Após cinco anos fora do palco, Lilia Cabral volta ao lado da filha em teatro online

Atriz e Giulia Bertolli estreiam ‘A Lista’, na segunda temporada do projeto ‘Palco Instituto Unimed BH em Casa’

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Por Camila Tuchlinski
Atualização:

Apesar de sentir a ausência das reações e dos aplausos da plateia, Lilia Cabral se rendeu ao teatro online e está de volta, após um hiato de cinco anos, com a peça ‘A Lista’, de Gustavo Pinheiro e direção de Guilherme Paiva. Depois de quarenta anos de carreira, esta será a primeira vez que a atriz divide a cena com a filha, Giulia Bertolli. A montagem, que será transmitida nesta quinta-feira, 5, às 20h30, pela internet, faz parte do projeto ‘Palco Instituto Unimed BH em Casa', que está na segunda temporada. “Eu estava sedenta de pisar no palco, porque estava fazendo muito cinema, novela e não tinha mais tempo. Então, estar no palco, mesmo sem plateia, a gente tem que pensar: ‘É isso que eu tenho. E graças à Deus estou aqui”, declarou a atriz em entrevista ao Estadão.

A atrizLilia Cabral e a filha, Giulia Bertolli, em 'A Lista' Foto: Ricardo Brajterman

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‘A Lista’ conta a história da aposentada Laurita, interpretada por Lilia Cabral, que mora sozinha em um apartamento, em Copacabana, no Rio de Janeiro, evitando se contaminar com o vírus que assolou o mundo da noite para o dia. A jovem Amanda (Giulia Bertolli) é quem abastece a casa da vizinha. O encontro das duas desencadeia um turbilhão de sentimentos, lembranças e descobertas.  Em maio, quando elas receberam o texto da peça, ninguém imaginava que o novo coronavírus durasse tanto tempo. “Tudo o que a gente pensava era: ‘Como vamos adaptar esse texto, pois em setembro, outubro, novembro as coisas estarão diferentes. E não estão, né? (risos). A gente tinha muito cuidado para não deixar tão evidente a história da pandemia. Se bem que isso é só um pano de fundo para contar sobre a solidão dos dois personagens”, afirma. Isolada com o marido e a filha desde o início, Lilia Cabral percebe que usou o período de quarentena para ressignificar, inclusive, a carreira. “O teatro me ajudou a resgatar uma coisa muito legal que é o começo da vida profissional. Agora (na pandemia), não tinha mais as pessoas ao redor fazendo as coisas. Quando a gente começa, vai lá e carrega o cenário, a roupa. Isso é o reconhecimento do que é o nosso ofício através de uma atitude muito simples. Então, isso me ajudou muito. Eu e toda a equipe estávamos pensando da mesma forma, como se tivéssemos 20 anos de idade, iniciando a nossa vida. Comecei a dar valor às coisas simples”, reflete.  Além da reflexão, durante uma arrumação em casa na quarentena, Lilia Cabral achou alguns diários que escrevia quando tinha 15 anos de idade. “Eu adorava escrever, achava até que ia ser jornalista, mas gostava mais de me exibir”, brinca. Ao reler aquelas páginas escritas na juventude, sentiu vontade de colocar os sentimentos no papel novamente e percebeu o quanto precisava voltar para a terapia. “Reescrevendo me deu vontade de procurar a minha analista. Eu tinha parado de fazer análise por muito tempo em função do trabalho. Então, pensei que poderia entender melhor sobre a minha vida e o meu momento”, diz a atriz, provando que autoconhecimento é para toda a vida.

Assista ao vídeo:

Com mais de quarenta anos de televisão e teatro, o rosto e a atuação de Lilia Cabral já fazem parte da nossa memória cultural afetiva. Na pandemia, a atriz marcou presença em, pelo menos, quatro reprises de novelas na TV Globo e no canal Viva até agora: Fina Estampa, A Força do Querer, Laços de Família e Chocolate com Pimenta. “Quando soube que ia reprisar, foi uma surpresa! Quando a gente está fazendo o trabalho, sou muito crítica. Se vejo que uma cena não deu certo, fico sem dormir, sou muito detalhista. E no momento da produção, é ‘matar um leão por dia’. Agora, depois de tanto tempo, quando assisto, é um relaxamento e um prazer imenso”, confessa. Ao voltar ao teatro, não foi difícil para Lilia criar um vínculo de primeira com Laurita: “Conheço bem esse personagem. Não exatamente essa mulher de Copacabana, mas eu sou paulista e sei esse caminho de algumas pessoas que, depois de uma certa idade, ficam viúvas. Elas vão jogar bingo, fazem um bolinho toda quinta, se reúnem, fazem crochê. Vivi muito isso com as minhas tias, com os meus familiares. Não que eu tenha carregado isso comigo, mas a memória afetiva a gente não esquece”. ‘A Lista’ terá transmissão ao vivo, de graça, às 20h30, pelos canais do YouTube do Sesc em Minas e do Teatro Claro Rio, e também pelo canal 530 da Claro TV. A produção do espetáculo seguirá todos os protocolos e recomendações relacionados à prevenção da covid-19, como a restrição do número de profissionais a trabalho, rigor no controle de circulação nas dependências do teatro e a medição da temperatura de todos os profissionais antes do acesso. Sobre o futuro das artes no pós-pandemia do novo coronavírus, Lilia Cabral analisa que o teatro online veio para ficar: “Muita coisa mudou e que ninguém imaginava que iria acontecer. Você, diante de três ou quatro câmeras, interpretando para uma plateia que não existe, mas você sabe que está lá, que está em vários lugares do Brasil e até fora. No começo, eu mesma cheguei a questionar: ‘Será que o que a gente vai fazer é teatro?’. E a resposta é sim. Se tem uma pessoa na plateia, já é teatro”. Para ela, os artistas têm papel imprescindível daqui para frente. “Faz bem pra nós e pra quem está assistindo. As pessoas não deixam de se emocionar e a gente quer que elas tenham um momento de alegria, relaxamento. E quanto mais a gente puder divulgar, estamos levando cultura a um país. É importante educar as crianças desde pequenas a gostarem de arte. É esse o caminho e não podemos esmorecer”, conclui.

Serviço: ‘A Lista’, peça que abre a segunda temporada do projeto “Palco Instituto Unimed-BH em Casa”Quando: Quinta-feira, 5 de novembro, às 20h30Onde: Transmissão simultânea, ao vivo, pelos canais no YouTube do Sesc em Minas e do Teatro Claro Rio e pelo Canal 530 da Claro TV. Entrada franca

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