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Passado da Antártida se perdeu com o fogo do Museu Nacional

Pesquisa do Museu Nacional revelou que, há 50 milhões de anos, havia floresta em vez de gelo

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Foto do author Roberta Jansen
Por Roberta Jansen

RIO - Uma das mais importantes e exclusivas pesquisas desenvolvidas no Museu Nacional – e que pode estar completamente perdida – é sobre a pré-história da Antártida. Há dez anos, um grupo de paleontólogos da instituição fazia visitas periódicas ao continente gelado em busca de fósseis. Entre as peças mais importantes achadas estava um fragmento de fóssil de plesiossauro, um monstro marinho que viveu há 80 milhões de anos.

Há dez anos, paleontólogos da instituição faziam visitas periódicas ao continente Foto: FABIO MOTTA/ESTADãO

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“Uma parte da última coleta que fizemos na Antártica, no ano passado, estava no laboratório de preparação de fósseis, que fica no prédio anexo e não foi atingido”, conta a paleontóloga Juliana Sayão, que coordenou as últimas três expedições à Antártida e passou a madrugada de segunda-feira em claro, vendo o museu em chamas. “Mas fora isso, tudo indica que perdemos boa parte do material, dez anos de pesquisa. Não tenho palavras.” 

A pesquisa de fósseis pré-históricos na Antártida é especialmente complexa por condições climáticas. “Só para chegar já é uma dificuldade enorme, poucos grupos no mundo inteiro escavam lá. É uma área muito rica em fósseis”, explicou a pesquisadora. “O material que nosso grupo coletou nesses anos serviria de base não apenas para as nossas pesquisas, mas também de outros sobre como era a Antártica no passado.”

Na primeira parte do projeto Paleoantar, a equipe do paleontólogo Alexander Kellner, atual diretor do museu, passou 37 dias acampada na Ilha de James Ross. Embora fique na Península Antártica, é bem distante da Ilha Rei George, onde ficava a estação brasileira que pegou fogo no ano de 2014. Por isso, a logística da expedição era ainda mais complexa, uma vez que os pesquisadores tinham de ficar acampados. 

Ainda assim, o grupo conseguiu escavar nada menos que uma tonelada e meia de troncos de árvores pré-históricas – um deles com mais de 4 metros de comprimento, que estava em exibição no Museu Nacional. Em uma das últimas incursões, o grupo levou mais de 7 toneladas de equipamentos e mantimentos para ficar acampado durante 45 dias.

Floresta frondosa

As pesquisas brasileiras na Antártida foram cruciais para revelar que, sob a camada de, em média, três quilômetros de gelo que recobre o continente, estão preservadas provas fósseis de que, no passado, a região abrigou uma floresta tropical frondosa e animais gigantescos. “E era banhada por um mar de extrema riqueza de animais”, diz Juliana. 

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Os estudos também ajudaram a estabelecer em que momento a Antártida se separou da América do Sul, há cerca de 32 milhões de anos, e a entender as mudanças climáticas em curso. Há até 50 milhões de anos, um clima bem ameno predominou na Antártida e favoreceu o crescimento de grandes árvores, com folhas de até 10 centímetros, e portanto, de animais, entre eles dinossauros, e, posteriormente, mamíferos marsupiais. “Perdemos não apenas o material fóssil em si, mas o conhecimento de uma região sobre a qual ainda se sabe pouco”, diz Juliana.

Havia árvores até 4,5 milhões de anos

A Antártida era unida aos demais continentes, na Gondwana, por isso tinha clima temperado, era verde e cheia de animais. A separação só ocorreu há 32 milhões de anos, quando uma corrente fria passou a circundar a Antártida, isolando-a e resfriando-a. As últimas árvores desapareceram há 4,5 milhões de anos.

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