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Lilia Cabral contracena com a filha em peça sobre mulheres isoladas na pandemia

Texto de 'A Lista' foi escrito para ser apresentado online, em 2020, e agora, em teatro com plateia, personagens ganham novas camadas

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Por Ubiratan Brasil
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Lilia Cabral e a filha, a também atriz Giulia Bertolli, trilhavam caminhos distintos e nunca se cruzaram em um palco. “Até comentávamos de fazer algo juntas, mas o projeto nunca saía do papel”, conta Lilia que, ao entrar em cena neste sábado, 12, no Teatro Renaissance, não apenas vai estrear oficialmente a peça A Lista como consolida também seu primeiro encontro cênico com Giulia. “Sim, encontro é a principal característica desse trabalho”, comenta a jovem atriz. Afinal, foi o isolamento forçado pela pandemia da covid-19 que deu o empurrão que faltava – no início de 2020, Lilia encerrou um projeto artístico, assim como Giulia Bertolli. Cada uma planejava o próximo passo quando o lockdown manteve as duas no mesmo apartamento, no Rio, sem perspectivas imediatas. “Como todo mundo, ficamos inicialmente sem ação”, relembra Giulia.

Cena da peça 'A Lista', de Gustavo Pinheiro, com Lilia Cabral e Giulia Bertolli Foto: Bob Sousa

Ao saber que as atrizes estavam juntas, o dramaturgo Gustavo Pinheiro propôs que as duas encenassem um texto que escrevia para o projeto Teatro Já, criado em junho de 2020 com a finalidade de permitir que a classe teatral conseguisse se exercitar, ainda que diante de câmeras que transmitiam online e em um teatro com a plateia praticamente vazia. “Eram apenas os responsáveis pelas três câmeras e alguns convidados, que aceitaram assistir presencialmente, para que o teatro não ficasse completamente vazio”, recorda Lilia. “Ainda havia muito medo, não tínhamos vacina e a solução mais prudente era o completo afastamento.” O projeto privilegiou monólogos já encenados, mas A Lista, texto afinal escrito por Pinheiro, além de inédito, trazia duas intérpretes.

A atriz Giulia Bertolli que estáno elenco do espetaculo 'A Lista', com direção de Guilherme Piva. Foto: Taba Benedicto

“Adoramos quando Gustavo nos convidou, pois iniciamos um processe criativo em conjunto, que permitiu que finalmente eu e Giulia trabalhássemos juntas no teatro”, comenta a atriz. Os ensaios começaram em julho de 2020, as atrizes distantes do diretor – e a estreia ocorreu em setembro. “Chegar ao teatro vazio foi como entrar em uma bola de ar”, compara Giulia.A Lista traz Lilia no papel de Laurita, uma aposentada trancada em seu apartamento em Copacabana, temendo se contaminar pelo vírus que obrigou o mundo a se isolar. Para ajudá-la nas tarefas diárias, Amanda (Giulia) recebe uma lista de compras a serem feitas no supermercado que vão abastecer a casa da vizinha.

A atriz Lilia Cabral estáno elenco do espetáculo 'A Lista', com direção de Guilherme Piva. Foto: Taba Benedicto/Estadão

“São duas mulheres que também vivem fechadas intimamente”, explica Lilia. “Laurita é uma professora que se aposentou depois de lecionar durante 35 anos. Sua vida se resumiu a isso e agora ela busca alternativas para respirar um pouco melhor.” “Já Amanda é uma mulher ainda mais fechada, muito séria, dura nas atitudes, politicamente correta e se incomoda com as incorreções de Laurita”, completa Giulia, que se vê muito diferente da sua personagem. “Ela é muito defensiva, mas, do encontro entre essas mulheres, vai nascer uma variedade de sentimentos como afeto, medo, soberba, segurança e insegurança, enfim, sensações pelas quais passamos durante toda a pandemia.”

Cena da peça 'A Lista', que estreia em São Paulo,de Gustavo Pinheiro, com Lilia Cabral e sua filhaGiulia Bertolli Foto: Bob Sousa

Para a montagem online, Gustavo Pinheiro escreveu um texto cuja encenação durava cerca de 45 minutos. Para a apresentação com público, no entanto, ele precisou acrescentar outras camadas na história. Descobre-se, por exemplo, que Laurita esconde um passado misterioso com uma filha, com quem mantém agora uma relação estremecida. “O curioso é que Laurita, com seu jeito, amolece Amanda que, em resposta, a incentiva a ligar para a filha”, diz Giulia. “São três momentos vividos na peça”, comenta o diretor Guilherme Piva. “Além do passado e do presente, há um terceiro que mostra um futuro utópico, que deixa a trama mais aberta na compreensão do espectador.”

Estátua de Carlos Drummond de Andrade soltária durante o réveillon, no Rio de Janeiro. Foto: Wilton Junior/Estadão

Em sua montagem, Piva destaca o bairro de Copacabana, onde se passa a história e que praticamente se torna também um personagem. “É uma região muito peculiar do Rio de Janeiro, pois, embora afamada no mundo todo e com uma boa parcela de moradores mais velhos, é também descuidada, maltratada mesmo.” Um dos símbolos do bairro, a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, cujos óculos foram furtados inúmeras vezes, estará presente para representar a região. “E com óculos”, brinca Piva que, a partir de uma lista de compras, desperta em duas mulheres um ciclo de emoções.

A Lista Teatro Renaissance Alameda Santos, 2.233. Sáb., 20h30. Dom., 18h.  R$ 100. Estreia 12/3. Até 12/6.

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