A história da humanidade mostra que sempre questionamos as grandes mudanças, especialmente aquelas provocadas pela tecnologia. Isso aconteceu, por exemplo, na Revolução Industrial, quando as máquinas foram vistas com desconfiança, a princípio, mas aos poucos tornaram-se parte do cotidiano da sociedade. Uma reação similar, e natural, vem acontecendo a partir da popularização da inteligência artificial (IA).
Muita gente acredita que um admirável mundo novo se abriu, mas a verdade é que a IA já estava presente em nossas vidas há muito tempo. As plataformas do Google, como a Busca, o Gmail e o Google Maps, oferecem uma série de recursos que usam IA para tornar nossos produtos mais úteis. É verdade que, nos últimos meses, essa tecnologia mostrou a sua cara de um jeito novo, mais interativo e personalizado. De repente, a IA estava escrevendo poesia, apoiando o diagnóstico de doenças e ajudando as pessoas a serem mais produtivas.
Estou à frente da operação no Google há quase 13 anos e vi de perto muitas revoluções tecnológicas acontecerem e chegarem ao Brasil, como a popularização dos smartphones. Em 2016, nos posicionamos pela primeira vez como uma empresa AI-first e passamos a incorporar essa tecnologia em tudo o que fazemos. Essa revolução aconteceu de forma silenciosa, mas trouxe avanços importantes e benefícios para a sociedade.
A IA tem sido uma poderosa aliada para, por exemplo, identificar regiões sujeitas a inundações, da região amazônica ao Sul do país, e ajudar as pessoas a encontrarem informações atualizadas sobre sua região na Busca do Google e no Google Maps. É IA ajudando a prevenir desastres e a proteger pessoas.
Há muitos anos, temos usado IA para conectar empresas com consumidores na web. São ferramentas que ajudam de grandes companhias a pequenos lojistas que, hoje, já não precisam ser especialistas em marketing digital para alcançar novos clientes de forma mais eficiente.
A IA também tem o potencial de ajudar a combater as mudanças climáticas. No Rio de Janeiro, a CET-Rio está usando IA e tendências de tráfego de veículos no Google Maps para otimizar o funcionamento dos semáforos das cidades. Chamada de Green Light, essa iniciativa já opera em 70 cruzamentos em 12 cidades no mundo. Nossas análises indicam que a IA ajuda a reduzir paradas de veículos em até 30% e as emissões nos cruzamentos em até 10%. Em 2024, vamos expandir essa iniciativa e a próxima cidade é Campinas, no interior de São Paulo.
Esses exemplos mostram que a IA já é uma tecnologia consolidada e, conforme avança, vai ajudar cada vez mais as pessoas. E há muito mais por vir: olhamos para 2023 com entusiasmo ao saber que anos de esforços e pesquisa nessa área nos permitiram apresentar uma série de inovações em 2023, incluindo nosso experimento Bard, a experiência de IA generativa na Busca do Google e nosso maior e mais hábil modelo de IA, o Gemini.
Estamos começando a descobrir novos usos da IA e refletindo sobre o futuro. Em 2024, vamos seguir avançando de forma ousada e responsável. Ao mesmo tempo em que desenvolvemos tecnologias, continuamos dialogando com usuários, desenvolvedores, empresas, acadêmicos e autoridades. Assim, poderemos construir, juntos, salvaguardas para lidar com riscos à medida que a IA evolui.
O ano de 2023 é um marco na linha do tempo da tecnologia. Ele termina com avanços inéditos e uma certeza: a de que a inteligência artificial já está presente e gerando impacto positivo na vida das pessoas. Quando penso no futuro do Brasil e em todas as oportunidades que temos em áreas como educação, saúde e sustentabilidade, tenho a certeza de que a IA terá papel central nas soluções para os desafios que temos pela frente. Estou animado em participar desse momento e curioso para ver novas aplicações de IA surgindo nos próximos anos, inclusive, pelas mãos de brasileiros.
*Fábio Coelho é presidente do Google Brasil