Nem praias, patrimônio histórico ou ecoturismo - tem um tipo de turista que viaja centenas, milhares de quilômetros, só para jogar golfe, de preferência em regiões onde pode experimentar vários campos, que propiciam diferentes desafios. E engana-se quem pensa que o esporte continua restrito à alta sociedade. É claro que a modalidade segue como uma das preferidas pela elite, mas com a construção, nos últimos anos, de campos que não exigem que o praticante seja sócio, mais e mais brasileiros vêm descobrindo o esporte. Os números provam isso. De acordo com a Confederação Brasileira de Golfe (CBG), de 1999 para cá, os golfistas no Brasil passaram de 15 mil para 20 mil, dos quais perto de 25% são mulheres. "Em dez anos, o País pode ter 200 mil praticantes", acredita a vice-presidente de Desenvolvimento da CBG, Christiane Teixeira. Ela diz que algumas ações poderiam popularizar um pouco mais o esporte em solo verde-amarelo, como a modalidade tornar-se esporte olímpico e o País ter um jogador de destaque internacional, como ocorreu no tênis com Gustavo Kuerten. Mas não se pode negar que o surgimento de campos construídos em resorts e em condomínios imobiliários, principalmente depois de 98, além dos driving ranges (locais para treinamento e aperfeiçoamento das tacadas), contribuíram para o segmento prosperar ainda mais no País. Dos 105 espaços oficiais que o Brasil tem hoje, 30 estão em empreendimentos hoteleiros ou imobiliários. Praia do Forte e Itacaré, na Bahia, mais Fortaleza e Natal, vão ganhar seus complexos nos próximos anos. Os clubes - que cobram alto pelo título ou que só aceitam associados por indicação - ainda são maioria, mas não têm sido construídos nos últimos dez anos. Filão- De olho no filão, a Embratur já tratou de incluir o golfe como um dos 11 produtos turísticos para divulgar o País no exterior. Em parceria com a CBG e com os hotéis e resorts que contam com campos para o esporte, o órgão mantém o Bureau Nacional de Turismo de Golfe, que realiza seminários para mostrar a infra-estrutura brasuca aos operadores internacionais, além de trazê-los para conhecer e experimentar os vários campos espalhados pelo País. Depois de trabalhar com os mercados francês e português - em novembro, os italianos serão os novos alvos -, a iniciativa já produz resultados: a In Golfe, uma das maiores operadoras portuguesas do segmento, vai trazer, até o fim do ano, 250 turistas para o Comandatuba Ocean Course, campo de 18 buracos junto ao luxuoso hotel Transamérica Ilha de Comandatuba, na Bahia. Mas a Embratur não tem uma estimativa de quantos estrangeiros poderão vir para cá unicamente por causa do esporte. "O importante é ressaltar que o golfe agrega valor ao turismo de sol e mar brasileiro e ainda nos diferencia de destinos concorrentes", diz o diretor de Turismo de Lazer e Incentivo do instituto, Airton Pereira. Gastadores- Batalhar a vinda do golfista estrangeiro faz todo o sentido, já que, por causa de seu alto poder aquisitivo, esse turista gasta quatro vezes mais que o viajante comum. Segundo dados da CBG e da Embratur, dos 80 milhões de praticantes no mundo, 13 milhões estariam dispostos a viajar ao exterior com o intuito principal de jogar. Com uma renda média anual superior a US$ 45 mil, o esportista está disposto a pagar mais de US$ 200 por diária de hotel, além de outros US$ 200 em compras e refeições nos bares e restaurantes de onde se hospeda. Numa conta simples, o praticante de golfe deixa cerca de US$ 5 mil, incluindo os extras, no complexo que visita, levando em conta sua permanência média de pelo menos dez dias no destino. Outro dado interessante dá conta que os golfistas preferem lugares em que possam usufruir de mais de um campo, enfrentando diferentes terrenos e desafiando os hazards, que no "golfês" significam obstáculos de água ou areia. Isso coloca a Bahia em vantagem, já que o Estado conta com três campos de alto padrão: o Golf Links, na Costa do Sauípe, e o Comandatuba Ocean Course, no Transamérica Ilha de Comandatuba, além do Terravista Golf Course, parte de um complexo em Trancoso que inclui ainda um village do Club Med. Inaugurado em junho, o empreendimento também ganhará um hotel voltado aos adeptos do esporte no começo de 2006. "Haverá loja de artigos de golfe e as refeições serão servidas em horários diferenciados, já que os praticantes costumam almoçar bem tarde. Enfim, o golfista encontrará nesse hotel todo o conforto que exige", explica o presidente do Terravista, Michael Rumpf-Gail.