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Entre lhamas, alpacas e vulcões no Parque Lauca

Camelídeos são encontrados por toda parte dentro do parque, que não tem porteiras ou ingresso, mas guarda belezas de sobra

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Lhamas, alpacas e guanacos: os camelídeos são as estrelas do Parque Nacional Lauca Foto: Thiago Lasco/Estadão

Toda simpática, a lhama é a criatura mais pop do grupo. Pelagem fofa como a de um poodle que acabou de sair do pet shop, um sorriso de canto de boca que parece saudar o visitante. A alpaca também tem o corpo recoberto de lã e, por isso, o mesmo aspecto gorducho – mas o pescoço e o focinho são mais curtos. A vicunha é a mais delicada de todas: compacta, delgada, quase uma prima do Bambi de Walt Disney. O guanaco fica no meio do caminho entre a alpaca e a vicunha - é o único que tem a cara preta. 

Depois de um dia inteiro no Parque Nacional Lauca, com as explicações de um bom guia, fica fácil entender quem é quem. O contato com esses animais, todos membros da família dos camelídeos, está entre as experiências mais marcantes da visita. Da janela do carro, o zoom da câmera nem sempre consegue capturar os detalhes dos bichos que surgem ao redor da estrada. Mas há vários trechos, como nas ruínas do povoado de Parinacota, em que é possível avistá-los bem de perto, pastando ou bebendo água em lagos. E, de perto, eles são ainda mais adoráveis.

O Lago Chungará, com 15 m², pode estar parcialmente congelado, dependendo da época do ano Foto: Thiago Lasco/Estadão

Mas há mais para ver. A paisagem é dominada pelo Lago Chungará, de cerca de 15 km² de extensão, com águas em tom esmeralda que podem estar parcialmente congeladas, a depender da época do ano. Ao seu redor, impõem-se dois vulcões gêmeos, Parinacota (cujo cume, a 6.340 metros, é o ponto mais alto do parque) e Pomerape, sempre cobertos de neve. Em uma das extremidades, o lago deságua em várias pequenas lagoas, cercadas por rochas vulcânicas, as Lagunas Cotacotani. Mais de cem espécies de aves, de gaivotas e taguas até flamingos cor-de-rosa, podem ser vistas por ali.

O Lago Chungará desagua em várias lagoas, cercadas por rochas vulcânicas: as Lagunas Cotacotani Foto: Thiago Lasco/Estadão

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Portas abertas

É um cenário contemplativo, que pede uma degustação demorada – o que não combina com bate-volta. Até porque, a 4.590 metros de altitude, é preciso entender e aceitar que o corpo passa a funcionar em outro ritmo. Com o ar mais rarefeito, o fôlego fica curto; se você tentar se movimentar na velocidade de sempre, vai se sentir como se estivesse correndo uma maratona.

A mais de 4.500 metros de altitude, o Parque Lauca exige calmana visita: para contemplá-lo como se deve, e para não ficar com falta de ar Foto: Thiago Lasco/Estadão

O parque se espraia por uma área de 138 mil hectares, sem fronteiras delimitadas ou cobrança de ingresso. A partir de Putre, são pouco mais de 30 km de distância. Você vai percorrendo a Carretera 11, rumo à fronteira com a Bolívia e, de repente, sem maior aviso, surgem os vulcões e o lago à sua esquerda.

A estrada que percorre o Parque Nacional Lauca tem alguns mirantes onde é possível estacionar para admirar o Lago Chungará e os vulcões Parinacota e Pomerape Foto: Thiago Lasco/Estadão

O caminho tem alguns mirantes onde se pode estacionar com segurança e apreciar a vista. Eles são a única estrutura para o visitante: não há sinal de banheiro, lanchonete ou posto de gasolina por perto - por isso, é preciso trazer tudo o que é necessário para passar o dia. Os guias sabem disso - e vêm prevenidos.

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Com casas de pedra talhada e astral mochileiro, a rústica Putre é o que San Pedro de Atacama foi 20 anos atrás Foto: Thiago Lasco/Estadão

Vocação mochileira

Putre não é mais que um punhado de ruas. Algumas casas de pedra talhada, uma praça, o posto bancário que faz as vezes de casa de câmbio. San Pedro de Atacama também era assim há 25 anos – pelo menos é o que garantem os que frequentavam o vilarejo antes de ele se transformar em destino concorrido.

Ao lado dos dois únicos hotéis do povoado de 2 mil habitantes, há vários albergues. Vale registrar que Putre foi um dos poucos lugares em todo o meu giro pelo norte do Chile em que encontrei outros viajantes – todos com o mesmo perfil, de mochileiros interessados em destinos de aventura.

As melhores compras da viagem são xales e ponchos. Os de lã de alpaco são os mais nobres - e caros: custam cinco vezes mais que as peças de lã de ovelha Foto: Thiago Lasco/Estadão

Em frente à praça, uma loja vende xales, ponchos, cachecóis e pashminas feitos com lã de diversos tipos. A mais nobre é a de alpaca: fina como seda e, ao mesmo tempo, com maior resistência térmica, o que garante proteção contra os ventos gelados que cortam Lauca. A título de comparação, enquanto um poncho de lã de ovelha custa 18 mil pesos (pouco mais de R$ 100), uma peça similar de alpaca chega a 95 mil pesos (R$ 560).

Especialidade de Putre, no Chile, o cuadril de alpaco é preparado na wok com molho de ostra, tomate e cebola roxa, como o lomo saltado dos peruanos Foto: Thiago Lasco/Estadão

Jantar à moda local

A especialidade culinária da região é o cuadril de alpaco. Isso mesmo: enquanto as alpacas fêmeas fornecem lã para agasalhos, os machos vão para a panela. Na receita local, a carne é cortada em escalopinhos, preparada com tomate, cebola-roxa, coentro e molho de ostra e servida com arroz e batatas fritas – exatamente como os peruanos fazem o conhecido lomo saltado.

Ainda que não tenha a mesma maciez da versão com filé mignon, o prato é saboroso. Mas é preciso ter sangue frio para devorá-lo depois de ter visto todos aqueles bichinhos vivos e felizes pelo parque.

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