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Empreendedores sofrem com ‘áreas de risco’ para entregar nas periferias

Apesar de cobertura nacional, serviço dos Correios não chega a todas as periferias e dá prejuízos a pequenos negócios; estatal diz seguir mapa de órgãos de segurança

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Por Redação
Atualização:

O e-commerce só cresceu na pandemia, atingiu o maior número de vendas da história e acumulou R$ 53 bilhões no primeiro semestre deste ano, segundo o relatório Webshoppers 44, da Ebit/Nielsen e do Bexs Banco. Ainda assim, pequenos empreendedores acumulam prejuízo ao depender dos serviços dos Correios para entregar seus produtos, vendidos pelas redes sociais ou por sites de comércio eletrônico.

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Moradora do bairro de Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, e dona de uma loja de roupas no Instagram, a empreendedora Marcia Sales conta que em pouco tempo de negócio já sofreu prejuízos nas entregas dos Correios. Por morar em área dominada pela milícia, antes mesmo de criar o empreendimento, Marcia já sofria para receber mercadorias compradas online. “Quase não recebia minhas encomendas, a maioria eu precisava retirar na unidade (central) com atraso.”

Desde 2019, quando a loja Satiro Company foi criada, cerca de 90% das encomendas são entregues pelos Correios, sendo 10% retirados pelo cliente no ateliê ou enviados por serviços como Uber Flash, quando o local é próximo - o que não abrange toda a clientela de Marcia.

Por estar numa região considerada “área de risco” pelos Correios, o trajeto de entrega para o cliente é comprometido desde o começo, e nas contas da empreendedora isso já custou em média 35% de prejuízos à empresa. 

A empreendedora Marcia Sales toca a loja Satiro Company desde 2019, no Rio. Foto: Arquivo pessoal

“Pela demora, o cliente pedia devolução antes mesmo de o produto chegar. Para cerca de 30% a 40% dos envios da loja, existe a necessidade de retirada por parte do cliente. Mas muitos não querem retirar, pois acham um absurdo pagar e ainda ter que buscar, acham que é nossa culpa! É difícil explicar muitas vezes”, diz Marcia, que integra um contingente de 93% dos negócios do Brasil formado por micro e pequenas empresas, segundo o Mapa de Empresas do Ministério da Economia, divulgado neste mês.

Mesmo empreendedores que não são periféricos também sofrem prejuízos por não conseguirem fazer as encomendas chegar a todos os clientes. Dono da empresa paulista Chá & Cia, o empreendedor Landelino Pereira comenta que para ele as áreas com maiores barreiras de entrega são algumas regiões do Rio e a zona leste de São Paulo.

“A capital fluminense é um problema. Você vai um pouco para a zona norte, a Baixada Fluminense, aí fica por Deus mesmo. A eficiência é muito baixa. São Paulo tem algumas regiões, principalmente, na periferia. Na zona leste é muito complicado, aparece do dia para a noite lá (no site dos Correios) que é área de risco. Discrimina assim na cara dura o coitado do consumidor.” 

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Indagada pela reportagem sobre a delimitação dessas áreas de risco, a assessoria dos Correios informou que há localidades com condição de entrega “diferenciada” por não apresentarem condição de segurança “favorável aos trabalhadores, clientes e encomendas”. 

Ainda disse que essas áreas de entrega são estabelecidas com base em “levantamentos realizados pela área de segurança dos Correios, tendo como referência o mapa de risco fornecido pelos órgãos de segurança pública e pela incidência de assaltos a veículos de carga da empresa”.

Na resposta, a assessoria também salientou que essa delimitação é feita periodicamente, mas não quis se manifestar sobre ações ou estatísticas dos mapeamentos durante a pandemia.

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Para o empreendedor Landelino, além de o serviço não se estender a todos os bairros, em alguns casos o prazo de entrega também prejudica a relação com o cliente. “Quando o cliente entra no site, vê uma data de entrega. Se o produto não chega, ele reclama e nós procuramos os Correios. Aí você vai ver que estenderam o prazo com a desculpa de ‘área de risco’. Se tem uma área de risco, eles acrescentam mais sete dias e, às vezes, essa área de risco não estava anunciada no momento da venda”, diz ele, segundo quem essas barreiras diminuem em 10% a receita do seu negócio.

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