Irã determina produção de urânio enriquecido a 20%

Ahmadinejad afirma que ordem não significa renúncia de seu país à negociação sobre instalações nucleares

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Atualização:

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, determinou à agência nuclear do país que eleve a 20% o grau de enriquecimento do urânio iraniano. A orientação, transmitida neste domingo pela TV estatal iraniana, surge em meio a discussões entre Teerã e o Ocidente sobre uma proposta da Organização das Nações Unidas (ONU) pela qual o Irã exportaria urânio para enriquecimento em outros países.

 

Durante reunião com autoridades iranianas, Ahmadinejad dirigiu-se ao chefe do programa nuclear do Irã, Ali Akbar Salehi, e ordenou que o país comece a enriquecer urânio a um nível mais alto. "Salehi, comece a produção (de urânio enriquecido) a 20%", disse o presidente. Ahmadinejad não estabeleceu uma data para o início da produção.

 

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A comunidade internacional teme que o urânio venha a ser utilizado pelo Irã para a produção de armas nucleares. Teerã, no entanto, afirma que seu programa tem fins pacíficos. Atualmente, o Irã usa centrífugas para enriquecer urânio a até 4,5% para uso em sua primeira usina nuclear, que está sendo construída com auxílio da Rússia e que deverá iniciar operações ainda este ano.

 

O pronunciamento de Ahmadinejad coincide com o convite do Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, para que a comunidade internacional se una para pressionar o Irã a abandonar seu programa nuclear. Em conversa com jornalistas durante um tour de uma semana pela Europa, Gates afirmou que "se a comunidade internacional se juntar e pressionar" o Irã, "acredito que ainda há tempo para que as sanções funcionem".

 

Ele recusou a ser mais específico sobre os tipos de sanções que tem em mente, mas explicou que o foco seria pressionar o governo em Teerã, e não afetar as pessoas. Em seu comentário na TV estatal, Ahmadinejad disse: "Se Deus quiser, o enriquecimento a 20% começará" para atender às necessidades do Irã.

 

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O Reino Unido também se mostrou preocupado com os planos do Irã. Em pronunciamento divulgado pelo Escritório de Relações Exteriores, em Londres, a porta-voz do Ministério disse que os "relatos de que o Irã está planejando enriqueceu parte de seu combustível para o nível de 20% são claramente um motivo de séria preocupação".

 

O Irã e o Ocidente têm discutido um plano da União Europeia, sob o qual os iranianos exportariam seu urânio pouco enriquecido para que o processo fosse finalizado em outro país. O plano da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês) foi desenhado no início de outubro, em um encontro em Genebra entre o Irã e seis potências do mundo. Foi revisto no fim daquele mês em Viena, durante discussões entre Irã, Estados Unidos, Rússia e França.

 

O encontro de Viena resultou em um rascunho de proposta que tiraria 70% do urânio pouco enriquecido do Irã, com objetivo de reduzir seu estoque do material, evitar maior enriquecimento e, consequentemente, a possibilidade de fabricação de armas nucleares. Esse urânio retornaria um ano depois, refinado de maneira que serviria para reatores de energia, mas não para fabricação de armas.

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Ahmadinejad havia sinalizado, na semana passada, uma possível mudança em sua política, dizendo que estaria pronto para exportar urânio para enriquecimento no exterior. Ele chegou a afirmar que o Irã "não teria problemas" com o plano. Os comentários de hoje, entretanto, parecem justificar o ceticismo acerca da possibilidade de que seus comentários de terça-feira iam ao encontro dos líderes mundiais.

 

Hoje, Ahmadinejad não mencionou seu anúncio anterior sobre o tema, dizendo apenas que o Irã continua preparado para "interação" com o Ocidente a respeito de fornecer combustível para o Irã "sem condições". Mas o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast, comentou hoje que o enriquecimento no grau de 20% para utilização nos reatores de Teerã está dentro do direito do país, como um membro da IAEA. O enriquecimento de urânio será conduzido sob a supervisão da IAEA, disse. As informações são da Associated Press e da Dow Jones.

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