Agronegócio vê janelas de oportunidade para o Brasil com tarifaço de Trump

Avaliação de membros do governo e representantes do setor é de que pode haver aumento de embarques de produtos brasileiros para México, Canadá e China

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Atualização:

BRASÍLIA - A imposição de tarifas pelos Estados Unidos sobre produtos importados do México, do Canadá e da China pode abrir “janelas de oportunidade” para a exportação de produtos agropecuários brasileiros a estes países. A avaliação é compartilhada por membros do governo e por representantes de entidades do agronegócio ouvidos pelo Estadão/Broadcast.

As tarifas confirmadas no último sábado pela Casa Branca passam a valer a partir desta terça-feira com majoração de 25% sobre produtos importados do Canadá, à exceção de recursos energéticos, e de 10% adicionais sobre bens importados da China. Sobre os produtos importados do México, as tarifas de 25% devem entrar em vigor em um mês, após negociação bilateral entre os países.

Trump assinou ordens que impõem tarifas de 25% sobre Canadá e México, e taxa de 10% sobre os produtos chineses; medidas entrarão em vigor na terça-feira, 4. Foto: Mandel Ngan/AFP

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Para a China, já estava dado como certo no setor e no governo eventual redirecionamento de compras chinesas de soja e milho americano para o Brasil. Há expectativa também de impacto na exportação de carnes brasileiras. Segundo interlocutores, no momento, a China está cautelosa nos posicionamentos, sem escalar o conflito comercial.

Em levantamento preliminar, a avaliação é de que pode haver possibilidade de aumento de embarques de carne suína tanto para o México quanto para o Canadá, até então fornecidas pelos Estados Unidos, em eventual movimento de resposta destes países às tarifas americanas. O Brasil pode se beneficiar também com eventual alta de exportações de suco de laranja e de café para o Canadá, observam as fontes ouvidas pela reportagem.

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Até o momento, o governo brasileiro não vê sinais quanto à imposição de tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Mas segue em “monitoramento contínuo”, segundo interlocutores. Neste caso, a preocupação recai sobretudo sobre exportações de café e da carne bovina brasileira.

Brasil fora da mira?

O Brasil acompanha os desdobramentos da política tarifária de Donald Trump sem novas sinalizações sobre uma eventual imposição de sobretaxas em produtos brasileiros. Embora no ano passado Trump tenha citado nominalmente o Brasil entre os países que “cobram muito” sobre as vendas americanas, até o momento, a estratégia do republicano indica que ele priorizou mirar nações com quem os Estados Unidos arcam com déficit comercial.

Como os EUA vendem mais do que compram daqui, integrantes do governo brasileiro têm argumentado desde o ano passado que o País não deveria ser alvo preferencial de Trump.

Especialistas apontam que o melhor para o governo brasileiro é adotar a discrição e procurar não ser “lembrado” por Trump, que explora momentos de instabilidade para conseguir o que quer dos países.

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No caso do Brasil, a balança comercial não deve ser um problema nem servir de justificativa para Trump aumentar as tarifas sobre o País, já que os brasileiros mais compram dos americanos do que exportam para lá. Em 2024, por exemplo, o Brasil registrou déficit de cerca de R$ 250 milhões nas trocas comerciais com os EUA. Trump já reclamou, por sua vez, que o Brasil cobra muito sobre as vendas dos Estados Unidos e que, por isso, poderia devolver o tratamento sobretaxando as importações brasileiras.

Mas o governo brasileiro também tem argumentos para afastar essa tese. Embora o Brasil imponha um imposto de importação médio de 11,2% sobre os produtos que chegam de fora - enquanto nos EUA esse patamar é de 3,3% -, o que desembarca dos americanos aqui é com frequência tributado abaixo da média ou sem nenhum imposto em função do perfil das compras.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast no fim do ano passado, a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Tatiana Prazeres, lembrou que, na prática, produtos muito relevantes para o Brasil no mercado americano têm tarifas altas, como é o caso do açúcar, da carne bovina e do aço. Enquanto isso, quase todo o segmento de eletrônicos que desembarca aqui praticamente não tem tributação.

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