O que poderia parecer um paradoxo, é na verdade uma história de sucesso e exemplo de cidadania. Goiás Velho está quase pronto e poderá ser reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. A cidade de Goiás, ou Vila Boa de Goiás, como era chamada em seus primórdios, passa por uma reforma politicamente correta, por iniciativa de um grupo de cidadãos que quer tombá-la para o mundo. Por providencial atendimento a recomendações da Unesco, está sendo necessário recuperar a cidade em aspectos fundamentais para que ela possa subir ao pódio dos marcos da nossa civilização: precisa esconder a fiação sob suas centenárias ruas; tratar o esgoto e despoluir o rio Vermelho, além de reciclar o lixo. Mas os trabalhos ainda vão além disso. Goiás nasceu arraial no tempo das bandeiras, em plena corrida do ouro tupiniquim. Fundada por Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera, em 1726, a cidade sempre respirou religião, aventura, culinária e poesia. Antiga capital do Estado, a 144 km de Goiânia, foi cenário das viagens de Saint-Hillaire e inspiração para a mais doce de nossas poetisas, Cora Coralina. Como quase tudo que é público, ficou um tanto esquecida. Até que um grupo de notáveis, apaixonados visitantes e moradores, sob o comando de dona Brasilete Caiado, tomou as dores de Goiás. O Movimento Cidade de Goiás Patrimônio da Humanidade trabalha dia e noite para evitar o crime da deterioração histórica, arquitetônica e cultural de Vila Boa. O jornalista Washington Novaes e o ambientalista Cícero Blay prepararam o projeto de tratamento de lixo. A cidade será um modelo: 100% do lixo será tratado e reciclado. O investimento na usina, que deverá entrar em operação no segundo semestre, será de de R$ 2 milhões, com recursos dos governos federal e estadual. Em outro projeto, está a esperança de voltar a ver limpo, em bem pouco tempo, o rio Vermelho, que ajuda a compor o cartão postal da cidade. Desde a época do garimpo, as águas recebem todo o tipo de sujeira. Mas agora, está sendo concluída a estação de tratamento de esgoto, a um custo de R$ 22 milhões, dinheiro do estado de Goiás. Para devolver às fachadas do centro histórico um aspecto mais original, a fiação elétrica e telefônica será subterrânea. O projeto está em fase de licitação e deve sair por R$ 5 milhões. Tudo isso não é pouco e também não é só. O movimento pretende incrementar o turismo e outras atividades econômicas na região. E vão contar com a ajuda de ex-sem-terra para esse programa. O município de Goiás é recordista em assentamentos, com mais de 600 famílias em propriedades cedidas pelo governo. A idéia é incentivar a produção de alimentos que são utilizados pela renomada e inesquecível culinária local. Hoje, quase tudo tem de ser importado de outras freguesias. O projeto obedece ao moderno conceito de "rastreabilidade", explica o vice-presidente do movimento Leonardo Rizzo. É um levantamento, seguido de incentivos e assessoramento, para que o município produza dos insumos ao produto final. Do empadão goiano ao artesanato. A Unesco pode decidir pelo tombamento de Goiás em dezembro ou, talvez, em março. Mas já no dia 22 de julho, quando todos os anos a cidade volta a ser a capital goiana, um proposta de plebiscito será apresentada à população. O povo vai decidir se Goiás Velho deve voltar a ser chamado de Vila Boa. Nada mais justo.