caixão de madeira no qual ele foi enterrado se decompôs. O mais curioso quando o assunto são as tumbas de Sipán é que a descoberta foi, na verdade, uma grande obra do acaso. Em 1987, um grupo de arqueólogos tentava recuperar o que havia restado de um túmulo saqueado por ladrões de tesouros no Complexo Arqueológico de Huaca Rajada, a 35 quilômetros de Chiclayo. Sem procurar, eles se depararam com a tumba de Sipán. O líder do grupo, o arqueólogo Walter Alva, conta que dentro do caixão de madeira no qual o Senhor estava enterrado havia 400 peças, entre roupas, colares e artefatos usados por ele. ?Sipán foi um grande impacto na arqueologia peruana. Antes disso, não havia um interesse nacional na arqueologia como vemos hoje?, afirma o pesquisador. Múmia Peruana A descoberta do Senhor de Sipán encanta pela riqueza e importância do líder mochica, mas a Senhora de Cao também não deixa a desejar. A primeira surpresa está no fato de se tratar de uma múmia, descoberta em uma cultura que não tinha o hábito de embalsamar seus mortos. Ela conserva as unhas, os cabelos, os dentes, a pele e tatuagens por todo o corpo. Descoberta no sítio arqueológico de El Brujo, a cerca de uma hora da cidade de Trujillo, a Senhora de Cao morreu entre os 25 e os 30 anos e teve pelo menos um filho. Até hoje, não se sabe o que causou sua morte, mas a explicação para o fato de seu corpo ter sido conservado é mais simples. No momento do funeral, ela foi pintada com um pigmento de cinabre (sulfato de mercúrio) e envolta em mantos de algodão. Isso, combinado ao clima seco do deserto peruano, impediu a decomposição. Mas, mais do que isso, a descoberta surpreendeu pelo fato de se tratar de uma mulher. ?Tudo indica que ela foi uma líder desse povo?, diz o arqueólogo responsável pela descoberta, Régulo Franco. A suspeita, se confirmada, serve como prova de que a civilização mochica colocou uma mulher no poder, apesar de as evidências encontradas até agora sugerirem que essa era uma civilização dominada pelo sexo masculino. A Senhora de Cao ainda não ganhou seu próprio museu e seu corpo encontra-se cuidadosamente guardado no laboratório de seu descobridor, no complexo de El Brujo. Mas a promessa é que, nos próximos meses, seja liberada a visitação ao local onde seu corpo foi encontrado.

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