Mostra de documentários coloca o palco no protagonismo

‘Entre Realidades e Ficção’ exibe 16 filmes de seis países sobre o trabalho de artistas e suas criações

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colunista convidado
Por Leandro Nunes
Atualização:

Durante os anos 1990, ruas, hotéis e praças de Nova York receberam diversos espetáculos da companhia Dar a Luz, dirigida por Reza Abdoh (1963-1995). Foi em Minamata que o cineasta Adam Soch conheceu o artista iraniano. A montagem narrava a história do desastre biológico provocado pela contaminação por mercúrio da população da vila japonesa, em 1956. Foram milhares de mortos, além das vítimas com paralisia e problemas neurológicos. “Foi chocante ver como ele criou aquelas figuras no palco e mostrou a movimentação frenética das pessoas contaminadas”, explica o diretor que produziu o documentário Reza Abdoh – Visionário do Teatro, exibido na Entre Realidades e Ficções, mostra realizada no Sesc Consolação.

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Soch conta que se tornou amigo de Abdoh e passou a trabalhar com ele na criação de projetos visuais da companhia. A curta trajetória, interrompida pela aids, não impediu que Abdoh deixasse seu legado. “O documentário reúne cenas dos espetáculos, bastidores e entrevistas que gravei na época.”

Este é um dos recortes feitos pela organizadora da mostra, Márcia Abujamra. Na lista de trabalhos que retratam a carreira de artistas ou companhias, há duas produções brasileiras, como Evoé, com depoimentos sobre o diretor do Teatro Oficina Zé Celso e com direção de Tadeu Jungle e Elaine César, e O Teatro Segundo Antunes Filho, dirigido por Amilcar Castro e que retoma a vida e obra do diretor do Centro de Pesquisa Teatral (CPT). Márcia explica que o fazer teatral inspirou de maneira diversa o olhar do cinema documentário. “Há trabalhos que abordam um processo de criação em particular ou os bastidores de um espetáculo.” 

Evoé. Tadeu Jungle construiu um retrato cinematográfico sobre Zé Celso Foto: ELAINE CESAR|DIVULGACAO

Nessa categoria está Moscou, com o grupo Galpão, documentário de Eduardo Coutinho, que desafiou a companhia a montar, em três semanas, a peça As Três Irmãs, conduzida por Enrique Diaz. Já em 12 Libaneses Furiosos, a libanesa Zeina Daccache implementou um projeto de teatro na prisão de Roumieh. Durante 15 meses, 45 detentos adultos trabalharam para apresentar uma adaptação de 12 Homens e Uma Sentença. O filme venceu o prêmio da categoria no Festival Anual de Cinema Árabe, em 2010.

Márcia acrescenta que há produções que desfrutam da performance presente em alguns trabalhos para dialogar ainda mais profundamente com as obras. O grupo alemão Rimini Protokoll, que esteve em São Paulo neste ano, durante a 3.ª Mostra Internacional de Teatro, realizou um documentário de maneira simultânea com o espetáculo. Em A Conferência do Clima, a companhia convidou 650 membros da plateia para participar de uma assembleia sobre questões sustentáveis. “Nesse caso, o documentário reforça o caráter performático da obra e cria uma grande tensão entre o real e a ficção.” Durante a mostra, o cineasta Evaldo Mocarzel vai realizar uma oficina com foco no trabalho de companhias teatrais da cidade, como Teatro da Vertigem e Os Fofos Encenam. 

ENTRE REALIDADES E FICÇÕES. Sesc Consolação. R. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000. Dias 2, 3, 8 e 9/6. Vários horários. Grátis.

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