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Em permanente mutação

Arquitetura efêmera em uma cidade eterna: a proposta de Frank Gehry para a Fundação Louis Vuitton

Por Marcelo Lima
Atualização:
Vista do edifíco a partir do Bois de Boulogne Foto: Marcelo Lima

Sediando museus, instituições culturais e espaços públicos em todo o mundo, as obras do arquiteto americano Frank Gehry dispensam maiores apresentações. Reconhecidos à distância por seu traçado arrojado e matérias-primas de ponta, seus edifícios provocam discussões sem fim entre os entusiastas da arquitetura. Atraem multidões de turistas, movimentam cifras milionárias e, claro, costumam gerar acaloradas opiniões. Prós e contras.

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Com a Fundação Louis Vuitton, inaugurada outubro passado em Paris, não poderia ser diferente. E as contradições começaram a aparecer bem antes da obra ser concluída. Mais precisamente, quando moradores da região norte do Bois de Boulogne, onde o prédio se situa, uma das mais arborizadas da cidade, conseguiram interditar a construção, sob o argumento de que a obra finalizada descaracterizaria a paisagem da secular área verde.

Após uma longa disputa judicial – e transcorridos 13 anos desde o início de sua construção –, eis que a gigantesca estrutura de vidro, imaginada por Gehry para integrar a já estrelada lista de monumentos da capital francesa, finalmente tomou corpo. E formas tão singulares que já disputam espaço com outros tradicionais locais de visitação parisienses. 

“Meu desejo foi conceber um edifício capaz de evoluir com o passar das horas e com a mudança das condições de luminosidade, sugerindo uma sensação de efêmero, de mudança contínua”, afirmou o arquiteto, laureado com o prêmio Pritzker de Arquitetura de 1989, que durante a inauguração da obra se declarou inspirado pela memória de Proust e pela leveza do vidro.

Inspirando-se em um navio – com grandes velas sugeridas por imensos painéis apoiados sobre torres de blocos brancos –, Gehry buscou sintonizar sua arquitetura com outros grandes monumentos da Cidade Luz, em especial com o Grand Palais. Na composição do complexo, que se estende por uma área total de 11 mil m², sendo 7 mil m² de uso público, a matéria vítrea reina soberana. Mas o uso da madeira e do aço nas estruturas também não deixa nada a desejar em termos de performance e inovação.

Em seus interiores, 11 galerias foram projetadas para receber a coleção de arte permanente da instituição e suas mostras temporárias. Há também um auditório com 350 lugares, instalações administrativas e numerosos terraços distribuídos por seus três níveis. Todos eles oferecendo vistas excepcionais de Paris, em especial para os arranha-céus de La Défense.

Circundando grande parte da construção, o jardim aquático do pavimento térreo traça a ponte entre a arquitetura avançada do prédio e seu bucólico entorno. E, nesse sentido, a escolha dos materiais expressa bem o ideal de integração perseguido pelo arquiteto desde suas primeiras obras. Sobretudo a abordagem revolucionária que o arquiteto dedica ao vidro: no total, foram utilizados nada menos do que 13.500 m² do material, empregados no desenvolvimento de painéis sob medida em uma fornalha exclusiva, apenas para cumprir fielmente os níveis de curvatura exigidos por Gehry.

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Como acontece com quase todas as obras que levam sua assinatura, viabilizar tanta criatividade exigiu altas doses de tecnologia. Nessa, em particular, a manipulação de um software de última geração empregado por uma indústria aeronáutica francesa foi decisiva. Apenas tal ferramenta permitiu a criação de formas tão complexas a ponto de justificarem a construção de protótipos em tamanho real. 

Única do ponto de vista construtivo, a obra de Gehry também é digna de nota no capítulo baixo impacto ambiental. Uma preocupação permanente, que teve início ainda nas primeiras fases do projeto, quando uma série de estudos detalhados sobre a fauna, a flora, as águas subterrâneas e os níveis de poluição sonora local tornaram possível adequar a obra aos rígidos parâmetros de controle ambiental exigidos pela legislação francesa.

Na fase de projeto, pela escolha criteriosa de materiais de baixo impacto. Na de implantação, pela redução do consumo de energia e, finalmente, uma vez com o prédio em funcionamento, com cuidados permanentes para se preservar os recursos naturais disponíveis, principalmente os hídricos.

A água da chuva, por exemplo, será recuperada e direcionada para sistemas de manutenção que não necessitem de água potável. Armazenada e filtrada, será usada principalmente para lavar as fachadas e os telhados de vidro do edifício. Nem o jardim aquático que circunda o edifício escapou: será utilizado para irrigar as áreas plantadas. No caso, sem maiores polêmicas.

 

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