PUBLICIDADE

Em nova montagem, ‘Ensina-me a Viver’ atualiza a história da senhora que faz cabeça de um jovem

Dirigido por João Falcão, espetáculo tem Nívea Maria como a respeitável octogenária Maude Chardin

Por Dirceu Alves Jr.
Atualização:

A personagem Maude Chardin é uma octogenária alto-astral e de bem com a vida criada pelo roteirista e escritor americano Colin Higgins (1941-1988) em 1971. O sucesso do filme Ensina-me a Viver, protagonizado por Ruth Gordon (1896-1985), gerou um livro e, no formato de peça, escrita pelo mesmo Higgins, estreou na Broadway em 1980, ganhando montagem brasileira com a atriz Henriette Morineau (1908-1990) no ano seguinte.

Na cabeça de seu criador, Maude nasceu no final do século 19 e, de acordo com as novas intérpretes que a abraçaram ao longo do tempo, adentrou pelo século 20, conferindo novos traços à sua personalidade irreverente.

Arlindo Lopes e Nívea Maria estrelam juntos apeça 'Ensina-me a Viver'. Foto: Lucio Luna

PUBLICIDADE

A mais recente delas no Brasil, pelo menos até agora, tinha sido a da atriz Glória Menezes, que, aos 73 anos, estrelou a bem-sucedida montagem dirigida por João Falcão em 2007 - que, por cinco anos ininterruptos, foi aplaudida por 850 mil espectadores. Em cena, junto de Glória, o ator Arlindo Lopes, idealizador do projeto, representou Harold, um jovem de 19 anos, incapaz de se adequar ao mundo à sua volta, que se encanta com a energia daquela carismática senhora e descobre o quanto a vida pode ser prazerosa.

Com a chegada de Ensina-me a Viver ao Teatro Porto, no dia 19, uma nova Maude está sendo conhecida, desta vez, por conta da atriz Nívea Maria, de 75 anos. Ao seu lado, o mesmo Lopes, hoje com 43 anos, se encarrega de Harold, e a direção dessa montagem continua a cargo de João Falcão. Só que, segundo Lopes, quase nada é igual à encenação anterior, e as novidades vão desde a criação de diferentes figurinos e elementos do cenário até as orientações de Falcão ao elenco, que inclui outros sete atores. “Existe um conceito de modernização da história e todos os personagens ganharam releituras”, avisa Lopes. 

A mais explícita delas deve ser percebida em Maude. A personagem, desta vez, é uma mulher nascida no começo da década de 1940, que foi adolescente ao som do rock de Elvis Presley, virou adulta em meio à efervescência política dos anos de 1960 e aproveitou o clima paz e amor do movimento hippie e da liberação sexual.

Arco-íris

Dessa forma, Maude chega aos 1980 com uma longa cabeleira grisalha, roupas extravagantes, defende o feminismo e levanta a bandeira do arco-íris. “Maude viveu as experiências, às vezes dolorosas, de uma geração que lhe deu suporte para entender as dificuldades do mundo”, explica Nívea. “Por isso, ela exibe hoje um senso de humor e uma objetividade que tem a ver comigo e com boa parte dos amigos.” 

Publicidade

Mesmo Harold, o garoto melancólico e pouco apegado à vida, que assusta a mãe (interpretada por Susana Ribeiro) simulando a própria morte, passou por transformações. 

O crescente número de casos de depressão e suicídios envolvendo adolescentes, principalmente depois da explosão das redes sociais e da pandemia do coronavírus, ressignificou o perfil do rapaz. “Esse comportamento se espalhou, os jovens estão mais fechados em seu próprio mundo e, muitas vezes, vivem claustrofóbicos, superprotegidos pelos pais”, adverte Lopes. “Tanto que a mãe do Harold, que era feita pela Ilana Kaplan e, agora, é a Susana, surge como uma mulher medicada, que atropela o filho o tempo inteiro e pode ser a fonte dos seus problemas.” 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.