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Melania Trump, Marcela Temer e a imagem da 'mulher enfeite'

Com a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, ganha força o estilo das primeiras-damas que dizem mais com roupas do que com palavras

Por Maria Rita Alonso
Atualização:
No discurso de posse do marido, Melania usou macacão branco da Ralph Lauren Foto: REUTERS/Mike Segar

O estilo “mulher de enfeite”, que se anula para acompanhar o marido em seus compromissos e conquistas, parece não fazer mais sentido no mundo de hoje. Não em um mundo no qual a mulher pode ser presidente de um país, liderar empresas, movimentos, ministérios e, sobretudo, sua própria vida, do jeito que bem entender. No mundo cosmopolita e globalizado, era enorme a expectativa de que hoje seria o dia de falar do estilo de Hillary Clinton, a mulher que chegou lá. Mas, no final das contas, Hillary não chegou. Deu Trump.

O que temos para hoje em termos de estilo feminino é o de Melania Trump, a nova primeira-dama americana. Ex-modelo, ex-símbolo sexual do leste europeu, Melania nasceu há 46 anos na ex-Iugoslávia, atualmente Eslovênia, mas fez carreira artística em Milão e Paris, antes de migrar para Nova York. O trabalho acabou lhe trazendo o aprendizado de várias línguas. Fala francês, alemão e inglês, mantendo ainda o sotaque esloveno.

Melania começou como modelona ex-Iugoslávia, atualmente Eslovênia. Na foto, ela com 17 anos em um dos seus primeiros trabalhos. Foto: REUTERS/Stane Jerko

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Estampou capas de revista masculinas, ensaios sensuais e posou nua antes de conhecer e casar com o bilionário norte-americano, em uma festa luxuosa em Palm Beach, que reuniu medalhões do jet set global. Na ocasião, em 2005, escolheu usar um vestido de alta-costura da grife francesa Dior, feito sob medida, e avaliado em mais de 100 mil dólares na época. Acabou sendo capa da Vogue América vestida de noiva.

Deixou os looks mais matadores e vulgares de lado e assumiu uma linha feminina e glamourosa, baseada em vestidos bem cortados, justos mas não curtos, que valorizam a sua silhueta curvilínea. Cabelos longos, naturais e bem cuidados emolduram o rosto. Nos pés, stilettos elegantes, que usa mesmo com seu 1.80 metro de altura. 

Desde que cometeu a gafe de repetir o discurso de Michele Obama, logo em sua aparição de estreia, Melania se recolheu da campanha, colocando-se como uma “outsider” da política, e assumindo a função de dona de casa. “Meu marido viaja muito. Meu filho precisa de alguém, então estou com ele todo o tempo”, afirmou recentemente, fazendo referência a Barron, de 10 anos. 

Esse papel rendeu avalanches de críticas à futura primeira-dama nas redes sociais. Seu último ato antes da vitória do marido foi justamente um discurso condenando o bullying digital. Disse ela, a cinco dias das eleições, que se Trump ganhasse iria “trabalhar para combater a cultura de ódio nas mídias sociais, que se tornaram um meio muito duro” e cheio de insultos, baseados em aparência e inteligência.

Em fevereiro de 2005 foi capa da Vogue America usando seu vestido de casamento. Foto: REUTERS/Mario Testino/American Vogue/Handout

As críticas que ouve ou lê na internet são mais ou menos as direcionadas no Brasil a Marcela Temer, que também não exerce profissão, vive para a casa e não foi top model, mas miss, antes de conhecer o marido político. É difícil lidar com a diversidade em vários aspectos e para ambos os lados: o cosmopolita e o conservador. A ver qual será o nível do debate em relação aos estilos de vida e às escolhas da mulher emancipada da atualidade.

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No primeiro passo em falso de Melania, quando repetiu as palavras de Michelle Obama, ela usava um vestido branco de uma estilista sérvia, Roksanda Ilincic. Estava com uma marca que tinha a ver com ela, um visual próprio interessante para uma aspirante a primeira-dama imigrante, mas seu discurso era roubado.

Na cerimônia em comemoração à vitória eleitoral, Melania mandou um recado ao aparecer com um outro modelo branco, dessa vez da marca Ralph Lauren, que vinha sendo usada insistentemente por Hillary Clinton durante toda a campanha. Tido como uma das referências mais emblemáticas da moda dos Estados Unidos, o estilista Ralph Lauren começou fazendo peças em jeans, inspirado no lifestyle do meio oeste. Mais tarde, ampliou seu leque de referências, apostando também em esportes populares do país e no estilo college.

 “A América agora é nossa”, afirmou Melania, usando a marca escolhida por Hillary para pedir votos. Foi uma provocação, ainda mais considerando o silêncio adotado por ela depois da grande gafe. É aquele negócio, as roupas às vezes conseguem dizer tudo, sem soltar uma só palavra.