Crianças de Belford Roxo foram torturadas por traficantes, aponta polícia do Rio

Operação deflagrada nesta quinta-feira prendeu suspeitos de ligação com o caso que causou repercussão em dezembro do ano passado. Assassinato de meninos teria sido motivado por furto de passarinhos

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Por Marcio Dolzan
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RIO - A Polícia Civil do Rio prendeu na manhã desta quinta-feira, 9, 16 suspeitos em uma operação para finalizar o inquérito que apura o desaparecimento e morte dos meninos Lucas Matheus, de 9 anos, Alexandre da Silva, de 11, e Fernando Henrique, de 12. O crime aconteceu em dezembro do ano passado, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e teria sido cometido por traficantes da  Favela do Castelar. Os corpos das vítimas, assassinadas após tortura, apontaram investigações policiais, nunca foram encontrados.

Representantes da Polícia Civil concederam entrevista coletiva nesta quinta-feira, 9, para detalhar a operação deflagrada em Belford Roxo. Investigadores dizem que garotos foram torturados por traficantes locais Foto: Polícia Civil

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Ao todo foram cumpridos 31 mandados de prisão. Desses, quinze suspeitos já estavam na cadeia. Os outros dezesseis foram presos pelos policiais civis na comunidade onde o crime ocorreu. De acordo com as investigações da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), os meninos foram mortos porque, supostamente, furtaram passarinhos na favela. Há quase um ano as famílias dos garotos fazem campanha em busca de uma explicação para o sumiço das crianças.

Ao todo, cerca de 250 policiais da DHBF, do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), do Departamento-Geral de Polícia da Baixada (DGPB) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) participaram da ação. Os meninos desapareceram em 27 de dezembro de 2020, quando saíram juntos para brincar. Eles foram vistos em uma feira, em um bairro próximo de casa. Imagens de câmeras de segurança e testemunhas confirmaram ter visto os garotos circulando no local.

Tortura matou a primeira vítima no Castelar

Segundo o jornal O Globo, os meninos foram para a feira de Areia Branca por volta das 13 h daquele dia, com duas gaiolas com pássaros. Uma delas pertenceria a um parente de um dos traficantes que dominam a região. As crianças, porém, chegaram sem as gaiolas. Não se sabe se venderam os pássaros, mas voltaram ao Castelar. Foram capturados pelos criminosos, que, por causa do suposto furto, os espancaram e torturaram.

Um dos meninos  não resistiu e morreu durante as agressões. Os outros dois foram mortos pelos traficantes. Os corpos foram jogados em um rio da região, segundo as investigações.

Cinco pessoas teriam participado diretamente dos crimes. Três teriam sido mortos por criminosos furiosos com a repercussão do crime, que atraiu a polícia.

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Os suspeitos mortos eram José Carlos dos Prazeres Silva,  o Piranha, apontado pela Polícia como um dos chefes locais do tráfico; Willer Castro da Silva, o Stala, suposto “gerente” do tráfico da comunidade; e Ana Paula da Rosa Costa, a tia Paula, também suspeita. Os outros dois envolvidos estão desaparecidos. Policiais suspeitam que também tenham sido mortos. As mortes teriam sido ordenadas pela cúpula da facção criminosa que domina a região.

Falso suspeito das mortes dos meninos acendeu alerta

As suspeitas da Polícia sobre a participação de traficantes do Castelar no desaparecimento das crianças se acentuaram em janeiro. Foi quando criminosos da comunidade sequestraram e torturaram um homem, para que confessasse o crime. Os bandidos apresentaram o “suspeito”, supostamente envolvido em pedofilia, às famílias das vitimas  como responsável pelo desparecimento.

A ação criminosa fez a polícia suspeitar de uma tentativa do tráfico de fabricar um bucha ou robô – um falso culpado -, para afastar de si as investigações. O homem foi levado à 54ª D. P. (Belford Roxo) por moradores do Castelar. Mas a polícia não encontrou provas de que tivesse envolvimento no caso dos três meninos. /Colaborou Wilson Tosta

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